quinta-feira, 15 de agosto de 2013

PARA QUE NÃO SEJAM FRITOS NA MATA

Todos os verões as matas nacionais são fustigadas por incêndios. De norte a sul do País as marés de fogo e fumo repetem-se, o que muito tem contribuído para a desertificação da nossa terra, outrora pródiga em bosques, matas e pinhais, hoje fecunda em eucaliptos e repleta de matos por limpar, que se constituem no melhor dos combustíveis quando associados às temperaturas elevadas, para o despoletar desta tragédia que põe em risco pessoas, bens, culturas e animais, para além de influir negativamente sobre a qualidade do ar que todos respiramos, diminuindo assim a nossa esperança de vida e aumentando a já incontestável catástrofe global. È importante não esquecer que nos encontramos mais perto do Saara do que de Londres, também ela agora sujeita a temperaturas nunca experimentadas, e que o desaparecimento das árvores, pela alteração dos ecossistemas, mais rápido do que se julga, trará o deserto até nós. Que Portugal quereremos, aquele que nos foi legado ou o visível no interior da Península, aquele se avista da Autovia 5 e que nos leva de Badajoz a Madrid, seco e asfixiante?
Como a prática do “Canicross” está a cativar cada vez mais portugueses, é comum ver-se diversos binómios em treino pelas serras e matas, a distintas horas do dia, em locais por vezes remotos ou imprevistos, já que este desporto apresenta duas vantagens consideráveis: não é dispendioso e é possível fazê-lo com o cão ao lado, usufruindo assim do contacto com a natureza para reforço dos vínculos afectivos entre homens e animais. Contudo, esta prática não se encontra isenta de riscos no Verão, atendendo aos incêndios e à super proliferação de viandantes pedestres, ciclistas e moto transportados. Por falta de outras opções, a estes se juntam os “farneleiros”, famílias que optam por comer nos sopés das matas e que normalmente se decidem por uma bela e descansada soneca, longe do buliço das cidades, da algazarra dos vizinhos, da urbe asfixiante e debaixo de uma frondosa árvore, invariavelmente com os seus cães ao lado, que nem sempre são bem comportados. Mais do que nunca, as nossas matas encontram-se superpovoadas no Verão, independentemente dos locais escolhidos se encontrarem em áreas consideradas de alto risco para incêndios.
Por sua vez, os atletas que se fazem acompanhar dos seus cães, quiçá levados pela aventura e pela necessidade de desprendimento, até porque o mal só acontece aos outros (pelo menos até nos bater à porta), descoram a sua segurança e a dos animais que conduzem, para além de eventualmente desrespeitarem os restantes utentes das concorridas serras ou matas. Mas não são só eles a passear os seus cães ali, qualquer um o pode fazer e são cada vez mais os que o fazem, incorrendo na mesma falta de cuidado e a despeito dos avisos adiantados. Lamentavelmente, não nos cabe a solução destes problemas, mas adiantaremos subsídios preventivos para que você e o seu cão não sejam surpreendidos por um incêndio ou possam sair dele ilesos e o mais depressa possível.
Nunca encete percursos desconhecidos (à deriva), pois pode ficar acidentado, retardar o seu socorro e isso pode ser fatal tanto para si como para o cão. Só parta se se encontrar em perfeitas condições físicas, doutro modo poderá comprometer a sua fuga. Se o seu cão estiver com diarreia ou tiver saído dela poucos dias antes, não o leve consigo, porque se encontra debilitado e mais facilmente ficará desidratado. Circule nos pontos de cota mais baixa e perto de vias de acesso, para que a evasão esteja mais próxima e não se veja rodeado pelo fogo. Opte por caminhos circundados por lagos, lagoas, represas, rios e ribeiros, porque são zonas de protecção e podem salvar-lhe a vida (cuidado com as moto4). Comunique aos seus familiares mais próximos ou aos seus amigos onde se encontra e para onde deseja ir, porque mais depressa será localizado, esclarecido e socorrido. Não progrida no terreno debaixo de temperaturas acima dos 28º Celsius (o ideal é fazê-lo em temperaturas até aos 23º da mesma unidade de temperatura), para não desperdiçar reservas e evitar o “estoiro” do cão (os cães uniformes de côr mais escura cansam-se mais depressa do que os demais quando em exposição ao sol, porque rapidamente absorvem o calor proveniente dos raios solares. Além disso, o fogo necessita de calor para a sua combustão. 
