sexta-feira, 23 de maio de 2014

CONNOSCO DENTRO E FORA DE ÁGUA

Contrariamente ao que se julga, a maioria dos cães não sabe nadar ou nada sofrivelmente, mesmo aqueles que se dizem indicados para isso, o que não impedirá que todos venham a nadar e a fazê-lo muito bem, havendo alguns que mais tarde serão aproveitados para a detecção, resgate e salvamento de náufragos ou para a procura de cadáveres submersos. As raças caninas mais rústicas e ainda descendentes do chacal, que não são muitas, são as que aprendem a nadar mais facilmente, dispensando por norma qualquer ensino prévio.
Persistimos em ensinar os cães a nadar por três razões: primeiro para sua salvaguarda, depois para nos acompanharem e finalmente para nos ajudarem. A primeira condição a considerar para ensinar um cão a nadar é a temperatura da água, que deverá ser minimamente igual ao valor das temperaturas médias anuais verificadas no ecossistema onde o animal se encontra inserido. Em Portugal esse valor tem oscilado entre os 14,3 e os 14,6 graus centígrados nos últimos 40 anos, pelo que aconselhamos só iniciar esta prática quando a temperatura da água se encontrar no mínimo a 15 graus célsius, para se evitar o incómodo, a aversão e o pânico de alguns animais, assim como os riscos de lesão e os choque térmicos, ainda que mais tarde alguns cães, devido ao seu tamanho, particular do seu manto e preparação específica, possam trabalhar dentro de água com temperaturas significativamente mais baixas, tanto de dia como de noite.
Depois de considerada a temperatura da água, importa identificar qual o perfil psicológico do cão, porque será ele que nos indicará onde, como e com quem deverá ser introduzido na água, se numa piscina, no rio ou no mar, atrás de um brinquedo ou acompanhado pelo dono. Muitos cães são avessos à água por inexperiência e resistem à sua apresentação por imitação dos seus donos. O ideal é fazer a iniciação numa piscina onde o cão tenha pé e o dono possa estar ao seu lado, para que não se agite e bem depressa se familiarize com o meio aquático, convidando-o a agarrar brinquedos e a seguir o seu líder.
Pouco a pouco, o animal deverá ser introduzido nas áreas mais profundas da piscina. Caso se verifique que apenas esbraceja e desusa as pernas, deverá ser acalmado e rebocado pela trela, para que aprenda a nadar com as quatro patas abaixo da linha de água.
Se houver paciência para o acalmar e for adequadamente animado, o cão bem depressa entrará e sairá da piscina a seu bel-prazer, tanto para se refrescar quanto para se exercitar especialmente durante o dia e nos meses de maior calor. A primeira coisa a ensinar a um cão na piscina é a sua saída, porque vendo-se aflito, logo a procurará.
Com o cão a nadar correctamente e garantida a sua salvaguarda, é chegada a hora de o manobrarmos como o fazemos em terra firme, aplicando-lhe todos os comandos direccionais, de busca e de recolha, ao nosso lado ou isoladamente. Existem no mercado inúmeros brinquedos flutuantes para o efeito, com propósitos específicos, de vários tamanhos, de diferentes formas, de cores garridas ou florescentes.
A tarefa seguinte é ensiná-lo a mergulhar, capacitação que pode acontecer pela procura dos brinquedos, pelo mergulho do dono, pela sua chamada ou pelo somatório destes procedimentos. Mergulhar correctamente exigirá dos cães treino aturado, para que não se magoem, percam a concentração ou se delonguem nas acções. Todos eles, independentemente do seu serviço e segundo o progresso que lhes é exigido, evoluirão da piscina para os lagos, destes para os rios e dali para o mar, chegando alguns a nadar em alto-mar.
O Cão de Água Português pode ser um precioso auxiliar nos rios e no mar, mas jamais será um cão de resgate puro, porque lhe falta tamanho, envergadura e peso. Contudo, ele pode mergulhar e encontrar algo que caiu borda fora, submergir para nos prestar socorro ou ajudar a libertar-nos. Pode ainda ser usado como detector de cadáveres dentro de água. Infelizmente a displasia coxo-femural flagela a raça e muitos dos seus exemplares padecem dela, o que lhes compromete o uso e obsta ao rendimento.
