Foi abatido no passado dia 5 do corrente mês, por injecção letal e sem
deixar descendência, o Híbrido de Chow-Chow/Pastor Alemão “Afonso”, nascido no
início do Novo Milénio e que contava com 15 anos e 9 meses de idade, em virtude
de já se encontrar extremamente debilitado dos pontos de vista físico e
psicológico. Propriedade da Maria Duarte, jovem que cerrou fileiras connosco
mais de uma década, o Afonso teve como pai o “Tuly”, um Chow-Chow negro e como
mãe a “Kalinka, uma Pastora Alemã preta-afogueada, ambos propriedade da Sr.ª
Cristina Maria Bandeira Dias Alberto, nossa colaboradora ao longo de anos e de
reconhecidos méritos. O nome do Afonso não se pode dissociar da Acendura Brava
e dos seus êxitos, porque sempre se destacou nos festivais e exibições em que
participou, honrando a Escola e enaltecendo o trabalho da sua condutora pelas
suas performances, valentia, disponibilidade e extraordinária obediência. Foi
convidado a participar em três séries televisivas e fez parte do elenco de um
filme português. O seu desempenho foi tal, que mal entrava no “Plateau” era
acolhido com uma salva de palmas, mesmo antes de actuar. Nunca necessitou de
treino prévio para as suas prestações e ganhou a alcunha de “cão-relógio”. Por
causa disso, as personagens que representou nunca tiveram outros nomes que não
o seu pela admiração e confiança no seu trabalho.
As circunstâncias da sua morte foram assim descritas pela Maria, hoje veterinária,
sua dona e condutora de sempre: “Sim, é verdade, a decisão não foi fácil mas
estava a chegar a altura em que não fazia sentido manter o velhote com as
capacidades cognitivas visivelmente afectadas e diminuídas. Fisicamente também
estava a atrofiar, com perda de peso e massa muscular. O sábado foi o primeiro
dia em que ele se recusou a sair do canil e estava relutante em andar, já só
fazia círculos e mal se mantinha de pé, não tinha força para manter a postura e
até olhava para mim com ar triste e aborrecido, tinha perdido a vontade de viver,
não era justo eu mantê-lo vivo por puro egoísmo. Enchi-me de coragem e sozinha
dei-lhe o descanso merecido, num dia de sol como ele gostava e no meio do
sossego, sem se ouvir mais nada a não ser a respiração dos outros cães. Foi no
meu colo, com todo o amor possível, que me despedi do Afonso, porque as
decisões mais difíceis são as que mais amor precisam, não é?”.
Pequeno mas extremamente competitivo e com uma enorme autonomia
funcional, nunca ficou atrás de ninguém, quer fosse comandado verbal ou
gestualmente em curtas ou longas distâncias, evidenciando uma cumplicidade
pouco vista e uma transcendência operativa ainda mais rara. Para além do seu excepcional
potencial biomecânico, gostava do que fazia e era gracioso ao fazê-lo. Quem olhasse
para aquele pequeno cão dourado, considerando o seu ar patusco e ao mesmo tempo
carinhoso, jamais adivinharia do que era capaz. Certamente não surgirão outros
iguais, mas sua longa estadia entre nós irá servir de motivo para os procurar e
capacitar, porque sabemos que a fusão de vontades entre homens e cães é
possível - o Afonso provou-o! Com ele morre uma época e cresce de imediato a
saudade, porque foram tão poucos os que tão bem nos serviram. Como não
cultuamos os mortos e celebramos a vida, sempre veremos o Afonso tal qual foi:
um grande camarada e amigo que povoará os nossos sonhos ainda por mais algum
tempo. Obrigado Afonso, obrigado Cristina e Maria.
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