Não se estafe e reserve forças para o regresso, pois pode vir a precisar delas. Evite embrenhar-se em matos secos e entre vegetação densa e alta, porque esses locais são de difícil transposição e altamente inflamáveis. Não escolha trilhos para dentro de reservas de caça ou para habitats de algum mamífero silvestre em particular, porque esses animais, quando surpreendidos pelo fogo e uma vez incendiados, tendem a aumentar as suas frentes (tal é o caso dos coelhos bravos). Carregue água na mochila para si e para o cão, não a desperdice. Se a natureza dos pisos o permitir, quando pararem para descansar, molhe as patas do cão para que arrefeça mais depressa e não entre em exaustão. Por prevenção, e isto é para si, também deverá levar na mochila uma mácara para a boca e o nariz, daquelas de uso hospitalar (à venda nas farmácias) ou das que os pintores usam (sempre à disposição nos armazéns e estâncias de materiais de contrução), para evitar a inalação de fumos. Caso não possua nem uma nem outra, valha-se de uma t-shirt para o mesmo efeito. Escusado será dizer que o estojo de primeiros socorros é indispensável, porque os acidentes acontecem e nem sempre sabemos o que nos espera. Não carregue muito peso e use roupa própria para a estação, para poder caminhar naturalmente, descontraído e desafogado. Nos percursos mais longos evite a companhia das crianças, pensando no seu bem-estar e no delas. Não vá sozinho, use roupas claras e contrastantes à paisagem, escolha botas leves e resistentes ao fogo, para melhor ser auxiliado, detectado e poder progredir sem dificuldades acrescidas.
Não sobrecarregue o cão com arneses, coletes ou peitorais de transporte e não lhe consinta grandes correrias. Para se evitar a prisão acidental e desnecessária do cão, assim como o seu enforcamento,  convém que os enforcadores, estranguladores e semi-estranguladores cedam lugar à coleira. Pela mesma razão, a coleira anti-parasitas deverá ser retirada. Como alternativa, temos por hábito pulverizar o cão na véspera com TAK-TIK e voltamos a fazê-lo no final da caminhada, depois de vistoriar o animal (cuidado com as praganas) e de o haver escovado. Os percursos de montanha, os mais escarpados, acidentados e repletos de espinhos, também aqueles salpicados de vidros ou conspurcados com resíduos químicos, podem obrigar à colocação de botas protectoras no animal, que deverão ser de imediato retiradas quando o trajecto deixar de apresentar essas características. O uso das botas obriga a treino prévio (doméstico ou escolar até deixarem de ser um incómodo para o cão). Se parar para descansar, não deixe os óculos sobre o mato, tape o telemóvel, não fume ou faça fogo e não abandone garrafas de vidro ou utensílios metálicos, porque tais acessórios, devido ao calor, podem constituir-se em comburentes. Se no meio dos seus percursos avistar utensílios dessa categoria, não hesite, enterre-os ou soterre-os debaixo de algumas raízes (é comum encontrarem-se algumas latas abandonadas pelos campos).
Os menos confiados e mais precavidos, têm o hábito salutar de manter os seus headphones sintonizados numa estação de rádio noticiosa, procedimento mais do que recomendável na época estival e que lhes poderá salvar a vida (os mais irreflectidos e descontraídos ouvem hip-hop, rap ou outros estilos musicais da sua preferência). Ao menor sinal de incêndio, por mais insignificante que ele lhe pareça, ligue para o 112, sintetizando a ocorrência pela resposta às perguntas: quem?, quando?, como?, onde?, o quê e porquê? A brevidade da comunicação que leva à rápida identificação do local, agiliza de sobremaneira o socorrro e pode salvar muitas vidas e bens (a sua e a do seu cão inclusive). Mais e melhores explicações poderão ser dadas pela Protecção Civil, pela GNR e pelos Bombeiros. Afinal, salvar o seu cão é também salvá-lo a si, porque os cães não lêem e apenas entendem os conselhos pela experiência directa e pela atempada advertência (quando aceite). Desgraçado é o cão cujo dono não olha por ele!
Boas férias, bons passeios e óptimo regresso!

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