quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

NÃO SEI O QUE LHE HEI-DE FAZER. MANDAR MATÁ-LO, NÃO SOU CAPAZ!



As pessoas sensíveis não são capazes
De matar galinhas
Porém são capazes
De comer galinhas”.

 Com este verso de Sophia de Mello Breyner Andersen, que denuncia aquela sensibilidade hipócrita do “longe da vista, longe do coração”, que procura o encobrimento de actos deliberados, passamos à história real de um pequeno cão doméstico em apuros, a decorrer à mesmo hora em que vos escrevemos.
Numa família constituída por um septuagenário levemente entrevado, a sua esposa acamada e um neto desta a rasar a maioridade, furtivo, obstinado, revoltado, nada prestável e dado ao disparate, vive um pequeno cão mestiço, bonito, simpático, tido como perigoso, com menos de meia dúzia de anos. O animal, que não ultrapassa os 10kg, segundo o que nos foi contado, ganhou o hábito de morder no pessoal lá de casa. Alarmado com o sucedido, o dono, que até nem achava graça nenhuma a cães, procurou um treinador e optou por teiná-lo. O treino correu  às mil maravilhas e o cão nunca evidenciou qualquer comportamento ou atitude hostil, saindo dali sociabilizado, a andar em liberdade a obedecer prontamente ao seu dono, e tudo isto num só mês!
Por razões não confessas, provavelmente ligadas a algumas indisponibilidades do seu proprietário, fáceis de adivinhar,  o pequeno cão foi privado do treino, apesar de muito se ter instado para que nele continuasse, se necessário gratuitamente. Dois meses após o seu abandono, o dono bate de novo à porta do treinador, sem cão, acabrunhado, à procura de conselho e ajuda. Ao que parece, depois de confinado ao terraço e à varanda, aproveitando uma distracção, o cão fugiu para cima da cama da dona e dali não queria sair. A incomodada senhora forçou a sua saída e recebeu algumas dentadas na mão que pôs por fora dos lençóis. O dono do cão, que entretanto desenvolveu vínculos afectivos com o animal no treino, não lhe querendo agravar a culpa, acusa o rapazola de não o ter passeado convenientemente, porque antes do sucedido, como sempre fez, não teve mais de cinco minutos com ele na rua. Apesar da relação passeio-ataque não justificar de modo algum o desfecho, ficámos sem saber porque razão o dono não saíu com o animal, delegando noutro essa tarefa, uma vez que se encontrava em casa.
Decidido a ver-se livre do cão, o dono foi pedir ajuda a várias associações que se dedicam à recolha de animais, ao momento superlotadas e sem vagas. Não encontrando ali solução, procurou o treinador e o seu conselho, sujentando à aprovação deste a hipótese que lhe parecia mais viável – a do abandono do animal, já que irá viver para a província e perto duma quinta muito grande. Como o cão nem tem microchip, bastaria jogá-lo do portão para dentro e pronto. O treinador ficou estupefacto, de imediato sem palavras, recuperou o fôlego e disse-lhe que mais valia mandar abatê-lo, ao que o homem respondeu não ter coragem para tanto. O objectivo do cinotécnico foi o de chamar o dono à razão, ainda que abruptamente, para que ele tomasse conhecimento da gravidade do acto a que se propunha, o que parece ter resultado, pois o cão continua vivo e ainda não foi abandonado. Talvez seja uma questão de tempo, porque o desespero pode “obrigar” este proprietário canino, mais uma vez, ao propósito de abandonar o pobre animal. A história está contada, o cão ignora o seu drama e o veredicto que sobre ele cairá. Se algum dos nossos leitores o quiser adoptar, contacte-nos o mais rápido possível. O tempo urge. Obrigado.
PS. E já agora, não digam ao dono que sabem qual seu propósito original, porque é uma pessoa muito sensível!

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