sábado, 31 de maio de 2014

NÓS ACREDITAMOS NAS CRIANÇAS

Neste mundo carregado de desemprego, dor, fome, guerra, miséria e morte, nós acreditamos nas crianças, talvez porque exista uma dentro de cada um de nós, a esperança nos mantenha e o futuro lhes pertença.

DESENVOLVIMENTO, EQUILÍBRIO, SAÚDE E BEM-ESTAR

Apraz-nos dizer: felizes são as crianças que crescem com um cão ao seu lado. E dizemos isto porque está provado que os cães ajudam-nas no seu processo de desenvolvimento, alterando comportamentos e alcançando-lhes melhorias físicas, emocionais, cognitivas e sociais. Ter um cão como companheiro, para além dos aspectos ligados à sua saúde e do combate ao stress, é estimular o desenvolvimento afectivo dos infantes, levando-os ao aumento da sensibilidade, da observação e da compreensão, promovendo em simultâneo o reforço de sentimentos como o da responsabilidade, da solidariedade, da tolerância, da generosidade, do zelo, do afecto e do respeito. Também graças ao cão, a criança irá melhor lidar com a frustração, a perda, a dor e quiçá até a morte, isto se o animal se finar. No que à saúde das crianças diz respeito, a companhia de um cão reforça o seu quadro imunológico, promove maior resistência às alergias e convida-as para o exercício físico ao ar livre, aumentando-lhes os níveis de serotonina e dopamina, enquanto os de cortisol diminuem, o que é deveras importante quando se encontram deprimidos, doentes ou a convalescer. Que bom seria que todos os miúdos, a partir dos 3 anos, tivessem um cão de companhia, a bem do seu desenvolvimento, equilíbrio, saúde e bem-estar! 

BORDER COLLIE: O MELHOR DOS DIAS DE HOJE

Assim como entendemos que o Pastor Alemão foi o cão que melhor fizemos, nas nos custa reconhecer que o Border Collie é o melhor e o mais completo dos cães actuais, pese embora algum nervosismo perfeitamente dispensável, uma inquietude que cansa. E se há alguma raça canina onde a eugenia positiva foi levada a sério, esse será certamente o seu caso. Podemos não gostar do seu deslocamento agachado e do seu olhar penetrante que chega a incomodar, mas não podemos negar a sua extrema disponibilidade, velocidade funcional, índices de prontidão, impulso ao conhecimento, parceria, versatilidade e extraordinária fixação no dono. O Border tornou arcaicas algumas raças caninas, remetendo-as quase em exclusivo para um número cada vez menor de fãs, porque tem o que as outras procuram e venceu os entraves que as vitimam. Multifacetado, pode abraçar qualquer disciplina canina de acordo com seu tamanho, peso e envergadura, alcançando em qualquer uma delas resultados nunca vistos. Oxalá assim continue e não acabem por estragá-lo, como têm vindo a fazer à maioria das raças hoje decadentes. Portador de uma biomecânica invejável, de uma memória visual única e de uma óptima máquina sensorial, ele poderá transformar-se também num incontestado cão de pista, resgate e salvamento. 

