sexta-feira, 27 de maio de 2011
NODUM NATUS ERAM (ainda eu não era nascido)
quinta-feira, 26 de maio de 2011
AVERSÃO, INDIFERENÇA, SIMPATIA, GOZO, NECESSIDADE, DEDICAÇÃO E ADORAÇÃO
Não são poucos os que denotam especial simpatia pelos cães. Este sentimento pode provir duma feliz experiência anterior, de um sonho de infância ou de um apego inexplicável e incontido. Será do grupo dos simpáticos que sairá um pequeno número de pessoas que se dedicará a actividades em prol dos cães (recolha, adopção e sustento dos animais abandonados). Esta sensibilidade poderá constituir-se numa necessidade, revestir-se de especial dedicação e atingir a adoração, caminho geralmente sem regresso e que acabará por escravizar os indivíduos seus portadores e estender-se àqueles que aceitarem o seu desafio. Como o seu número é reduzido, a maioria das pessoas que simpatizam com os cães fazem-no porque os não têm e gostariam de os ter. Essa carência de reciprocidade, intimamente ligada à ausência de condições de vária ordem, irá levá-los à procura do contacto com os cães alheios, tratando-os como se fossem seus e não raramente à revelia dos donos, o que é um abuso insofismável, desafortunadamente enraizado entre nós. O simpático acaricia sem avisar, distrai os cães dos outros, tenta cativá-los, dá-lhes de comer e incentiva-os para outros desafios ou brincadeiras, muitas vezes inoportunas face à sobrevivência dos animais e ao cumprimento das ordens anteriormente manifesto, factos que ele ignora pelo sufoco apelativo. Quando não é bem sucedido e os cães reagem de modo inesperado, quer rejeitando a carícia quer advertindo para o abuso, bem depressa cai o vitupério e os seus proprietários, sem maior dificuldade, alcançam o nome de besta. Os simpáticos, talvez por serem apenas simpáticos, não estão para suportar os incómodos que os cães causam, servindo-se apenas dos alheios para a satisfação das suas necessidades, numa clara alusão a um amor quanto baste. Os seus filhos espelharão a mesma educação e todos verão o adestramento como desnecessário, provavelmente porque nada mais esperam dos cães e ignoram os perigos que os rodeiam – Deus nos salve dos bajuladores! Quando finalmente um simpático arranja um cão e se apresenta no treino, é porque encontrou problemas para além da sua capacidade de resolução. A situação exige tacto, porque a natureza dos problemas, só por si, não vai alterar tanto a essência quanto o comportamento do indivíduo. De que padecerá o cão do simpático? Provavelmente de abuso de autoridade, porque quem não consegue refrear-se, dificilmente saberá dar o exemplo, dizer não e abraçar a disciplina. Deseja-se que a sintonia com os restantes alunos escolares corra em nosso auxílio.
Ter cães é uma necessidade para muita gente, algumas instituições não podem prescindir deles e outras ainda não entenderam a sua importância. A necessidade dos cães, intimamente ligada à natureza biológica e social dos indivíduos, prende-se com aspectos ligados ao seu equilíbrio emocional e bem-estar (terapia), ao aumento da autonomia de alguns (deficientes de vária ordem) à possibilidade de novos proventos e também ao retorno idílico à vida simples, campestre e mais saudável (contacto com a natureza). Não abordaremos o segmento dos cães para deficientes, porque disso falarão, com mais propriedade e conhecimento, os profissionais formados para esse efeito. Remeter-nos-emos em exclusivo à necessidade do cidadão comum, que ao contrário do que muita gente pensa, não é desprezível e tem-se revelado de extrema importância para o bem-estar dos indivíduos, suprimindo-lhes carências de vária ordem, relacionadas com o alcance do seu equilíbrio psicológico e com o combate à solidão e ao ostracismo, subsídios objectivos para a sua reintegração social. Todos sabemos do aproveitamento político do desporto e em Portugal um jogo de futebol pode até encurtar uma sessão no Parlamento. O quadro pode parecer-nos rocambolesco, mas as vitórias de um clube de futebol ou da nossa selecção podem alimentar a esperança ou desanuviar aqueles que mais sentem a crise, dando-lhes alento para suportar as dificuldades. Com os cães passa-se exactamente o mesmo, porque não nos abandonam, são nossos confidentes, aceitam-nos tal qual somos, fazem-nos sentir úteis, ajudam na construção do nosso pequeno mundo, são muito afectuosos, fazem da reciprocidade prática corrente, e por aí