quinta-feira, 17 de março de 2011

ENSINAR HÁBITOS DE HIGIENE

Aqueles que já foram pais sem maiores dificuldades ensinarão hábitos de higiene aos seus cães, porque mal comparado e salvaguardadas as devidas diferenças, estabelecer hábitos de higiene a um cachorro é algo similar a ensinar uma criança a ir ao bacio quando importa largar as fraldas. Os cães são naturalmente asseados, talvez não tanto como os gatos, ávidos na procura do seu lugar social e naturalmente avessos ao odor das suas excreções. Contudo, o cão é animal de hábitos, vive da experiência que tem e sempre reflecte o cuidado ou cuidados que lhe foram dispensados, porque possui poucos instintos e é manifestamente um ser social, aceita a hierarquia e age de acordo com a regra ou disciplina do grupo. Uma vez dito isto, os cães badalhocos ou pouco asseados são-no por culpa dos seus proprietários, vítimas da sua ignorância, despreparo, modo de vida e por vezes até, em raríssimos casos, do seu próprio exemplo. Aqueles que não se conformam com a situação, perante a dificuldade e porque não abdicam da higiene dos seus lares, sempre acabam por interpelar os adestradores da nossa praça, lançando-lhes uma pergunta tantas vezes repetida: “Os Sr.s ensinam hábitos de higiene aos cães?” Apesar da pergunta ser séria, ela é normalmente acolhida com alguma chacota, o que demonstra um humor despropositado e alguma indisponibilidade para servir por parte daqueles a quem cabe o esclarecimento.
E à medida que o tempo corre já ouvimos de tudo, conselhos que ainda prevalecem e que passam por esfregar o focinho dos animais na sua urina ou dejectos, quando não substituídos pela célebre cacetada com um rolo de jornal. Quiçá talvez, agora que os jornais são menos procurados e aumenta o número daqueles que vêm as notícias pela da Internet, essa “terapia” venha a ser substituída pelo arremesso do rato ou por uma cadeirada. Infelizmente também há de quem se valha de sprays repelentes e dizemos infelizmente porque normalmente não alcançam qualquer êxito mercê da sua ineficácia.
Sempre será mais fácil ensinar hábitos de higiene a uma cadela do que a um macho, porque o segundo necessita de marcar território e tendencialmente assinala assim o seu domínio, particularmente diante de novos odores ou quando divide o seu espaço com outros cães. Porém machos e fêmeas podem ser asseados bastando para isso o acerto nas rotinas, porque o cão vive de hábitos e não vê com bons olhos a sua alteração, talvez por segurança e por não ter perspectiva de futuro. A comida à descrição e a constante alteração dos horários do penso obrigam os cães a urinar mais e a defecar amiúde. Os cachorros defecam e urinam mais vezes que os cães adultos, exactamente porque têm pensos repartidos, o que os obriga também a uma maior ingestão de água. Acostume ao seu cachorro logo após comer ou beber a urinar ou defecar no sítio reservado para o efeito, tendo o cuidado de associar a essa acção o comando próprio para a sua execução, coisa que o animal gradualmente assimilará por força da importância que os sons e odores exercem sobre ele. A sua paciência deverá ser superior à resistência do bicho e o acerto do animal deverá sempre ser alvo de recompensa ou felicitação. Geralmente a pressa dos donos provoca atraso na assimilação higiénica canina, porque os proprietários não insistem e os cães irão persistir em defecar em casa. Perante qualquer indisposição ou urgência, os cães que bem assimilaram a regra, chegam a pedir aos donos para que os levem a fazer as necessidades e quem disso fizer orelhas moucas terá de andar em casa em bicos de pés, porque o chão poderá ficar minado.
A intrusão de cães alheios no lar de adopção, a introdução doutros animais de espécie diferente e concorrentes, o cio das cadelas que dividem o mesmo espaço e o odor das roupas do dono, quando em contacto directo com outros cães ou animais, podem gerar percalços e contribuir para o abandono esporádico ou definitivo da regra. Os donos mais desleixados e inimigos do arrumo, particularmente aqueles que deixam roupa espalhada pelo chão, meias e demais roupa interior, porque se encontram fortemente impregnadas do seu odor, são verdadeiros atentados contra as mais elementares regras de higiene, já que os cachorros consideram-nos parte do seu espólio e naturalmente marcam-nos a seu modo, podendo fazer com eles aquilo que lhes aprouver. O nariz dos cães é um exímio extractor de odores e eles insistem no predomínio do seu. Existem cães muito ciumentos pelos donos e que não admiram do mesmo modo todos os membros do agregado familiar, o que os leva a marcar a roupa do dono eleito em prejuízo do odor do outro cônjuge. A melhor disciplina para os cães vem do exemplo, porventura para os homens também, porque são observadores, gostam de agradar e sempre procuram a melhor inserção social.
É importante relembrar, e isto já nos parece um rosário, que os cães nasceram para a excursão e que os machos naturalmente despejam o “depósito” na rua, ao ponto de nenhuma pinga lhes sobrar. Algumas cadelas e outros tantos cachorros resistem a fazer as necessidades na rua, facto que se encontra ligado ao tipo de liderança, a um passado traumático (imprinting ou experiência directa), à fragilidade de carácter ou ao atraso das respectivas maturidades, coisa visível no regresso a casa dos donos quando os cachorros se urinam. O fenómeno será vencido pela alteração de comportamento dos proprietários e pelo crescimento dos animais. Sempre será mais fácil ensinar regras de higiene a quem possui um quintal e quem não o tem chamará de seu os passeios e os jardins públicos. Quem não gosta ou não pode sair com os cães à rua, sempre acaba por encontrar um lugar em casa para o efeito, ensinando o cão a ser gato e obrigando-se a maior zelo na higiene doméstica. Nas viagens demoradas, tanto de carro como de comboio, os cães deverão ser impedidos de comer e beber na véspera, exactamente como se procede nos momentos que antecedem as intervenções cirúrgicas programadas. No entanto, antes do embarque e logo após o desembarque deverão ser deixados livremente para que satisfaçam as suas necessidades fisiológicas. Tivemos recentemente conhecimento de um casal português, emigrante em França, que se desloca regularmente a Portugal por via-férrea, fazendo-se acompanhar do seu caniche dentro dos quartos das carruagens destinadas para o efeito. A viagem demora para cima de 12 horas e o cão nunca se descuidou ou comprometeu os donos, sendo por isso motivo de admiração geral. Como o assunto é extenso, cada cão é um caso e obedece a diferente instalação doméstica, colocamo-nos imediatamente à disposição daqueles que necessitarem de outros ou melhores esclarecimentos. É evidente que existem grupos somáticos, raças e variedades cromáticas mais asseados do que outros, mas uma coisa temos como certa: serão sempre os donos a estabelecer a diferença!

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