quinta-feira, 29 de agosto de 2013

A CURVA DE CRESCIMENTO DAS DIVERSAS LINHAS DO PASTOR ALEMÃO

Há um só Cão de Pastor Alemão, mas dentro da raça, como sempre aconteceu, acontecem diferentes linhas de selecção, ligadas a predicados tão distintos como são o trabalho e a beleza. Os actuais cães de trabalho, mercê das alterações de estalão, devem mais aos cães recentes que aos ancestrais dessa categoria, apresentando uma curva de crescimento mais próxima ou igual à dos cães de exposição, o que nem sempre abona em seu favor e tem levado à sua substituição por exemplares doutras raças, nomeadamente pelo Malinois. A discussão sobre as diferentes linhas anda acesa por este mundo afora, sendo invariavelmente mais cardíaca que razoável e por conseguinte mais apaixonada que objectiva. Como há muito fizemos a nossa opção, não nos interessa alimentar polémicas, apenas revelar dados da nossa observação e experiência ao longo de quatro décadas, no intuito de mais valer a uns e a outros, para que todos melhor acompanhem o desenvolvimento dos seus cachorros, os compreendam por aquilo que são e não segundo tabelas ou modelos estereotipados que a uns beneficiam e a outros prejudicam.
Somos obrigados a reconhecer duas linhas, uma anterior aos cães Von Arminius e Wienerau, que aqui trataremos como “linha antiga” e outra advinda desses dois canis que trataremos como “linha moderna”, muito embora esta diferenciação não nos agrade de todo, porque sempre subsistiram entre os Pastores Alemães exemplares muito mais rampeados que outros, o que legitima os actuais numa mesma e só origem comum. E quem disso tiver dúvidas, depressa as sanará pelas fotos dos primeiros exemplares da raça, onde tal já era por demais evidente. Essa inclinação de garupa, caraterizada por uma excessiva convexidade dorsal, sempre esteve associada a costelas mais planas, ao desaprumo dos jarretes (jarrete de vaca), à menor abertura de peito, às mãos divergentes e ao abatimento dos metacarpos, o que pela disposição dos eixos, ontem como hoje, garante uma marcha solta e desenvolta, para a frente e nalguns casos extraordinariamente suspensa, factores que têm contribuído para a proliferação de exemplares mais leves e nalguns casos substancialmente mais pequenos, dentro de um estalão que ainda aceita beneficiamentos entre progenitores com 10cm e quase 20kg de diferença entre si, o que não elimina de imediato os indesejáveis exemplares pernaltos. Entretanto, não se pode dissociar o trabalho nas linhas de Walter Martin prá supressão da displasia coxo-femural e pró reforço da caracterização lupina destes pastores.
Os cães considerados de linha antiga, cuja diferença principal não é o tamanho, porque também entre eles abundam exemplares pequenos, são cães mais arredondados de costela e de dorso quase paralelo ao solo, com tendências ao selamento e com mais facilidade na transição dos andamentos naturais. Grande número deles ainda é flagelado pela displasia coxo-femural, muito embora raramente apresentem displasia do ombro, bolsas de líquido sinovial nos codilhos, dificuldades digestivas ou intolerâncias alimentares, fenômenos mais comuns nos cães tidos como de linha moderna, a quem a endogamia e consanguinidade não são alheias. Foi a linha antiga a responsável pelos louros grangeados pelos Pastores Alemães, enquanto cães de trabalho, mais robustos, resistentes e equilibrados. Os actuais cães de trabalho, pelo menos no papel, há muito que quebraram os laços de sangue com eles, o que nem sempre é verdade e é por demais evidente na morfologia de alguns, especialmente se forem lobeiros, pretos ou doutra variedade recessiva, uma vez que estas variedades cromáticas foram, durante demasiado tempo, desprezadas ou arredadas da criação pelos expositores da raça.
Aos exemplares provenientes dos beneficiamentos entre as duas linhas, prática exclusiva dos criadores que procuram cães de utilidade, se tem chamado de meia-linha. Esta opção, atendendo ao fim procurado, tem-se revelado a mais capaz, muito embora o cão ideal ainda esteja por chegar, aquele que juntará à extraordinária beleza a excelente capacidade de aprendizagem. Chegará mais cedo se o adestramento específico ruir, o que parece não tardar, ou se os critérios selectivos se alterarem, o que já está a acontecer face à excessiva consanguinidade presente nesta e noutras raças. Os cães tratados como de “meia-linha” seguem a curva de crescimento dos cães de exposição e não a encontrada nos seus progenitores de selecção mais antiga, o que só por si legitima a pureza das linhas actuais, uma vez que o regresso ao atavismo não as desconsidera, contrariamente ao que alguns continuam a afirmar pelos quatro cantos do mundo. Não obstante e reforçando o que já dissemos, os cães actuais, quando libertos do calvário que apenas compreende o “vai-vem” da boxe para o ringue e vice-versa, pelo aumento da massa muscular produzido pelo trabalho, tendem a amarrecar-se menos, diferindo dos mais antigos somente pelas angulações traseiras e particular das costelas, já que o seu dorso tende a nivelar-se pela linha do solo (o que para muitos é um tremendo contratempo), isto se não forem demasiado estreitos de peito, apresentarem mãos divergentes, significativo abatimento de metacarpos, descodilharem em marcha ou forem “naturalmente” famélicos ao ponto de espetarem os ossos. Quando isto acontece, é melhor deixá-los à vontade e entregá-los ao exercício da sua preferência, para que não agravem a sua frágil morfologia e vejam assim comprometida a sua saúde que já não é muita!
Nenhuma linha de selecção se pode gabar de só produzir bons exemplares, porque subsistem em todas elas indivíduos bons, maus, excelentes e medíocres, independentemente da sua genealogia ser mais ou menos chocalhada e das expectativas criadas à sua volta. Apesar das diferenças entre elas, todas se sujeitam ao mesmo estalão e perante ele são julgadas, mesmo que tenham diferentes curvas de crescimento como é o caso. Os actuais cães de exposição crescem mais rápido que os seus congéres de trabalho, podendo inclusive ver o seu peso aumentado, dos 2 para os 7 meses, cerca de 25% em relação a eles, mas aos 8 meses estão praticamente formados e pouco aumentarão de peso e altura, permanecendo no peso de estalão até aos 3 anos de idade. Se houver aumento de peso (o que é natural), ele dificilmente ultrapassará os 5%. Já os das selecções anteriores têm uma curva de crescimento mais alongada, alcançando ou ultrapassando os outros até aos 12 meses. Uns e outros irão respeitar tanto a altura quando o peso padronizados.
A que se deverá tal diferença? Basicamente à escolha das linhas e aos pressupostos selectivos de cada criador, ao diverso entendimento do cão desejável diante do fim procurado, pois se antigamente se desprezavam os cães de costela demasiado plana, hoje procura-se a sua proliferação. Os coeficientes de envergadura desejados passaram de 2 e de 1.8 para 2.2 e 1.9, respectivamente para fêmeas e machos, entrando algumas em ringue com 2.4 e machos com 2.2. Se no passado se procurava uma ossatura forte, agora tal é um entrave, atendendo à flexibilidade dos cães muito angulados, que mesmo sendo leves, sofrem horrores sobre os jarretes, já que a exagerada convexidade os sobrecarrega pelo atraso do ponto gravitacional. O crescimento acelerado dos actuais pastores, que é mais célere do que o verificado nos lobos silvestres, ao aproximar a maturidade sexual da emocional, dá aos adestradores menor espaço de manobra e poderá condicionar a capacidade de aprendizagem desses cães, assim como a sua recuperação morfológica, por vezes imperativa diante de desaprumos vários mercê de uma fase plástica menor. Contudo, deste modo se conseguiu eliminar o selamento do dorso, indesejáveis alterações morfológicas, maiores delongas no uso dos cães e alcançar a sociabilização sem maiores dificuldades.

