Os ditos desportos caninos
ou modalidades desportivas binomiais são sustentadas, na maioria dos casos, pela
potenciação dos instintos e/ou pelo híper aproveitamento dos impulsos herdados
dos animais, tanto para as respostas naturais quanto para as artificiais.
Estamos fartos de ouvir dizer que os cães adoram determinada modalidade
desportiva, quando na verdade fazem de tudo para agradar e acompanhar os seus
donos. Nenhum cão adora passar a vida a morder ou a correr que nem um foguete,
acções que naturalmente só encetaria por necessidade de defesa (de si mesmo, do
seu lugar hierárquico, dos seus e do seu território) e por questões ligadas à
sua sobrevivência e à da sua espécie. O uso sistemático e continuado dos cães
em determinada modalidade desportiva não utilitária, pelo desgaste que provoca,
irá colocar precocemente em risco a sua saúde física e psicológica, levando-os,
em caso de abuso, a uma menor qualidade e esperança de vida. Deixemo-nos de hipocrisias: nenhum cão nasceu
para andar continuamente a “afiar o dente” ou para se deslocar ordinariamente a
galope. Ao invés, todos preferem sentir-se cómodos e deslocar-se saudavelmente
em marcha, o que lhes tardará a senilidade e demais problemas típicos da velhice.
As alterações de comportamento e desempenho caninas são alcançadas pelo
condicionamento, não raramente através de provocação, aliciamento, suborno e
dependência, atitudes despudoradas que, ao serem tantas vezes repetidas, nos
parecem justas e lícitas.
À luz da “Carta dos
Direitos do Animal” nenhum deverá ser usado em actividades que ponham em risco
a sua integridade física e psicológica, o que a acontecer é um crime próprio do
mais descarado especicismo. A nosso ver, deverá subsistir alguma diferença
entre exercícios aeróbios e anaeróbios, visando a salvaguarda e integridade dos
cães. Por ausência doutros meios, até somos capazes de entender o uso dos cães
em actividades para eles arriscadas, como é caso dos habilitados para a busca,
resgate e salvamento, considerando a necessidade e urgência do socorro das
pessoas. O que não entendemos, e pedimos desde já desculpa pela frontalidade
com que o dizemos, é pôr os cães a competir para gaudio dos donos, o que sempre
nos lembra uma imagem de infância, quando alguns miúdos, à falta de melhor, se
divertiam a fazer corridas de caracóis sobre uma superfície molhada. Na
sequência do que acabámos de alertar, quando um adestrador pega num cão jovem
para ensinar, não se poderá esquecer que aquilo que lhe exige hoje poderá ter
consequências graves amanhã. O objectivo primeiro e central do adestramento
aponta para a salvaguarda canina e os adestradores estão cá para suavizar as
veredas dos seus pupilos rumo à longevidade. Desporto sim, mas com conta peso e
medida!
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