adiante. Diante deste cenário, não é difícil compreender a possível dialéctica antropomórfica de alguns, que reclamam para os seus cães características e qualidades quase humanas. O discurso não é livre porque em muitos casos a opção foi forçada. Quem tem acompanhado grande número de idosos e solitários? Feito as delícias das crianças e substituindo aquelas que já partiram? Ajudado os jovens a crescer e aliviado as dores de tantos? Quem está sempre ao nosso lado e tem acalentado muitos dos nossos sonhos? Tudo isto revela uma necessidade objectiva dos cães, quer eles surjam por complemento, substituição ou se tornem imprescindíveis. A plebe que precisa deles, como já atrás se disse, tende a tratá-los como iguais, o que nos obrigará a cuidados excepcionais no adestramento desses”cães-homens”, porque para os seus donos eles não são cães, cães são os dos outros! Sempre nos pedirão maior deferência, rara sensibilidade e não se acanharão em manifestar-se. Com certeza iremos ouvir histórias fantásticas, algumas semelhantes às ouvidas entre pescadores e caçadores ou outras relativas a dons paranormais (que eles juram estar presentes nos seus companheiros). Será deste grupo de carentes que sairá o grosso dos indivíduos para os lares de acolhimento e outras actividades relativas ao resgate dos cães abandonados. O indivíduo que não dispensa a companhia do seu cão, depois de confiar em nós, pode tornar-se num aluno modelo, porque através da cumplicidade manifesta poderá chegar à excelência binomial, opção mais equilibrada e que o levará a considerar objectivamente o particular biológico do seu cão. Também nós somos visionários e estamos cá para massificar os sonhos de muitos, porque ensinamos para alcançar a excelente comunicação interespécies e continuamos a acreditar que muitos lá chegarão.
A dedicação aos cães pode não provir duma necessidade ou ser resultado duma carência, porque muita gente abraça o ofício sem dar por isso e acaba por gostar da experiência, como se o tempo aguardasse pela circunstância. O que caracteriza a dedicação é a transformação das velhas rotinas em novos procedimentos, o gozo de descobrir e querer mais, a aposta no caminhar com o cão ao lado e procurar a sua coabitação sem contudo desrespeitar a sua natureza. A dedicação aumenta e depura-se com a experiência, obriga a adaptação de ambos e pode alcançar a comunicação telepática, benefícios que o treino canino oferece e pode despertar. Proliferam por aí ideias ou noções erradas acerca do adestramento, caricaturas que em nada se identificam com esta arte e que apenas servem para relembrar o passado, ilustrar certos propósitos ou ironizar quem os segue. O treino do cão de guerra já lá vai, o de polícia vai a caminho, o de guarda tira o bilhete e o de circo já embarcou. Sobra o cão familiar, e às suas custas o adestramento evoluiu para patamares nunca vistos, ganhou criatividade e descobriu outras disciplinas, devolveu os cães aos donos, generalizou-se por todo lado e constitui-se como parte integrante da cultura popular, saiu do troar dos tacões e abraçou a salvaguarda dos animais, tornando o treino canino numa manifestação incontestável de dedicação, graças à relação óptima entre tratamento e adestramento. Só a dedicação alcança o treino e o entende como uma tarefa prioritária, procura o discipulado e busca a simbiose. A transcendência operativa do adestramento reside no amor, na capacidade de cada condutor alcançar uma paternidade extraordinária e incomum, mercê da comunhão de objectivos que o une ao seu cão, não sendo por isso de estranhar que os bons pais venham a ser igualmente bons condutores. Quando essa dedicação se torna cultural, não é difícil compreender como 2 ou 3 gerações da mesma família se filie na mesma escola. Os portadores deste sentimento não esperam que os seus cães façam, ensinam-nos a fazer, são tolerantes e esperam pelas adaptações dos seus companheiros, sujeitam-se ao auto-exame antes de os repreender, são fortes no incentivo, constantes nas acções e dedicados ao aprimoramento. Só a dedicação poderá compreender que o ensino é um acto continuado, sujeito à novidade de desafios e carente de novas soluções. Todos os alunos escolares procedem assim? Não! Mas a Escola existe para os educar, amparar e transformar, e é essa a verdadeira causa da sua existência, já que os cães não aprendem sozinhos e necessitam de sobreviver.