TÚNEIS: ACERTOS, DESACERTOS, APERTOS E UTILIDADE

Todo e qualquer grupo de obstáculos tem uma sequência natural que garante a transição segura dos cães e a sua evolução, porque se parte dos mais fáceis para os mais difíceis e dos mais simples para os mais complicados. Em simultâneo, a distinta natureza dos obstáculos encontra-se ligada a uma aptidão ou a um fim específico, quer ele seja desportivo ou outro. Os actuais obstáculos do Agility são de fácil execução para qualquer cão, já que são réplicas suaves doutros há muito usados para outros fins, ainda que na natureza de alguns seja visível a influência do mundo equestre. A sequência natural dos túneis começa pela ultrapassagem de vários arcos a céu aberto, evolui para os rectos de cor clara e curtos, deles para os de tonalidade mais escura, mais compridos e de diferentes materiais. Finalmente passar-se-á para os flexíveis sem fim à vista e para os complementados com uma manga de saída. Entretanto, se o cão se destina ao resgate e ao salvamento, deverá trabalhar num emaranhado deles, respeitando-se o cuidado anterior e evoluindo-se daí para toda a sorte de túneis naturais ou urbanos, previamente elaborados ou resultantes de alterações ou acidentes geológicos (grutas, cisternas, poços, condutas de saneamento e de ar condicionado, avalanches, derrocadas, escombros, etc.). As pistas cinotécnicas portuguesas são de uma pobreza extrema nesta área de ensino, porque lhes falta um piso para trabalharem abaixo do solo, servindo-se por norma das suas excursões para tal efeito.
Uma vez respeitada a sua sequência natural, os túneis não apresentarão para os cães maiores dificuldades. Mas como isso raramente acontece e os túneis a usar se remetem exclusivamente a uma manga flexível, há que encolhê-la e gradualmente estendê-la, primeiro em linha recta e depois dobrada e sem fim à vista. No início da abordagem aos túneis com manga convém que ela seja levantada, para que os cães vejam a saída e não retornem ao ponto de partida. Pouco a pouco baixa-se a manga até ficar completamente caída no solo, altura em que os cães já a conseguem levantar e passar por ela.
Não é acertado convidar cães obesos ou pouco disponíveis fisicamente para a prática dos túneis, sem antes lhes solicitar a prontidão e os índices atléticos requeridos para a sua prática, porque doutra forma e uma vez lá dentro, aproveitarão para descansar e para se escapar ao trabalho, servindo-se dos túneis como esconderijo, fenómeno também muito comum entre os cães manhosos. Se a maga for flexível, há que encurtá-la e pedir ao dono que chame o cão à sua saída, recompensando-o de imediato. Mas se a manga for rígida e o cão persistir em não colaborar, tanto se pode usar uma guia comprida a ser puxada pelo dono como servir-nos do reboque de um cão experimentado, mais robusto e bem sociabilizado, graças à ajuda duma trela interligada entre ambos. A escolha destas soluções extraordinárias deverá considerar o perfil psicológico do iniciado: se for submisso, opta-se pelo dono; se for valente, o reboque apresenta-se como a melhor e a mais célere das soluções, já que é tirada a partir do exemplo. De qualquer modo, há que evitar o pânico que obsta tanto à entrada como à saída dos animais.
Apesar de há muito conhecermos estes procedimentos, o ensino dos túneis sempre nos serviu de protocolo iniciático para gente moça, pouco pensada, atrevida e irreverente, com mais músculo e menos massa cinzenta, a quem confessávamos a nossa “impotência” perante a resistência inicial dos seus cães, dizendo-lhe que a única solução era a de terem de entrar por eles adentro. Como a marosca era premeditada, aproveitámos os dias de chuva para tal, ocasião em que os túneis se encontravam encharcados e enlameados. Caso as condições climatéricas fossem outras, não hesitaríamos em regá-los. Depois disso, dávamos-lhe o nosso “bem-vindo” à pista de obstáculos e soltávamos: “ ensinar cães é um acto inteligente, há que pensar antes de agir!”
Se a prática dos túneis se remeter a isso mesmo, então o seu ensino apenas beneficiará os binómios que a eles concorrem e pouca ou nenhuma validade terá para a restante população e para o mundo, ainda que se preste a uma ou mais modalidades competitivas e congregue à sua volta grande número de pessoas. Mas será apenas lúdico o seu propósito e utilidade? É evidente que não! O fim útil dos túneis aponta para duas direcções: a salvaguarda do cão e a prestação de socorro a terceiros. Entendido este duplo propósito, percebemos imediatamente que os túneis servem de capacitação e simulacro para acções reais, permitindo ao cão evadir-se e prestar socorro a pessoas, o que nos transporta para as disciplinas de resgate e salvamento e faz dos túneis currículo obrigatório.
Em Portugal e não só, tem-se alimentado a falsa ideia que o salvamento e resgate de pessoas é tarefa exclusiva dos cães policiais ou dos pertencentes aos bombeiros, a quem indubitavelmente também cabe essa tarefa, como se a excelência canina escolhesse fardas e os restantes cidadãos não tivessem cães de igual ou superior qualidade para esse fim. Como o hábito não faz o monge e as calamidades não escolhem as imediações dos quartéis, também porque a prestação de socorro é por norma urgente, é de todo conveniente que as escolas caninas civis também se dediquem ao resgate e salvamento nas suas múltiplas vertentes, opção que as tornará mais válidas aos olhos da sociedade e que mais justificará a sua existência e propósito.
Portugal, apesar de ser pequeno, tem um clima ameno, é bem servido de auto-estradas e rico na diversidade de ecossistemas, o que nos permite treinar todo o ano, deslocar-nos facilmente e trabalhar onde precisamos, adestrando e especializando os cães onde a sua ajuda é mais necessária. Convém não esquecer que o País continental, no contexto da tectónica das placas, situa-se na placa euro-asiática, limitada a sul pela falha Açores-Gibraltar, a qual corresponde à fronteira entre as placas euro-asiáticas e a africana e a oeste com a falha Dorsal do Oceano Atlântico, o que o coloca numa zona instável de actividade sísmica (interplaca e intraplaca). Queira Deus que o Terramoto ocorrido em 1755 não se repita! Usufruir da companhia de um cão é excelente mas treiná-lo para valer aos outros ainda é melhor!

FRASE DA SEMANA

A frase da semana chega com duas de atraso, é da autoria do cidadão João Sá, treinador de cães, há muito dedicado ao Agility e sobejamente conhecido nesse meio, que no seu jeito peculiar (desinibido, irrequieto e fortemente emocional), nos disse: “os outros diziam-nos quando parar e estes somos nós que temos de pará-los, porque estão sempre prontos”, referindo-se às diferenças existentes entre os Pastores Alemães e os Borders Collies na prática do Agility. A frase, de uma verdade inquestionável, provem de quem sabe e trabalhou com as duas raças, alcançando com ambas notoriedade. Se outros não o fizerem, e têm mais que obrigação para o fazer, a Acendura Brava ao reconhecer o seu papel em prol do Agility em Portugal, presta aqui, mais uma vez, pública homenagem ao “Homem dos Cãogurus”, porque apesar de gasto, mantém o mesmo ânimo e continua a trazer novos praticantes para a modalidade, debaixo da mesma alegria, devoção e paixão, empreendimento difícil de levar a cabo sem o contributo da sua esposa. Com “as cornadas” que a vida lhe tem dado, bem que já poderia ter zarpado e dedicar-se a treinar coca-bichinhos. Mas não, o João é como os Borders: nunca pára! Obrigado rapaz, é bom ver-te assim. O “Mister Agility”está mais velho mas continua na linha de partida, talvez não enriqueça mas tem enriquecido a vida de muitos pelo melhor entendimento entre homens e cães.

PARA MIM TEM QUE SER ASSIM: A SENTENÇA DUM PACÓVIO

Estranhamente, sempre será mais fácil ensinar a matar do que a amar, talvez porque a violência aguarda ocasião e o perdão não está ao alcance de todos. Um proprietário canino, acostumado a pagar para ser servido e não querendo ser importunado, quando alertado para a necessidade de estabelecer vínculos afectivos com o seu cão, que deseja para guarda, exclamou a seguinte sentença: “mando dar-lhe a melhor ração, pago o reforço com comida fresca do seu penso diário, mandei erigir-lhe um canil espectacular, faço com que o levem ao veterinário quando é preciso, pago para que o treinem e o bicho tem que me obedecer à primeira, para mim tem que ser assim, já que o cão tem todas as razões para gostar de mim”. Do alto da sua tolice, este senhor esquece-se que o cão é um ser social, um amigo que precisa de ser amado e que não dispensa uma relação cúmplice, que devolve em protecção o carinho que recebeu. Se persistir nesta atitude é possível que perca o cão para o tratador ou para algum dos seus empregados, gente que conhece e segue para toda a parte, porque desde sempre estiveram ao seu lado, quer cuidando dele quer ensinando-lhe aquilo que sabe. Não estará já na altura deste senhor se aproximar do animal, de “perder” tempo com ele, de participar nas suas brincadeiras e de o recompensar, de o chamar para o seu lado, de deixar de lhe ser estranho e de o fazer sentir seu? Os cães não se deixam comprar, seguem quem primeiro os amou!

