Por vezes a revolta é tanta que não
sabemos por onde começar! Vamos ao factos. Sei saber como nem porquê, acabámos
por nos cruzar com um cavalheiro de meia-idade acompanhado pelo seu Pastor
Alemão, um exemplar preto-afogueado despigmentado, com 2 anos de idade, mal
provido de músculos, agachado de traseira, de garupa frágil e com jarrete de
vaca por demais pronunciado, tanto que o cão parecia indicar estar pronto para
defecar a qualquer momento. Condoídos com o estado articular do animal,
aconselhámos o seu dono a marchar diariamente com ele, para que o aumento da
massa muscular viesse a aliviar o esforço articular e combatesse o desaprumo. O
proprietário do cão agradeceu o conselho mas disse-o desnecessário porque, e
passamos a citar: “esta disposição de membros é uma característica da raça”,
pondo-se ao fresco depois (desparecendo). De má raça será certamente e se é
como ouvimos, gostaríamos de saber a partir de quando a raça é assim, muito
embora já saibamos a resposta!
O jarrete de vaca, apoio cruzado dos
aprumos traseiros que leva à junção dos curvilhões (jarretes), é a um apoio
ortopédico anómalo que acaba por limitar a capacidade atlética dos cães seus
portadores, comprometendo o seu equilíbrio e livre desenvolvimento dos
andamentos naturais por menor impulsão, o que obrigará ao maior esforço dos
anteriores que pela sobrecarga se desaprumarão também, dando origem ao atirar
das mãos para fora e ao abatimento de metacarpos, pelo uso nos arranques e
mudanças de direcção. Não sendo combatido, resultará em artroses que cedo se
manifestarão e que serão extremamente limitadoras na 3ª idade. Este defeito
limitador (que para alguns é virtude), trará implicações na natação, na escalada,
na marcação dos saltos, na transição dos consecutivos, nas rampas e condenará
de sobremaneira o galope, que sendo “à coelho”, por falta da necessária
projecção para diante das pernas, cedo levará à exaustão dos animais. A prática
da marcha diária, a natação e o concurso aos obstáculos naturais presentes nas
pistas tácticas (particularmente o “Extensor de Solo”), tendem a resolver o
problema e é por isso que os verdadeiros cães de trabalho raramente se
apresentam assim.
O jarrete de vaca deve mais à genética
do que à ausência de exercício físico regular, ainda que o último possa contribuir
só por si para a ocorrência do fenómeno. Nenhuma raça canina, atendendo ao seu
bem-estar, pode ter como característica o jarrete de vaca, muito menos as
destinadas ao trabalho, como é o caso do Cão de Pastor Alemão, muito embora
sobrem muitos assim nas classes de exposição, onde se sobrevaloriza a estética
a despeito da biomecânica que se deseja própria para a função. Jarrete de vaca?
Não, obrigado!
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