Muitas
vezes sem querer ou ignorando as repercurssões, acabamos por ensinar acções
escusadas aos nossos cães, que delas se aproveitam para uso indesejável ou
comprometedor. Tal é caso de os ensinar a saltar da janela do carro, o que à
partida não parece um grande disparate ou disso resultar grande mal, o que
infelizmente não é verdade atendendo aos riscos daí decorrentes, tanto para os
animais quanto para as pessoas.
Depois de os havermos ensinado a saltar da janela
do carro, ninguém nos garante que permaneçam dentro dele nas esperas mais
longas ou nos dias mais quentes, nos sinais ou nas portagens, quando outro cão
passa, uma cadela com o cio se aproxima ou alguém os provoca, a menos que
deixemos a janela somente entreaberta (já existem no mercado janelas de rede
que substituem os vidros e garantem a circulação do ar, pelo que aconselhamos a
sua compra).
Se o seu cão foi ensinado a atacar ou é naturalmente
belicoso e ofensivo (o caso agrava-se se atacar sem primeiro avisar, daqueles que
“mordem à boca calada”), depois de experimentar que a janela aberta não
constitui qualquer entrave, sem maiores dificuldades, poderá encetar acções não
ordenadas e lesivas, na sua ausência ou quando menos espera. Por outro lado, se
assim proceder, o abandono da viatura implicará na sua desprotecção e quiçá no
seu furto, o que não acontece só aos outros!
Bem
sabemos que os cães dos profissionais ou dos que almejam sê-lo, só saltam à
ordem e que muitas vezes tal é necessário por razões operacionais ou de
serviço, o que não deve ser o seu caso, uma vez que não se encontra a coberto
duma farda e não foi recrutado como milícia. Por força do treino aturado,
tantas vezes enfandonho para o comum cidadão, os cães militares, para-militares
ou polícias, são tão prontos a ficar quanto a saltar, porque os seus tratadores
não separam a obediência canina do cumprimento pronto e imediato das ordens,
prerrogativa pouco observada nos binómios civis.
Já
ouvimos dizer e discordamos, que se não ensinarmos os cão a saltar a janela do
carro, em caso de necessidade ou urgência (quando a vida dos animais estiver em
risco), eles jamais sairão de lá, podendo inclusive perecer. E discordamos
porque os cães ainda não baniram o instinto de sobrevivência e tudo fazem para
a sua salvaguarda, não são autómatos nem suicídas, apesar de poderem marchar
para a morte debaixo de ordem, porque não sabem ao que vão e partem confiantes
pela prévia experiência feliz (vão ao engano). A somar a isto, na ausência dos
seus treinadores e líderes, as respostas naturais caninas tendem a sobrepor-se
às artificiais fornecidas pelo treino, particularmente diante de situações
nunca experimentadas e quando a sobrevivência dos cães estiver em risco. Assim,
ensinar um cão a saltar a janela do carro, é uma brincadeirinha que pode virar
um caso sério, mais uma patacoada no já defraudado adestramento canino, uma
habilidade que poderá acabar em desastre.
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