ESSE FLAGELO CHAMADO DISPLASIA AMBIENTAL

Sempre se ouviu falar que a displasia coxo-femural pode ter outra origem que não a genética e resultar também de razões ambientais, normalmente ligadas ao desrespeito pelo particular de cada raça e dos indivíduos, ao seu tamanho, à sua curva de crescimento, à qualidade das suas dietas e ao tipo de exercício solicitado aos cães enquanto cachorros. Ainda que a “displasia do cotovelo” seja um termo generalista, porque engloba quatro patologias de desenvolvimento (osteoncondrite dissecante, fragmentação do processo coronóide, desunião do processo ancóide e incongruência articular), também ela pode ser despoletada pelas mesmas razões ambientais que acima manifestámos. Como o tema excede em muito a nossa competência e tem sido objecto de várias teses por toda a parte, remeter-nos-emos apenas aos casos mais comuns e por nós observados, uma vez comprovados pelos veterinários que nos assistiram, relativos às relações entre a dieta e o exercício (trabalho), ao tipo de instalação doméstica, ao concurso de brinquedos impróprios, à ausência de passeios diários e ao desrespeito pela morfologia dos distintos grupos somáticos caninos, no período compreendido entre os 4 e os 18 meses de idade dos animais.
A relação dieta pobre e exercício exagerado ou inadequado. Primeiro há que considerar se os cães são de raça grande ou pequena, se quadrados ou rectangulares, porque os estragos são maiores e mais visíveis nos cães grandes e rectangulares, devido à sua curva de crescimento, a uma maior plasticidade e à consequente morosidade do seu processo de ossificação, apesar ambos poderem vir a ser vitimados pelo nanismo, o que não é absoluto, mas que implicará em menor tamanho, na diminuição da densidade óssea e na perca substancial de envergadura. Nos casos que observámos, esta relação mais contribuiu para a displasia do ombro do que para a coxo-femural, estando também associada a fenómenos como: pernaltismo, peito estreito, joelhos para dentro, mãos divergentes, pé chato, abatimento de metacarpos, dorso selado, descodilhamento e jarrete de vaca.
A relação dieta rica e exercício precário. Esta é a relação que mais contribui para más formações ou deformações ósseas, que induz ao crescimento exagerado, ao aumento de peso e à sobrecarga das articulações, produzindo nelas alterações anómalas ou indesejáveis. Tanto as displasias do cotovelo como a coxo-femural encontram aqui razão para a sua origem ambiental, porque o aumento de peso, ao ultrapassar o processo de robustecimento natural do esqueleto canino, acabará por condená-lo à deformação.
Particular da instalação doméstica. Pisos duros e escorregadios, percursos de um só sentido, excesso de enclausuramento, inactividade e exiguidade dos espaços, tudo somado ou cada um em particular, de modo continuado e durante a fase de crescimento, podem contribuir para as displasias ambientais, porque propiciam por necessidade ou desuso, assentamentos ortopédicos extraordinários que produzirão alterações articulares nos cães, vulgarmente entendidos como ausência de convexidade e desaprumos.
Brinquedos impróprios para a idade. Antes dos cachorros atingirem os sete meses de idade, não lhe deverão ser entregues ou repartidos brinquedos multi-direccionais, porque contribuem de sobremaneira para a luxação dos ombros e concorrem de modo substancial para a displasia do cotovelo, já que obrigam os cachorros a repentinas mudanças de direcção sobre a espádua, ombros e cotovelos em formação. É importante lembrar que os cães não têm clavículas e caso o cão persista em coxear de uma das mãos, deverá de imediato ser levado ao veterinário, para que a possível luxação de um dos lados não leve à sobrecarga do outro e venha a comprometer ambos.
A ausência ou impropriedade dos passeios diários. Cachorro que não se mexe acaba por definhar e sofrer alteração no seu esqueleto, crescendo de forma anómala e de acordo com o seu modo de vida, desusando músculos e comprometendo articulações. Nos passeios diários deverá evitar-se, sempre que possível, os pisos duros (alcatrão, calçada, cimento, etc.) e dar-se à preferência aos de terra. Também os de areia solta deverão ser evitados, para que o esforço que requerem não venha a ofender o esqueleto dos cachorros em formação. Assim, nas idas à praia, os passeios deverão acontecer onde a areia que encontra mais compactada, geralmente junto ao leito dos rios ou próximo da água do mar.
Desrespeito e abuso da morfologia canina. Mais do que a inactividade, o esforço é a causa que mais contribui para a displasia de origem ambiental e acontece geralmente por desrespeito à curva de crescimento dos cachorros, à sua morfologia e andamento preferencial. Os cães rectangulares demoram mais tempo a galopar que os quadrados, tendo como andamento preferencial a marcha ou o passo de andadura. Os cães mais pequenos galopam mais cedo que os grandes, que normalmente galopam periclitantes (“à coelho”) até aos sete meses de idade, com os membros posteriores a reboque da espádua e paralelos entre si. Muitos cachorros acabarão rebentados, tanto atrás como à frente, pelo desafio das bolas que os convidam a galopar precocemente ou a saltar amiúde na sua procura, graças ao esforço empreendido. A persistência neste tipo de exercícios inusitados tem favorecido a ocorrência de displasias de origem ambiental. Também a descida atabalhoada e constante de escadas antes dos sete meses de idade tem concorrido para igual incapacidade. A existência da displasia de origem ambiental não desculpa e não esconde a de origem genética, porque é menos frequente e sujeita a casos extraordinários.
Cães acorrentados. Não tínhamos previsto falar deste caso mas como entre nós ele persiste, não nos restou outro remédio, porque o acorrentar de cachorros também contribui para o aparecimento de displasias, tanto por inactividade como por esforço, já que provoca alterações no esqueleto dos animais, levando-os a um desenvolvimento atípico e inibidor da sua propensão atlética. Basicamente, a dita displasia de origem ambiental nos cães resulta de fenómenos ligados à sua instalação, à qualidade das suas dietas e ao tipo de esforço que lhes é requerido na fase plástica, podendo acontecer por inactividade, desgaste ou esforço. Adiantámos sete casos, muito embora hajam muitos mais, que outros melhor apetrechados manifestaram e continuarão a manifestar. Debruçámo-nos sobre o tema para esclarecer que a displasia é uma enfermidade multi-factorial e que não se deve apenas à carga genética.
Alguns conselhos. Dê uma dieta adequada para a idade que o seu cachorro atravessa, evite hospedá-lo em locais escorregadios, passeie com ele várias vezes ao dia por pisos de terra ou jardim, não lhe entregue brinquedos multi-direccionais e não o obrigue ao galope sistemático antes dos sete meses de idade, respeite a curva de crescimento do seu cachorro e não o sobrecarregue com exercícios impróprios para a sua idade. Quando forem à praia leve-o a circular onde a areia se encontra mais compactada e jamais o acorrente. Se tiver em conta estes cuidados, dificilmente contribuirá para o aparecimento da displasia de origem ambiental. Diz-se que “quem nasce torto tarde ou nunca se endireita”, mas nunca se ouviu dizer que quem nasce direito não se pode entortar. Para que isso não aconteça, todo o cuidado é pouco! 

