Contrariamente ao que se julga, a maioria dos cães
não sabe nadar ou nada sofrivelmente, mesmo aqueles que se dizem indicados para
isso, o que não impedirá que todos venham a nadar e a fazê-lo muito bem,
havendo alguns que mais tarde serão aproveitados para a detecção, resgate e
salvamento de náufragos ou para a procura de cadáveres submersos. As raças
caninas mais rústicas e ainda descendentes do chacal, que não são muitas, são
as que aprendem a nadar mais facilmente, dispensando por norma qualquer ensino
prévio.
Persistimos em ensinar os
cães a nadar por três razões: primeiro para sua salvaguarda, depois para nos
acompanharem e finalmente para nos ajudarem. A primeira condição a considerar para ensinar um
cão a nadar é a temperatura da água, que deverá ser minimamente igual ao valor
das temperaturas médias anuais verificadas no ecossistema onde o animal se
encontra inserido. Em Portugal esse valor tem oscilado entre os 14,3 e os 14,6
graus centígrados nos últimos 40 anos, pelo que aconselhamos só iniciar esta
prática quando a temperatura da água se encontrar no mínimo a 15 graus célsius, para se evitar o
incómodo, a aversão e o pânico de alguns animais, assim como os riscos de lesão
e os choque térmicos, ainda que mais tarde alguns cães, devido ao seu tamanho,
particular do seu manto e preparação específica, possam trabalhar dentro de
água com temperaturas significativamente mais baixas, tanto de dia como de
noite.
Depois de considerada a temperatura da água,
importa identificar qual o perfil
psicológico do cão, porque será ele que nos indicará onde, como e com quem
deverá ser introduzido na água, se numa piscina, no rio ou no mar, atrás de um
brinquedo ou acompanhado pelo dono. Muitos cães são avessos à água por
inexperiência e resistem à sua apresentação por imitação dos seus donos. O
ideal é fazer a iniciação numa piscina onde o cão tenha pé e o dono possa estar
ao seu lado, para que não se agite e bem depressa se familiarize com o meio
aquático, convidando-o a agarrar brinquedos e a seguir o seu líder.
Pouco a pouco, o animal deverá ser introduzido nas
áreas mais profundas da piscina. Caso se verifique que apenas esbraceja e
desusa as pernas, deverá ser acalmado e rebocado pela trela, para que aprenda a
nadar com as quatro patas abaixo da
linha de água.
Se houver
paciência para o acalmar e for adequadamente animado, o cão bem depressa entrará
e sairá da piscina a seu bel-prazer, tanto para se refrescar quanto para se exercitar
especialmente durante o dia e nos meses de maior calor. A primeira coisa a
ensinar a um cão na piscina é a sua saída, porque vendo-se aflito, logo a procurará.
Com o cão
a nadar correctamente e garantida a sua salvaguarda, é chegada a hora de o
manobrarmos como o fazemos em terra firme, aplicando-lhe todos os comandos
direccionais, de busca e de recolha, ao nosso lado ou isoladamente. Existem no
mercado inúmeros brinquedos flutuantes para o efeito, com propósitos
específicos, de vários tamanhos, de diferentes formas, de cores garridas ou
florescentes.
A tarefa
seguinte é ensiná-lo a mergulhar, capacitação que pode acontecer pela procura dos
brinquedos, pelo mergulho do dono, pela sua chamada ou pelo somatório destes
procedimentos. Mergulhar correctamente exigirá dos cães treino aturado, para
que não se magoem, percam a concentração ou se delonguem nas acções. Todos
eles, independentemente do seu serviço e segundo o progresso que lhes é
exigido, evoluirão da piscina para os lagos, destes para os rios e dali para o
mar, chegando alguns a nadar em alto-mar.
O Cão de Água Português pode ser um precioso
auxiliar nos rios e no mar, mas jamais será um cão de resgate puro, porque lhe
falta tamanho, envergadura e peso. Contudo, ele pode mergulhar e encontrar algo
que caiu borda fora, submergir para nos prestar socorro ou ajudar a libertar-nos.
Pode ainda ser usado como detector de cadáveres dentro de água. Infelizmente a
displasia coxo-femural flagela a raça e muitos dos seus exemplares padecem
dela, o que lhes compromete o uso e obsta ao rendimento.