Quando deveremos ensinar um cachorro a nadar? Por norma na idade da cópia, aos 4 meses de idade, altura em que manifesta o desejo de acompanhar os cães adultos nas suas excursões e se junta ao grupo, funcionando os mais velhos como seus mestres. Os cachorros pertencentes a raças com curvas de crescimento muito alongadas, porque demoram a equilibrar-se do ponto de vista biomecânico, deverão iniciar a natação um pouco mais tarde (2 meses depois). Existem cachorros que voluntariamente se jogam à água antes da idade da cópia e que nadam automaticamente. Quando o ocorrido não resultar da inexperiência ou descuido dos animais, o fenómeno ficará a dever-se à excelência dos impulsos herdados e a um perfil psicológico resoluto e seguro. Há quem inicie os cachorros mais cedo, especialmente se os seus pais forem exímios nadadores, o que até pode ser desejável.
Para além dos aspectos ligados à maior aptidão canina, o exercício natatório presta-se ainda à recuperação de lesões, ao equilíbrio emocional, à correcção de aprumos e ao desenvolvimento harmonioso dos cachorros, podendo também estender algumas destas mais-valias aos cães adultos, o que transforma a natação numa excelente terapia. Grande parte das lesões tendíneas, musculares e ligamentares, dependendo da sua natureza e da temperatura da água, podem mais facilmente ser ultrapassadas pelo concurso da natação. Os cães mais extremados (agressivos, rebeldes, ansiosos, desligados, obesos, manhosos, bonacheirões e pouco activos) reequilibram-se a nadar, devido à vulnerabilidade que favorece a liderança e facilita o seu norteamento.
Por outro lado, os cães mais avessos ao exercício físico, não lhes restando outra alternativa, aumentam a sua disponibilidade física e emocional ao nadarem, o que irá facilitar de sobremaneira a sua condução em terra firme. Como os cachorros dos 4 aos 6 meses de idade ainda se encontram na fase plástica, é possível corrigir-lhe os aprumos dentro de água, de modo menos doloso e descontraído, evitando-se assim as indesejáveis bolsas de líquido sinovial ou a ocorrência de outro tipo de lesões. A natação contribui, desde que a sua origem não seja genética, para a supressão ou melhoria das incapacidades físicas mais comuns e visíveis nos cães actuais, tais como: peito estreito, espádua pouco desenvolvida, descodilhamento, mãos divergentes, abatimento de metacarpos e jarrete de vaca, quando requerida sistematicamente e dentro dos limites razoáveis.
Incomensuravelmente mais digno e útil do que andar a jogar ao pau com os cães ou a atiçá-los, é treiná-los como cães de resgate e salvamento, disciplinas que englobam essas mesmas acções no ambiente aquático, o que cada vez mais acontece pelos quatro cantos do mundo. Queremos aqui manifestar o nosso agradecimento e admiração pelos binómios que tem como missão essas tarefas e que mesmo com as suas vidas em risco, não hesitam em socorrer ou valer aos demais. E dentro do mesmo contexto, ensinar o nosso cão a nadar é trabalhar para o nosso socorro e o de terceiros.
Temos por hábito e nunca nos demos mal, tirar partido da Primavera e do Verão para o ensino e prática da natação canina, porque nessas época do ano a temperatura das águas é mais amena e os animais sentem maior desejo de se refrescarem, pelo que é comum verem-nos pelos rios abaixo, de mochila às costas e com os cães ao lado, satisfazendo o desejo excursionista que nos une aos animais. No Outono e Inverno trabalhamos na orla marítima mas não nadamos com os cães. Iremos fazê-lo, como atrás dissemos, nas duas estações seguintes, quando ao treino em altitude juntamos a natação. Estes procedimentos têm aumentado a saúde e longevidade dos nossos cães, cuja esperança média de vida é de 14 anos.
Ano após ano, sempre que introduzimos novos cães na natação, vem-nos à memória uma citação bíblica (Rute 1:16): “ Não me instes a que te abandone e deixe de seguir-te. Porque aonde quer que tu fores, irei eu, e onde quer que pousares, ali pousarei eu…”, porque trabalhamos para manter os cães ao nosso lado, dividimos a nossa vida com eles, usufruímos da sua lealdade e sentimos que não estamos sós. O nosso objectivo é a sua salvaguarda, o nosso trabalho é adequá-los para nos acompanharem por toda a parte, quer seja em terra, no mar ou no ar.
Terminamos enfatizando: não consinta que o seu cão morra afogado, ensine-o a nadar, para que lhe possa valer a si e aos outros, lembrando-lhe ao mesmo tempo dos benefícios que a prática da natação oferece a todos os cães. Já estamos na Primavera e o Verão está à porta, ouse sair de casa e ensine o seu cão a nadar. Se tiver dificuldades ou precisar de ajuda contacte-nos, para isso cá estamos e sabemos como ajudá-lo.

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