sexta-feira, 30 de maio de 2014

RANKING SEMANAL DOS TEXTOS MAIS LIDOS

O Ranking semanal dos textos mais lidos ficou assim ordenado:
1º _ PASTOR ALEMÃO X MALINOIS: VANTAGENS E DESVANTAGENS, editado em 15/06/2011
2º _ O CÃO LOBEIRO: UM SILVESTRE ENTRE NÓS, editado em 05/06/2010
3º _ O DOX, A LINGUAGEM GESTUAL E NÓS, editado em 23/04/2014
4º _ META DIÁRIA PARA GARANTIR O SUCESSO, editado em 23/05/2014
5º _ CONNOSCO DENTRO E FORA DE ÁGUA, editado em 23/05/2014

TOP 10 SEMANAL DE LEITORES POR PAÍS

O TOP 10 semanal de leitores por país deu o seguinte resultado:
1º Portugal, 2º Brasil, 3º Estados Unidos, 4º China, 5º Reino Unido, 6º Alemanha, 7º Índia, 8º México, 9º Espanha e 10º França.

sexta-feira, 23 de maio de 2014

CONNOSCO DENTRO E FORA DE ÁGUA

Contrariamente ao que se julga, a maioria dos cães não sabe nadar ou nada sofrivelmente, mesmo aqueles que se dizem indicados para isso, o que não impedirá que todos venham a nadar e a fazê-lo muito bem, havendo alguns que mais tarde serão aproveitados para a detecção, resgate e salvamento de náufragos ou para a procura de cadáveres submersos. As raças caninas mais rústicas e ainda descendentes do chacal, que não são muitas, são as que aprendem a nadar mais facilmente, dispensando por norma qualquer ensino prévio.
Persistimos em ensinar os cães a nadar por três razões: primeiro para sua salvaguarda, depois para nos acompanharem e finalmente para nos ajudarem. A primeira condição a considerar para ensinar um cão a nadar é a temperatura da água, que deverá ser minimamente igual ao valor das temperaturas médias anuais verificadas no ecossistema onde o animal se encontra inserido. Em Portugal esse valor tem oscilado entre os 14,3 e os 14,6 graus centígrados nos últimos 40 anos, pelo que aconselhamos só iniciar esta prática quando a temperatura da água se encontrar no mínimo a 15 graus célsius, para se evitar o incómodo, a aversão e o pânico de alguns animais, assim como os riscos de lesão e os choque térmicos, ainda que mais tarde alguns cães, devido ao seu tamanho, particular do seu manto e preparação específica, possam trabalhar dentro de água com temperaturas significativamente mais baixas, tanto de dia como de noite.
Depois de considerada a temperatura da água, importa identificar qual o perfil psicológico do cão, porque será ele que nos indicará onde, como e com quem deverá ser introduzido na água, se numa piscina, no rio ou no mar, atrás de um brinquedo ou acompanhado pelo dono. Muitos cães são avessos à água por inexperiência e resistem à sua apresentação por imitação dos seus donos. O ideal é fazer a iniciação numa piscina onde o cão tenha pé e o dono possa estar ao seu lado, para que não se agite e bem depressa se familiarize com o meio aquático, convidando-o a agarrar brinquedos e a seguir o seu líder.
Pouco a pouco, o animal deverá ser introduzido nas áreas mais profundas da piscina. Caso se verifique que apenas esbraceja e desusa as pernas, deverá ser acalmado e rebocado pela trela, para que aprenda a nadar com as quatro patas abaixo da linha de água.
Se houver paciência para o acalmar e for adequadamente animado, o cão bem depressa entrará e sairá da piscina a seu bel-prazer, tanto para se refrescar quanto para se exercitar especialmente durante o dia e nos meses de maior calor. A primeira coisa a ensinar a um cão na piscina é a sua saída, porque vendo-se aflito, logo a procurará.
Com o cão a nadar correctamente e garantida a sua salvaguarda, é chegada a hora de o manobrarmos como o fazemos em terra firme, aplicando-lhe todos os comandos direccionais, de busca e de recolha, ao nosso lado ou isoladamente. Existem no mercado inúmeros brinquedos flutuantes para o efeito, com propósitos específicos, de vários tamanhos, de diferentes formas, de cores garridas ou florescentes.
A tarefa seguinte é ensiná-lo a mergulhar, capacitação que pode acontecer pela procura dos brinquedos, pelo mergulho do dono, pela sua chamada ou pelo somatório destes procedimentos. Mergulhar correctamente exigirá dos cães treino aturado, para que não se magoem, percam a concentração ou se delonguem nas acções. Todos eles, independentemente do seu serviço e segundo o progresso que lhes é exigido, evoluirão da piscina para os lagos, destes para os rios e dali para o mar, chegando alguns a nadar em alto-mar.
O Cão de Água Português pode ser um precioso auxiliar nos rios e no mar, mas jamais será um cão de resgate puro, porque lhe falta tamanho, envergadura e peso. Contudo, ele pode mergulhar e encontrar algo que caiu borda fora, submergir para nos prestar socorro ou ajudar a libertar-nos. Pode ainda ser usado como detector de cadáveres dentro de água. Infelizmente a displasia coxo-femural flagela a raça e muitos dos seus exemplares padecem dela, o que lhes compromete o uso e obsta ao rendimento.