Os cinófobos abominam os cães, os indiferentes dão-lhes pouca ou nenhuma importância, os simpáticos brincam com eles, os gozadores possuem-nos sem os compreender, os que necessitam deles usam-nos e saciam as suas faltas, os dedicados amam-nos, e o que farão os seus adoradores? Adorá-los-ão simplesmente! Como complemento e seguindo mesmo raciocínio, os cinófobos nem os querem ver, os indiferentes querem distância deles, os simpáticos buscam a sua proximidade, os gozadores querem-nos no sítio certo, os necessitados onde fazem falta, os dedicados trabalham para que permaneçam a seu lado e os adoradores arranjar-lhes-ão prerrogativas divinas e andarão de acordo com os seus amuos. E que mensagem transmitirão aos seus filhos? Os cinófobos transmitir-lhes-ão os mesmos medos, os indiferentes tentarão afastá-los dos cães, os simpáticos formarão bajuladores, os gozadores serão gozados pelos filhos, os necessitados isentá-los-ão de maior contacto com os animais, os dedicados tentarão transmitir-lhes igual sentimento e os adoradores, para mal dos seus pecados, raramente têm filhos. Diante de algum contratempo provocado pelos seus cães, os indiferentes livrar-se-ão deles, os simpáticos procurarão ajuda, os gozadores substitui-los-ão, os necessitados levá-los-ão para afinação, os dedicados buscarão solução e os adoradores conformar-se-ão com a sua sorte. Todos eles compreendem ou irão compreender o adestramento de maneira diferente. Para o cinófobo a cinotecnia é uma prática de tolinhos e uma manifestação de maldade, o indiferente vê-lo-á como desperdício de tempo e de dinheiro, o simpático não vislumbrará imediatamente da sua necessidade, o gozador raramente estará para aí virado, o necessitado cumprirá com os protocolos de ensino, o dedicado não o dispensará e o adorador desprezá-lo-á. Afinal, fazemos com os cães o mesmo que fazemos com tantas outras coisas, tudo resulta do nosso maior ou menor interesse e não tanto dos talentos individuais. sábado, 21 de maio de 2011
BINÓMIO: UMA TERAPIA SEGURA CONTRA A FERRUGEM
Apesar do “fenómeno” já ter sido desacreditado, ainda subsistem por aí umas tantas igrejas que oferecem milagres e cura para tudo, como se fossem donas da mais excelente das terapias alternativas. Com este texto não queremos ser confundidos com elas ou interpretados como vendedores de alguma panaceia, tão-somente testemunhar os benefícios que a terapia binomial tem oferecido aos nossos condutores seniores, lançando daqui o convite a todos aqueles que se encontram nessa idade e que não querem, imediatamente, entregar a sua vida aos pontos, porque é possível ser-se ancião e ter saúde. Move-nos a preocupação fraterna e não o aumento dos proventos, porque a maior fatia deste desafio recairá, indubitavelmente, sobre nós e disso estamos cientes, mercê da alteração dos métodos e estratégias a que nos veremos obrigados. Contudo, estamos cá para servir e nisso reside a nossa vocação.
Ao contrário de outros, vá lá saber-se porquê, a Acendura Brava sempre tem tido condutores seniores nas suas fileiras, gente que se tem sentido bem entre nós e que sempre acaba por nos surpreender. Nos últimos vinte anos o seu número foi de 10% na totalidade das inscrições e tem vindo a crescer nos últimos tempos. Talvez isso se deva ao facto de termos muitos reformados, ao cuidado generalizado com a saúde, às múltiplas acções de esclarecimento desenvolvidas nesse sentido e ao querer de alguns que abraçaram e abraçam esse propósito. No tempo em que mantínhamos classes de competição, conseguimos inclusive levar condutores seniores às provas e nenhum deles mal se comportou ou foi motivo de troça, muito pelo contrário! Corrijam-nos se estivermos errados, mas entendemos as escolas caninas como meios para congregar as pessoas e não somente os condutores ou proprietários caninos, porque a organização de qualquer evento sempre reclama por outra gente, vicissitudes que a logística não dispensa e é bom estarmos cientes disso. No mundo global a escola canina deve ser para todos e ajudar na trajectória comum, colocando ao seu dispor as suas mais-valias, independentemente do sexo, idade, raça, actividade, lugar social, credo ou religião das pessoas, porque somos portadores do bem que os cães nos oferecem e não podemos guardá-lo somente para um grupo de eleitos. E se assim não o fizermos, seremos ultrapassados e arrumados nas estantes reservadas aos horizontes da memória, tal qual dinossauros à espera de serem redescobertos. A escola canina deverá ser activa e acompanhar a erudição da modernidade, adaptar-se para os desafios contemporâneos e contribuir para o alcance das aspirações humanas do seu tempo.