Quando deveremos ensinar um
cachorro a nadar? Por norma na idade da cópia, aos 4 meses de idade, altura em que manifesta o
desejo de acompanhar os cães adultos nas suas excursões e se junta ao grupo,
funcionando os mais velhos como seus mestres. Os cachorros pertencentes a raças
com curvas de crescimento muito alongadas, porque demoram a equilibrar-se do
ponto de vista biomecânico, deverão iniciar a natação um pouco mais tarde (2
meses depois). Existem cachorros que voluntariamente se jogam à água antes da
idade da cópia e que nadam automaticamente. Quando o ocorrido não resultar da
inexperiência ou descuido dos animais, o fenómeno ficará a dever-se à
excelência dos impulsos herdados e a um perfil psicológico resoluto e seguro.
Há quem inicie os cachorros mais cedo, especialmente se os seus pais forem
exímios nadadores, o que até pode ser desejável.
Para além
dos aspectos ligados à maior aptidão canina, o exercício natatório presta-se
ainda à recuperação de lesões, ao equilíbrio emocional, à correcção de aprumos
e ao desenvolvimento harmonioso dos cachorros, podendo também estender algumas
destas mais-valias aos cães adultos, o que transforma a natação numa excelente
terapia. Grande parte das lesões tendíneas, musculares e ligamentares,
dependendo da sua natureza e da temperatura da água, podem mais facilmente ser
ultrapassadas pelo concurso da natação. Os cães mais extremados (agressivos,
rebeldes, ansiosos, desligados, obesos, manhosos, bonacheirões e pouco activos)
reequilibram-se a nadar, devido à vulnerabilidade que favorece a liderança e
facilita o seu norteamento.
Por outro
lado, os cães mais avessos ao exercício físico, não lhes restando outra
alternativa, aumentam a sua disponibilidade física e emocional ao nadarem, o
que irá facilitar de sobremaneira a sua condução em terra firme. Como os
cachorros dos 4 aos 6 meses de idade ainda se encontram na fase plástica, é
possível corrigir-lhe os aprumos dentro de água, de modo menos doloso e
descontraído, evitando-se assim as indesejáveis bolsas de líquido sinovial ou a
ocorrência de outro tipo de lesões. A natação contribui, desde que a sua origem
não seja genética, para a supressão ou melhoria das incapacidades físicas mais
comuns e visíveis nos cães actuais, tais como: peito estreito, espádua pouco
desenvolvida, descodilhamento, mãos divergentes, abatimento de metacarpos e
jarrete de vaca, quando requerida sistematicamente e dentro dos limites
razoáveis.
Incomensuravelmente
mais digno e útil do que andar a jogar ao pau com os cães ou a atiçá-los, é
treiná-los como cães de resgate e salvamento, disciplinas que englobam essas
mesmas acções no ambiente aquático, o que cada vez mais acontece pelos quatro cantos
do mundo. Queremos aqui manifestar o nosso agradecimento e admiração pelos
binómios que tem como missão essas tarefas e que mesmo com as suas vidas em
risco, não hesitam em socorrer ou valer aos demais. E dentro do mesmo contexto,
ensinar o nosso cão a nadar é trabalhar para o nosso socorro e o de terceiros.
Temos por
hábito e nunca nos demos mal, tirar partido da Primavera e do Verão para o
ensino e prática da natação canina, porque nessas época do ano a temperatura
das águas é mais amena e os animais sentem maior desejo de se refrescarem, pelo
que é comum verem-nos pelos rios abaixo, de mochila às costas e com os cães ao
lado, satisfazendo o desejo excursionista que nos une aos animais. No Outono e
Inverno trabalhamos na orla marítima mas não nadamos com os cães. Iremos
fazê-lo, como atrás dissemos, nas duas estações seguintes, quando ao treino em
altitude juntamos a natação. Estes procedimentos têm aumentado a saúde e
longevidade dos nossos cães, cuja esperança média de vida é de 14 anos.
Ano após
ano, sempre que introduzimos novos cães na natação, vem-nos à memória uma
citação bíblica (Rute 1:16): “ Não me instes a que te abandone e deixe de
seguir-te. Porque aonde quer que tu fores, irei eu, e onde quer que pousares,
ali pousarei eu…”, porque trabalhamos para manter os cães ao nosso lado,
dividimos a nossa vida com eles, usufruímos da sua lealdade e sentimos que não
estamos sós. O nosso objectivo é a sua salvaguarda, o nosso trabalho é
adequá-los para nos acompanharem por toda a parte, quer seja em terra, no mar
ou no ar.
Terminamos
enfatizando: não consinta que o seu cão morra afogado, ensine-o a nadar, para
que lhe possa valer a si e aos outros, lembrando-lhe ao mesmo tempo dos
benefícios que a prática da natação oferece a todos os cães. Já estamos na
Primavera e o Verão está à porta, ouse sair de casa e ensine o seu cão a nadar.
Se tiver dificuldades ou precisar de ajuda contacte-nos, para isso cá estamos e
sabemos como ajudá-lo.
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