Convém não esquecer que o estalão em vigor foi lavrado 13 anos antes da descoberta do genoma canino e que futuramente, tudo leva a crer, conseguiremos eliminar menos valias físicas sem suprimirmos as mais–valias psicológicas e cognitivas que engrandeceram a raça. A nossa referência às linhas antigas, e que isto fique bem claro, desconsidera as “selecções” operadas na década de 70 do século passado e reconhece a excelência do trabalho selectivo operado nas três décadas anteriores, nomeadamente o efectuado nos países da Commonwealth, Estados Unidos, Bélgica, Alemanha, França, Austria e no Leste europeu, particularmente no mundo eslavo, apesar de nalguns casos a endogamia ter alcançado valores nunca vistos por força do isolamento a que se viu votado e que foi agravada com o passar dos anos.
As diferentes tabelas de crescimento, provenientes da observação de distintos criadores, ao não serem universais, não contemplam a globalidade da raça, as várias linhas de selecção e as respectivas curvas de crescimento, sendo por isso mesmo inexactas e apenas válidas para determinado grupo de indivíduos com a mesma origem, apesar de aos 12 meses todos os cães se encontrarem debaixo do mesmo estalão, diferindo apenas na envergadura, valor encontrado pela divisão da altura pelo peso e que deverá considerar o sexo, as diferentes ossaturas e as distintas variedades cromáticas (a dominante e as recessivas), porque cada uma delas se desenvolve mais ou menos em períodos diferentes, havendo umas mais precoces do que outras segundo a herança genética de cada uma.
Porque sempre nos dedicámos à utilidade dos Pastores Alemães e nunca isentámos nenhum do trabalho, de acordo com os pesos e medidas manifestos no estalão, temos para as cadelas 3 tabelas distintas de crescimento e o mesmo número para os machos, considerando os exemplares maiores e os menores, os mais leves e os mais pesados, atribuindo às fêmeas os valores de 2, 2.2 e 2.4 e aos machos de 1.7, 1.8 e 1.9. Abaixo ou acima destes valores, a prestação dos CPA’s torna-se incaracterística e certamente terá como modelo um cão doutra raça, por mais excelente que seja o seu desempenho ou a sua celeridade operativa. Estes são os valores desejáveis aos 12 meses de idade, pois não estamos a falar do peso intermédio (Ps.Int) que acontece a partir dos 3 anos ou do máximo (Ps.Mx) que pode suceder dos 6 em diante, respectivamente mais 5 e 10%. Atendendo à longevidade e qualidade de vida dos pastores, o ideal é que se mantenham por mais tempo dentro do peso indicado pelo estalão (Ps.Est).

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