Segundo a teoria oxidativa, que hoje não merece qualquer tipo de contestação, considerando também que o excesso de actividade em determinadas idades pode originar tumores, diante do envelhecimento biológico provocado pela respiração (porque cada vez que respiramos, pagamos um preço pela absorção de oxigénio que necessitamos para produzir energia), longe de oferecermos a longevidade, julgarmos ser a prática do adestramento a melhor das terapias para os indivíduos seniores, uma vez que solicita os movimentos naturais inerentes à sua autonomia física, sem contudo provocar grande desgaste ou induzir a maior envelhecimento. Entretanto, seria absurdo sustentarmos que a cinotecnia garante só por si a longevidade, sabendo que ela se encontra ligada, para além do legado genético dos indivíduos, a meios culturais como a nutrição, a medicina e a cirurgia e que tanto ela como a gerontologia, ainda precisam de grandes avanços para lá chegar. Como simples perreros que somos, apenas damos testemunho do que vimos e ouvimos da boca dos nossos condutores seniores. E é com base nisso que convidamos outros iguais a acompanhá-los no combate à ferrugem, para que a sua autonomia aumente sem maiores atropelos e alcancem melhor qualidade de vida. É evidente que não estamos à espera que atinjam os 7.8 km/h em marcha, que venham a acompanhar os seus cães a uma velocidade de 6 metros por segundo ou que suportem duras sessões de treino baseadas na sobrecarga, porque isso nos remeteria para a responsabilidade da morte assistida ou para a convicção duma vida vindoura incomparavelmente melhor. Não é esse o nosso ofício, não abraçamos a metafísica e lidamos apenas com vivos.
Como se depreende, a inscrição de alunos seniores vai obrigar a adaptações e à variedade de métodos consoante as características dos indivíduos, tanto na formação como na sua integração, forçará a alteração dos planos de aula e induzirá à criação de metas intermédias e à novidade de cronogramas, que poderão acontecer isolados ou por integração. Geralmente são convidados a participar nas aulas colectivas até ao período do trabalho específico, estratégia que dá ao grupo um arejamento maior e fá-los sentir parte integrante da classe escolar, pois é importante que todos se sintam bem, que uns não se sintam atraiçoados e outros um empecilho. Para além das vantagens para as partes, o grupo cresce coeso e em sabedoria, recriando no treino um ambiente familiar há muito arredado da sociedade contemporânea, fortemente individualizada e distante dos problemas alheios. Escusado será dizer que o sucesso da integração dependerá de quem dirige: a pessoa do adestrador, que deverá saber gerir o esforço colectivo para o bem-estar individual, sem proporcionar atrasos nos mais empenhados ou vocacionados. À partida a tarefa parece difícil, mas ela irá ser suavizada pela mestria de uns em prol dos outros e é nesta permuta que residirá a melhor solução. Ademais, acresce uma lição de vida: as escolas mais duradouras sobrevivem pela excelência colectiva e as fortemente individualizadas tendem a desaparecer subitamente. Todos são importantes. A que deverá dar mais peso um adestrador: às medalhas ou às pessoas? Dependendo da opção, assim terá mais ou menos gente ao seu lado.OLÁ! EU SOU A CÉLIA.