Quando deveremos ensinar um cachorro a nadar? Por norma na idade da cópia, aos 4 meses de idade, altura em que manifesta o desejo de acompanhar os cães adultos nas suas excursões e se junta ao grupo, funcionando os mais velhos como seus mestres. Os cachorros pertencentes a raças com curvas de crescimento muito alongadas, porque demoram a equilibrar-se do ponto de vista biomecânico, deverão iniciar a natação um pouco mais tarde (2 meses depois). Existem cachorros que voluntariamente se jogam à água antes da idade da cópia e que nadam automaticamente. Quando o ocorrido não resultar da inexperiência ou descuido dos animais, o fenómeno ficará a dever-se à excelência dos impulsos herdados e a um perfil psicológico resoluto e seguro. Há quem inicie os cachorros mais cedo, especialmente se os seus pais forem exímios nadadores, o que até pode ser desejável.
Para além dos aspectos ligados à maior aptidão canina, o exercício natatório presta-se ainda à recuperação de lesões, ao equilíbrio emocional, à correcção de aprumos e ao desenvolvimento harmonioso dos cachorros, podendo também estender algumas destas mais-valias aos cães adultos, o que transforma a natação numa excelente terapia. Grande parte das lesões tendíneas, musculares e ligamentares, dependendo da sua natureza e da temperatura da água, podem mais facilmente ser ultrapassadas pelo concurso da natação. Os cães mais extremados (agressivos, rebeldes, ansiosos, desligados, obesos, manhosos, bonacheirões e pouco activos) reequilibram-se a nadar, devido à vulnerabilidade que favorece a liderança e facilita o seu norteamento.
Por outro lado, os cães mais avessos ao exercício físico, não lhes restando outra alternativa, aumentam a sua disponibilidade física e emocional ao nadarem, o que irá facilitar de sobremaneira a sua condução em terra firme. Como os cachorros dos 4 aos 6 meses de idade ainda se encontram na fase plástica, é possível corrigir-lhe os aprumos dentro de água, de modo menos doloso e descontraído, evitando-se assim as indesejáveis bolsas de líquido sinovial ou a ocorrência de outro tipo de lesões. A natação contribui, desde que a sua origem não seja genética, para a supressão ou melhoria das incapacidades físicas mais comuns e visíveis nos cães actuais, tais como: peito estreito, espádua pouco desenvolvida, descodilhamento, mãos divergentes, abatimento de metacarpos e jarrete de vaca, quando requerida sistematicamente e dentro dos limites razoáveis.
Incomensuravelmente mais digno e útil do que andar a jogar ao pau com os cães ou a atiçá-los, é treiná-los como cães de resgate e salvamento, disciplinas que englobam essas mesmas acções no ambiente aquático, o que cada vez mais acontece pelos quatro cantos do mundo. Queremos aqui manifestar o nosso agradecimento e admiração pelos binómios que tem como missão essas tarefas e que mesmo com as suas vidas em risco, não hesitam em socorrer ou valer aos demais. E dentro do mesmo contexto, ensinar o nosso cão a nadar é trabalhar para o nosso socorro e o de terceiros.
Temos por hábito e nunca nos demos mal, tirar partido da Primavera e do Verão para o ensino e prática da natação canina, porque nessas época do ano a temperatura das águas é mais amena e os animais sentem maior desejo de se refrescarem, pelo que é comum verem-nos pelos rios abaixo, de mochila às costas e com os cães ao lado, satisfazendo o desejo excursionista que nos une aos animais. No Outono e Inverno trabalhamos na orla marítima mas não nadamos com os cães. Iremos fazê-lo, como atrás dissemos, nas duas estações seguintes, quando ao treino em altitude juntamos a natação. Estes procedimentos têm aumentado a saúde e longevidade dos nossos cães, cuja esperança média de vida é de 14 anos.
Ano após ano, sempre que introduzimos novos cães na natação, vem-nos à memória uma citação bíblica (Rute 1:16): “ Não me instes a que te abandone e deixe de seguir-te. Porque aonde quer que tu fores, irei eu, e onde quer que pousares, ali pousarei eu…”, porque trabalhamos para manter os cães ao nosso lado, dividimos a nossa vida com eles, usufruímos da sua lealdade e sentimos que não estamos sós. O nosso objectivo é a sua salvaguarda, o nosso trabalho é adequá-los para nos acompanharem por toda a parte, quer seja em terra, no mar ou no ar.
Terminamos enfatizando: não consinta que o seu cão morra afogado, ensine-o a nadar, para que lhe possa valer a si e aos outros, lembrando-lhe ao mesmo tempo dos benefícios que a prática da natação oferece a todos os cães. Já estamos na Primavera e o Verão está à porta, ouse sair de casa e ensine o seu cão a nadar. Se tiver dificuldades ou precisar de ajuda contacte-nos, para isso cá estamos e sabemos como ajudá-lo.