A DEMORA NA ASSIMILAÇÃO DOS AUTOMATISMOS FUNCIONAIS
Chamamos código ao conjunto das ordens ou comandos a instalar num cão e trabalhamos para que eles se transformem em automatismos funcionais. A riqueza do código sempre apontará para o maior número de automatismos instalados, que tanto podem ser direccionais, de imobilização, lúdicos ou específicos. Todos eles visam a autonomia condicionada dos cães, apostam na sua sobrevivência e oferecem o seu uso. A autonomia condicionada assenta sobre a acção e a sua cessação (travamento e aceleração). A maior ou menor riqueza do código dependerá de dois factores: da qualidade dos condutores e da capacidade de aprendizagem dos cães. A capacitação dos condutores é uma das nossas metas e a capacidade de aprendizagem dos cães irá depender de vários impulsos herdados, que uma vez somados à excelência do impulso ao conhecimento, irão estabelecer a diferença gradativa dos cães. Um bom imprinting, uma boa instalação doméstica e o acerto no acompanhamento dos vários ciclos infantis são subsídios que não podemos desprezar, porque constituem o todo da experiência directa canina e possibilitam a aceitação do código sem maiores atropelos. Para além das diferenças individuais, a capacidade de aprendizagem canina encontra-se cativa aos diferentes grupos somáticos, consoante o seu propósito original e ou posterior selecção. A capacidade de aprendizagem de um cão pode ser melhorada através da experiência variada e rica, quando operada na idade da cópia (4 meses), altura em que os cachorros apresentam maior predisposição e a sua plasticidade é tanto física quanto cognitiva, manifestando nesta altura o desejo de seguir os adultos que virão a tornar-se seus mestres. A nossa opção pelo Método da Precocidade, que devemos a Trumler, visa exactamente esse propósito. Por outro lado, a comunicação interespécies que o adestramento exige, irá depender, como em qualquer mensagem, da qualidade dos emissores e receptores, o que irá classificar os binómios em mais ou menos aptos (o homem deve fazer-se entender para que o cão o siga). O despreparo e a novidade apanham os cães de surpresa e podem obrigá-los a acções inesperadas e próprias dos seus instintos. Para que os comandos passem a automatismos e se alcance o código desejado, que pode acontecer por diferentes linguagens (verbal, gestual ou sonora), é necessário tirar-se partido das diferentes memórias presentes nos cães, que subsidiarão o condicionamento a haver. De qualquer modo, tanto a excelência de um cão como o seu aproveitamento encontrar-se-ão dependentes da qualidade do seu mestre (condutor), e é disso que vamos aqui tratar, desnudando as causas que operam maior delonga no processo pedagógico e que obstam a absorção do código como um todo.
Guardamos do condutor do CPA Master, referindo-se às suas dificuldades iniciais no adestramento, a seguinte frase: “ Isto não é nada fácil, porque temos que procurar direcção, correr, indicar, falar, incentivar e pensar, quando exaustos e debaixo do stress que nos impede o acerto”, perante a novidade da condução dinâmica e diante de obstáculos multi-direccionais (técnica de condução). Como o adestramento é dinâmico, tirado a partir dos diferentes andamentos naturais presentes nos cães, vemo-nos obrigados a considerar o tempo de reacção dos condutores, porque dele dependerá, em grande medida, a instalação do código, a supremacia dos comandos e a sua transformação em automatismos funcionais, que a não acontecerem, lançarão os cães na mais profunda confusão. É por demais evidente que o acerto nos comandos dependerá do seu uso, do tempo dispendido no treino, que por definição é rigor. Será a sua proficuidade que melhor preparará os condutores cinotécnicos, diminuindo assim a surpresa que sempre lhes causa embaraço. Entendemos o treino como um simulacro e meio de preparação para as situações reais. Se seguirmos outra filosofia, facilmente entenderemos os seus propósitos, geralmente ligados ao lazer ingénuo, à exibição e ao mundo do espectáculo, objectivos que se prestam a várias terapias, que aumentam a auto-estima humana e os seus bolsos, mas que nem sempre consideram o bem-estar dos seus parceiros de quatro patas, os “orelhudos” que os acompanham um metro mais abaixo. Ainda antes de considerarmos as razões psíquicas, somos obrigados a confessar que a desenvoltura no adestramento se encontra ligada à disponibilidade física dos condutores, que a melhoria gradual dos seus indíces atléticos, que naturalmente acontecerá com o treino, irá contribui para uma melhor prestação, porque aprenderão a agir em movimento e conseguirão trabalhar por antecipação como lhes será exigível, factores que os ajudarão no conhecimento mais tangível dos animais que conduzem. A ausência de recapitulação dos exercícios adiantados pela Escola obriga ao improviso e por conseguinte ao desapego dos procedimentos. A transição do conceito para a prática não é automática e cria dificuldades acrescidas nos condutores mais distraídos ou naqueles que apresentam maiores dificuldades de concentração, fazendo-os pairar entre o “ver” e o “agir”. O fenómeno é mais visível nos condutores a contas com a puberdade e nos por demais maduros, o que os levará à demora na reacção acertada, os primeiros pela novidade biológica e os segundos pela progressão da idade. Os condutores que trabalham em horários nocturnos (médicos, enfermeiros, polícias, etc.) são geralmente invadidos pela sonolência e pela fadiga, o que lhes afectará a concentração e fará tardar a sua reacção. São geralmente mais irritadiços, aceitam mal os reparos e não procuram ajuda. O mesmo sucede com os ressacados e com os clientes assíduos das “nights”. A demora na assimilação dos automatismos funcionais sempre apontará para a ausência da concentração, visível na demora das reacções entre a identificação do problema e a sua solução (aplicação do comando certo), na delonga entre o estímulo e a resposta adequada. Sempre seremos confrontados com indivíduos propensos à desconcentração, traídos ou não pelas suas emoções, o que se compreende diante do relacionamento entre homens e cães.
Na tentativa de solucionar os problemas aqui adiantados, o adestrador ver-se-á obrigado a fomentar exercícios que melhorem os índices atléticos dos condutores, a convidar os menos aplicados para o trabalho, a tirar partido da mecanicidade das acções junto dos inato desconcentrados, a diminuir a carga dos exercícios para os que laboram invariavelmente durante a noite, a incentivar os jovens para uma vida saudável e ao aquilatar do estado dos doentes, dos mais fragilizados e dos dependentes de medicamentos, criando para eles, caso se justifique, classes separadas ou aulas individuais. Quem disse que ser Adestrador é tarefa fácil?
Não podemos dispensar a melhor das concentrações na condução dos cães que nos pertencem, porque eles necessitam de ser codificados, em prol da sua salvaguarda e em abono daqueles que com eles se cruzam. Para que isso suceda é necessário que os comandos passem a automatismos, que o tempo de reacção entre a identificação do problema e a sua resolução não exceda um segundo. Em síntese, tentar transformar a condução cinotécnica num acto reflexo, mercê da sua prática diária e pela melhoria dos estados físico e anímico dos condutores. Que duro trabalho nos espera! Não nos dará ele volta ao miolo? Há quem jure que sim. terça-feira, 17 de maio de 2011
NOTA DO EDITOR
Vários leitores chamaram-nos à atenção sobre a notícia que demos sobre o falecimento do nosso aluno Carlos Alberto Peçegueiro Veríssimo, nomeadamente acerca do modo como escrevemos o seu primeiro nome de família, julgando encontrar ali um erro a necessitar de correcção. Esclarece-se que, apesar desse apelido se escrever Pessegueiro e de ser essa a grafia que consta nos documentos oficiais do defunto, toda a sua ascendência uterina tinha como nome de família “Peçegueiro”, o que aponta para uma etimologia diferente e reclama outra origem. Graças a isso, o Carlos adquiriu carinhosamente a alcunha escolar de “Rapesch”, numa transliteração dum substantivo semita muito comum no Alentejo, Estremadura e Ribatejo, em tempos idos e anteriores à nacionalidade, que nada tem a ver com pêssegos ou com a árvore que os produz, mas sim oriunda doutra tradição oral. O apelido “Peçegueiro” cruzou o mar e chegou ao Brasil, identifica uma etnia específica entre os portugueses e esteve no passado associado a gente poderosa. Deliberadamente e conhecedores do carinho que o Carlos nutria pela mãe, na hora da despedida, associámos ao homem o nome da sua família materna. Por outro lado e antes que nos acusem de algum proselitismo, adiantamos que o companheiro agora desaparecido era familiar de um dos pastorinhos de Fátima. Agradecemos ainda o cuidado que os nossos leitores têm com as nossas publicações, porque são nossos destinatários e para eles trabalhamos. Bem hajam, Insha’Allah assim continuem. Em sua representação e dos que estiveram ausentes, a classe escolar, capitaneada pelo Monitor Tiago Soares, fez-se presente no velório, apresentando-se com as tradicionais t-shirts negras da Acendura e depositando outra aos pés do defunto, indivíduo que connosco dividiu a última década da sua vida e que merecia muito mais do que a coroa de flores com que foi homenageado. Connosco conduziu os seguintes CPA’S: Toureiro, Luna e Tote, demonstrando um alto espírito colectivo, graciosidade técnica e absoluto controlo sobre os cães que ensinou.BUSCAR OUTRO PARA PERDER OS DOIS