META DIÁRIA PARA GARANTIR O SUCESSO

Muito do insucesso pedagógico canino deve-se à má qualidade dos instrutores cinotécnicos, ao seu despreparo e desinteresse pelos binómios que lhes são confiados, o que nos tempos que correm pode-lhes ser fatal, porque o dinheiro não abunda, a paciência já teve melhores dias e a saturação acontece mais cedo. Hoje como sempre, lembrando as famigeradas “obras de Santa Engrácia”, que duraram mais de dois séculos, grande número de “instrutores” não estabelece planos de aula e banaliza o seu trabalho, agarrando-se a rotinas que desprezam a individualidade de cada conjunto homem-cão, como se cada um não fosse diferente e todos desnecessitassem de vitórias. Esse mau hábito de deixar andar, de esperar que aconteça e de deitar mão ao improviso, está tão enraizado entre nós que quase não damos por ele. E se acontecesse só na cinotecnia, melhor estaria Portugal. Ainda que as aulas possam ser colectivas, com todos os binómios a trabalhar em conjunto, há que reservar um momento para cada um deles, dedicado ao seu particular e progresso, para que ninguém fique esquecido, todos saiam vitoriosos das aulas e regressem mais animados. Assim, cada aula deverá obedecer a um plano previamente definido, onde para além do cronograma das actividades, do trabalho geral, dos conteúdos de ensino a ministrar, das metas e objectivos, deverá constar também um espaço reservado ao trabalho específico, visando o crescimento individual de cada binómio. A relação entre o instrutor e o instruendo é baseada sobretudo na confiança e ela cresce ao ritmo do acompanhamento dispensado. Para que o desinteresse não grasse nas classes, é indispensável que todos alcancem as suas metas diárias, condição que lhes garantirá o sucesso no adestramento.

RANKING SEMANAL DOS TEXTOS MAIS LIDOS

O Ranking Semanal dos textos mais lidos ficou assim ordenado:
1º _ A CURVA DE CRESCIMENTO DAS DIFERENTES LINHAS DO PASTOR ALEMÃO, editado em 29/08/2013
2º _ PASTOR ALEMÃO X MALINOIS: VANTAGENS E DESVANTAGENS, editado em 15/06/2011
3º _ PRETO-AFOGUEADO E LOBEIRO: DOIS IRMÃOS DE COSTAS VIRADAS, editado em 16/05/2014
4º _ UMA DECISÃO ACERTADA, editado em 16/05/2014
5º _ O CÃO LOBEIRO: UM SILVESTRE ENTRE NÓS, editado em 26/10/2009

TOP 10 SEMANAL DE LEITORES POR PAÍS

O TOP 10 semanal de leitores por país deu o seguinte resultado:
1º Portugal, 2º Brasil, 3º Estados Unidos, 4º Índia, 5º Alemanha, 6º Ucrânia, 7º Bélgica, 8º China, 9º França e 10º Reino Unido.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

UM CÃO DE ÁGUA POR ÁGUA ABAIXO

Voltamos a um tema recorrente: a castração dos cães. Vamos contar para os nossos leitores o sucedido com um Cão de Água Português, macho, negro, agora com 18 meses de idade, que acabou castrado por pressão do veterinário e de algumas pessoas ao redor do seu dono, pessoa sensata e com pouca ou nenhuma experiência em cães, que pensando agir certo e querendo evitar males maiores (disseram-lhe que tal seria bom para o saúde do animal e para o seu comportamento), acabou por consentir na esterilização do seu companheiro. Inesperadamente, de um momento para o outro, o cão começou a arremessar-se contra cães e cadelas, a avançar para as pessoas e a insurgir-se contra o dono. Alarmado com as atitudes do bicho, o seu proprietário procurou-nos no intuito de o ajudarmos, porque se sentia impotente e queria levar de vencida os problemas do animal, acabando por trazê-lo para as nossas fileiras. Depois de testado e confrontado com as situações que alarmavam o dono, verificou-se que a natureza dos seus arremessos e tentativas de ataque provinham do medo “injustificável” que sobre ele domina, que o leva a fugir de qualquer cachorro quando solto e a ameaçar qualquer valentão quando atrelado, escondendo-se depois atrás do dono, atitude que repete quando alguém o enfrenta, só saindo dali quando os cães ou as pessoas já o ultrapassaram e se encontram de costas.
Poder-se-ia alvitrar que o comportamento do cão resultasse de haver nascido assim, do dono ser instável ou violento ou do animal ter sido mal sociabilizado, factos que nunca aconteceram, já que antes da castração o animal era alegre e brincava descontraído com os outros cães, mereceu uma instalação doméstica privilegiada, o seu dono é um septuagenário bastante activo e afável que sempre o trouxe à rua por períodos superiores a 1 hora, levando a familiarizar-se com as pessoas, com os outros cães, com a urbe e o seu buliço. Em síntese, a causa do pânico do cão é resultado da castração, porque nunca deveria ter sido castrado e acabou por sê-lo cedo demais. É evidente que cancro nos testículos jamais terá, mas se for de tendência cancerígena jamais se livrará de algum tumor noutra parte ou noutro órgão. Ainda que ninguém o diga e porque este não é um caso isolado, a castração nem sempre amansa e pode inclusive embravecer alguns cães, como aconteceu com este cão. Castrar um Cão de Água Português para quê, quando sabemos que a raça é uma das pacíficas do mundo canino? Por norma, a castração melhor serve aos homens que aos cães, porque os donos livram-se de maiores cuidados e acabam por comprar rações mais baratas, o veterinário ganha uma intervenção cirúrgica e o fabricante da ração que apoia a actual campanha da castração acaba por escoar os seus lotes de pior qualidade. Todos ganham, menos o cão!

UMA DECISÃO ACERTADA

Uma aluna que nos é querida, activa e ambiciosa, tanto no seu trabalho como no adestramento, é obrigada amiudadas vezes a deslocar-se ao estrangeiro, mercê do seu trabalho e projectos de vida. Por norma, quando isso acontece, deixa o seu cão com a sua cara-metade, para que o animal menos sofra com a sua ausência, fique com quem conhece e permaneça no seu território. Desta vez o casal irá ser obrigado a ausentar-se e infelizmente não poderá levar o cão consigo. Decidida a minorar o sofrimento do cão, apesar de se ausentar apenas por dois ou três dias, optou por deixá-lo na sua casa e entregá-lo aos cuidados de uma colega da escola canina, uma moça experimentada e responsável que conhece e adora o animal, que o passeará e o levará ao treino, tendo o cuidado de não carregar consigo outros cães. Só nos resta dar os parabéns à proprietária canina pela decisão acertada. Nem todos os cães têm azar, há alguns com muita sorte! 

PRETO-AFOGUEADO E LOBEIRO: DOIS IRMÃOS DE COSTAS VIRADAS!

Bem que poderíamos servir-nos da “História de Caim e Abel” como introdução a este artigo, mas como o José Saramago tinha uma especial predilecção por ela, ao ponto da interpretar mesmo não sendo um exegeta, fiquemos com a imagem de dois irmãos de costas viradas para explicar as diferenças entre estas duas variedades cromáticas presentes no Cão de Pastor Alemão, criadas em paralelo, eventualmente acopuladas e diametralmente opostas, considerando o tipo de eugenia por detrás de cada uma delas e os seus reflexos para a raça, na inevitável avaliação do seu passado, presente e perspectivas de futuro, segundo a marcha do tempo e as diferentes filosofias que politicamente acompanharam o “Cão de Stephanitz” até aos dias de hoje, nem sempre coincidentes ou decorrentes do seu propósito original. Em simultâneo, desnudaremos as soluções agora mais em voga e a sua validade, sabendo-se que o Cão de Pastor Alemão está enfermo e menos apto, o que tem diminuído a sua popularidade e interesse, levando alguns criadores oficiais a vender cachorros a 1/3 do valor de outrora, flagelo de que a actual crise não é a única responsável nem tão pouco a maior das suas causas.
Toda a gente sabe que o CPA nasceu debaixo dos auspícios científicos da escola britânica, que os escritos de Darwin e Galton influenciaram de sobremaneira os criadores que fundaram a raça, fazendo-a nascer e proliferar pela eugenia positiva, signo que imediatamente transformou este cão num auxiliar de e para o trabalho, princípio tantas vezes repetido por quem o idealizou e criou, mas que apesar disso continua lamentavelmente a ser desconsiderado, já que a validade laboral do Pastor Alemão nunca foi tão posta em causa como actualmente, mercê da exagerada endogamia que mais enraizou defeitos do que qualidades, ao ponto de, aqui e ali, se levantar o espectro da hibridação, o que já aconteceu. A troca de eugenias na selecção da raça, como não poderia deixar de ser, começa com a pressão dos nazis, que adeptos do “seu” arianismo, o fizeram estender também ao Pastor Alemão, achaque que culminou com a expulsão dos cães brancos. Depois da II Guerra Mundial, de uma maior sensibilização sobre os direitos dos animais e da perca progressiva de atribuições militares, o Pastor Alemão tornou-se cão-polícia e também nessas funções se destacou. Gradualmente a biodiversidade da raça foi-se perdendo, graças a opção castradora pela variedade preto-afogueada, que culminou com os cães de beleza, modelos díspares dos seus protótipos, de utilidade duvidosa e incapazes de devolver à raça as mais-valias que sempre a caracterizaram.
Entre o actual preto-afogueado e o ancestral lobeiro grandes são as diferenças, porque o primeiro separa, oculta, tira, prende e sobrecarrega, ao contrário do outro que une, revela, dá, alivia e liberta. Ao tornar-se variedade de eleição, mais numerosa e dominante na raça, o preto-afogueado oculta as variedades ancestrais, sonega a qualidade laboral, estagna-se em si própria e sobrecarrega a endogamia, como se a cor fosse o que mais implicasse na qualidade dos cães. Já o lobeiro estabelece a ponte entre o passado e o presente, revela na sua construção a indispensável biodiversidade, une e transporta as diferentes variedades cromáticas, alivia a consanguinidade e liberta os cães dos malefícios da endogamia, devolvendo-lhes as aptidões que desde sempre os destacaram. O actual preto afogueado é um “no place to go”, um “Ende der Zeile”, porque se encontra estagnado e não consegue sair donde está, a menos que dois ou mais exemplares dessa variedade se tornem recessivos noutra e cruzem entre si, o que não nos garantirá, em absoluto, a qualidade das variedades cromáticas ocultas por causa da dominância até aqui operada.
A precariedade do preto-afogueado há muito que é reconhecida e não é por acaso que hoje se assiste ao advento dos lobeiros, uns incólumes e advindos da eugenia positiva que o trabalhou seleccionou e outros salpicados da eugenia negativa que produziu o preto-afogueado actual, baseada na exclusividade da cor e nas delícias estéticas, a despeito do equilíbrio dos cães (físico e psicológico), à revelia da selecção natural, contra a perpetuação da raça e a sua evolução. Tudo isto tem contribuído para a sua falência, facto comprovado pela diminuição das suas ninhadas e pelo aumento dos criadores doutras variedades cromáticas, que como era de esperar, não cessa de aumentar, ainda que aqui tenha acontecido tardiamente, ao que não é alheio o menor número de classes de trabalho. Basear uma raça numa variedade bicolor isoladamente e só nisso, é remetê-la para os instintos, legar-lhe inquietude, insegurança e ansiedade, conservar-lhe a desconfiança predadora e comprometer a cumplicidade, pois assim acontece com o lobo e outros canídeos selvagens, que necessitam de camuflagem para perpetrarem ataques de surpresa. Afortunadamente, talvez com alguns votos contra, alguém conseguiu segurar os negros e os lobeiros dentro do estalão até hoje, caso contrário, o Cão de Pastor Alemão estaria irremediavelmente perdido. Terá sido o histórico da raça que os manteve? É bem possível!