Infelizmente, este é um erro bastante comum, que sempre se repete e que invariavelmente aponta prò disparate: quando um proprietário canino vai buscar um segundo cão sem ter alcançado o domínio completo sobre o primeiro. Não é de estranhar que perca os dois, que a matilha animal aumente os seus dissabores e venha a causar vítimas. Esta opção não esconde a irresponsabilidade e é própria dos indivíduos pouco esforçados, daqueles que pensam que os cães podem viver tal qual canários enjaulados em gaiolas. E depois, se eu não tenho tempo para um cão, como poderei tê-lo para dois? A ausência de domínio por parte do líder ou uma liderança imprópria levam os cães a agir de modo próprio e de acordo com os seus instintos, algo que reprovamos e que pode levar até ao sacrifício dos animais. A saga é própria de gente moça, grande nas ambições e parca de soluções, também doutros cuja idade não lhes trouxe a sabedoria necessária ou daqueles que naturalmente são imprevidentes. Se houver aqui livre arbítrio, ele terá que provir da razão, face ao aumento das dificuldades e a duplicidade dos riscos. Se o cão mais velho for anti-social, como se irá comportar o mais novo? Com quem aprenderá? É possível que o sonho comande a vida, mas é também importante andarmos aqui de olhos abertos e com os pés assentes na terra, conselho que sempre ouvimos da boca de quem nos quer bem. Já sabe, se você não tem tempo para o seu cão, se tem dificuldades de entendimento ou já se desinteressou dele, arranje tempo, procure o necessário entendimento e descubra o muito que ele tem para dar. Talvez não venha a precisar de um segundo cão e descubra finalmente qual a sua dimensão real. Os cães não são para levar de ânimo leve e a leviandade das opções pode transformar-se num caso muito sério. Exemplos não faltam e problemas muito menos. domingo, 15 de maio de 2011
A LEI DE MURPHY E AS OPÇÕES TÉCNICAS DOS CONDUTORES CANINOS
O exercício da liderança é indispensável ao adestramento e cada cão poderá reclamar diferente tipo ou modo para a sua aceitação, de acordo com o particular dos seus impulsos herdados, do seu imprinting, experiência directa e perfil psicológico. Como a maioria dos donos escolhe cachorros arbitrariamente, segundo percepções, sensações e sentimentos únicos, muitas vezes inatingíveis prós outros porque resultam de sonhos, vemo-nos obrigados à árdua tarefa de coadunar o sonho com a realidade, de lidarmos com o desalento daqueles que presos no virtual tropeçam na prática. E é aqui que entra a Lei de Murphy, um engenheiro aeroespacial norte-americano, que nos adianta uma regra prestimosa que convém praticar, inculcar e reavivar. Diz ela: “Se qualquer coisa pode correr mal, certamente vai correr mal”.
sábado, 14 de maio de 2011
CARLOS ALBERTO PEÇEGUEIRO VERÍSSIMO: A ÚLTIMA FAENA

Faleceu hoje, dia 14 de Maio de 2011, um dia depois das celebrações solenes em Fátima, o nosso companheiro e amigo Carlos Alberto Peçegueiro Veríssimo, vítima de doença prolongada. A sua partida deixa-nos abatidos e substancialmente mais pobres, porque este companheiro sempre cerrou fileiras connosco e sempre se fez presente quanto convidado a apresentar-se, participando em imensas exibições da escola e auxiliando-nos quando necessário nas filmagens. No seu restaurante celebrámos ao longo dos anos muitas ocasiões festivas, sempre fomos bem acolhidos e melhor servidos, porque o Carlos foi um genuíno acendra, mesmo nos momentos mais difíceis que atravessámos. Queremos aqui transmitir para a família enlutada e para os seus amigos os nossos sentidos pêsames. O homem do cão preto, porque assim também era conhecido, foi um homem alegre, brejeiro, de sorriso fácil e amante da festa taurina, um indivíduo de gostos simples que tudo fazia para agradar. O forcado das muitas faenas foi colhido pela morte, mas o seu nome será guardado e transmitido até às últimas levas de acendras, porque o mereceu em vida e isso será relembrado para além da sua morte.
sexta-feira, 13 de maio de 2011
CÃES: O QUE FAZER COM ELES
Subscrever:
Comentários (Atom)