Também os lobeiros não se sustentariam sem a contribuição dos negros, apesar da sua excelente máquina sensorial, porque exigem dietas mais ricas e variadas, tardam em se afirmar, delongam na cumplicidade e por tendência ou são pequenos ou pernaltos, perdendo com isso dissuasão, o que para companhias militares ou policiais seria impróprio ou caricato, já que desfilar com um “esganarelo” ou um “baixinho” seria no mínimo hilariante. A criação isolada de negros, erro em que alguns persistem, à imitação do que acontece no preto-afogueado, passadas duas gerações, legará à sua prole exemplares carentes de crânio e ossatura, o que tem obrigado esses teimosos à aquisição sistemática de novos cães e ao aumento das suas despesas para garantirem nas suas hostes a envergadura que a raça exige. O beneficiamento histórico para o trabalho sempre resultou da junção do lobeiro com o negro e hoje, algumas décadas depois e por necessidade, retornou e em força, sendo mais numeroso do que os beneficiamentos operados entre o preto-afogueado com o lobeiro ou com o negro, apesar de melhor servir à variedade unicolor a contribuição do preto-afogueado, como tantas vezes experimentámos, fomos bem sucedidos e recomendámos, muito embora os exemplares usados dessa variedade fossem descendentes de lobeiros e raramente tivessem alguma ascendência na mais recente linha estética.
Diz-se que “há males que vêm por bem” e isso aconteceu com os lobeiros, que desprezados pelos criadores dos preto-afogueados, viram-se obrigados durante décadas ao beneficiamento com outras variedades cromáticas originais, umas ainda aceites pelo actual estalão e outras somente admitidas nalguns países, maioritariamente recessivas, todas elas seleccionadas a partir do trabalho, a quem ficaram a dever a sobrevivência e a continuidade, exemplares azuis (cinzentos), brancos, cor de fígado, negros e vermelhos, possibilitando assim a perpetuação dessas variedades unicolores e alcançando para si 18 tonalidades de manto diferentes. Esse “virar de costas” acabou por estabelecer a separação entre as ditas linhas de trabalho e de beleza, a diferenciação a grosso modo entre “linha antiga” e “linha moderna”, como é costume ouvir-se por aqui. A contribuição dessas variedades unicolores acabou por dotar os lobeiros de maior autonomia funcional, mais firmeza e melhor parceria, consoante a participação dos brancos, vermelhos e negros, desde que equilibrados de carácter e sem qualquer insuficiência física. Disso conhecedores, ainda que timidamente, alguns criadores de beleza começaram a beneficiar os seus cães com lobeiros, dando origem a exemplares dessa variedade, “cães de trabalho” que apenas se diferenciam dos outros pela cor do manto, preto-afogueados camuflados em lobeiro.
É chegada a hora da reversão no Cão de Pastor Alemão, de reverter a beleza em trabalho e de retornar aos cães do passado recente, de devolver à raça a saúde e a qualidade laboral que sempre a destacaram, eliminando-se as disposições e os conceitos que tragicamente a carregaram até à presente data e que pouco a pouco a transformaram num “passarinho de quatro patas”. As disposições relativas à cor deverão ser revistas atendendo à necessidade da biodiversidade, da saúde articular, do equilíbrio psíquico e da concentração que induzem a um melhor impulso ao conhecimento e facilitam a parceria. Do ponto de vista morfológico importa dar combate ao abatimento de metacarpos, às mãos divergentes, ao descodilhamento, ao peito estreito, ao jarrete de vaca e à exagerada convexidade dorsal motivada pela excessiva angulação traseira, anomalias responsáveis por um conjunto de incapacidades locomotoras que obstam tanto à saúde dos animais quanto ao seu rendimento. A diferença de alturas entre machos e fêmeas deverá ser encurtada, para se acabar de uma vez por todas com o pernaltismo evidente nalguns exemplares, que se deve também à disparidade de pesos entre os sexos (de - 25 para 40kg). Mais do que na morfologia, sem contudo a descorar, a selecção da raça deverá considerar o trabalho como o primeiro dos seus pressupostos, já que para isso nasceu. Com isto não estamos a defender o desprezo pelas linhas actuais, até porque nelas se venceram flagelos como a displasia e outras imperfeições históricas, o que de algum modo as torna beneficiadoras, mas a manifestar-nos contra o seu uso exclusivo ou prioritário, uma vez que é sobejamente conhecida a sua insuficiente prestação laboral.
Há que aproveitar a aldeia global em que vivemos, enquanto é tempo, e reunir os pastores alemães dispersos pelos continentes europeu e americano, unir os pequenos nichos de criação espalhados pelo mundo para se evitar a saturação da raça, reencontrar o seu potencial original e proceder a uma nova selecção. Se persistirmos somente em adquirir cães da Republica Checa e da Áustria, breve estaremos com os mesmos problemas que afectam hoje a variedade cromática dominante. Importa vencer o êxodo da raça motivado pelas decisões políticas do pós II Guerra Mundial e proceder à reunificação do Pastor Alemão, deitar mão aos velhos “alsacianos” e recrutar pastores originários da África do Sul, da Bélgica, do Canadá, da Escandinávia, da França, dos Estados Unidos, das Ilhas Britânicas e da Rússia, para se fazer justiça a Stephanitz, vencer a consanguinidade e alcançar a multivariedade. E os Lobeiros terão nisso um papel determinante!