quinta-feira, 17 de março de 2011

BRANCO E VERMELHO, AZUL E NEGRO

Sempre estiveram associados ao Cão de Pastor Alemão muitos mitos e a descoberta do ADN sepultou cause todos, pelo menos os relativos à sua pretensa ascendência directa no lobo cinzento (europeu). Mesmo que não tivesse ocorrido a descoberta do ADN chegaríamos à mesma conclusão, porque todas as raças híbridas entre os distintos lobos e o CPA se revelaram de qualidade inferior à deste cão alemão. A raça nasceu policromática e cresceu entre cães unicolores e bicolores, procurou-se um cão de trabalho com as orelhas erectas e muitos cães contribuíram para a sua formação. O bom-nome do pastor acabou por resultar do doseamento dos factores branco, vermelho, azul e negro, exactamente os mesmos que o tornaram badalado. Face à dominância cromática efectuada ao longo de décadas (preto-afogueado), as outras variedades tornaram-se recessivas ou foram simplesmente afastadas, ignoradas ou extintas, opção que hoje se reconhece desastrosa considerando a perca laboral daí resultante. Não podemos dissociar as distintas variedades cromáticas dos cães que estiveram na sua origem, assim como não podemos afastá-las da sua propensão original, afecções próprias, morfologia, serviço e mais-valias, porque são remanescentes da proto-selecção. Charles Darwin e Francis Galton acabaram também por estender a sua influência à canicultura e o eugenismo imperou enquanto o higienismo não se expandiu e os behavioristas se tornaram reis e senhores. A concepção do CPA é saxónica, quer ela seja insular ou continental, porque se foram os alemães que o fizeram, coube aos ingleses a ideia.

Falar de cães é falar de segredos, de convicções pessoais e da sua transmissão quase iniciática, porque os criadores do passado omitiram os seus fracassos e granjearam apreço pelos resultados que tornaram público, algo similar ao que vulgarmente ouvimos: “o segredo é a alma do negócio”. Com o decorrer dos anos, com a perca de atribuições laborais e também porque os cães de raça espelham um certo status, as raças caninas enveredaram pela diferença estética em prejuízo da sua utilidade, saíram do campo para a passerelle, esvoaçaram das mãos dos profissionais e chegaram ao lar do cidadão comum, com as vantagens ou desvantagens daí advindas, as relativas à proliferação de cães acompanhada pela perca da sua qualidade. Hoje discutem-se genealogias e poucos sabem redescobrir ou construir um cão.
Durante 30 anos dedicámo-nos à descoberta do CPA, servimo-nos do produto de mais de 50 canis estrangeiros e cerca de 30 nacionais, advindos, diversos, anteriores ou posteriores ao tão badalado Wienerau. Fizemos isto na procura das variedades ignoradas e na ânsia de encontrarmos maior impulso ao conhecimento dentro dos Pastores Alemães. Passaram por nós milhares de cães (chegámos a produzir cerca de 500 cachorros por ano) e acabámos por descobrir aquilo que os livros não dizem e o que nos quiseram ocultar. As nossas conclusões estão registadas em 3 livros e resultaram do estudo comparativo, da observação e da experimentação, servindo-nos para este último do Centro de Treino.
De facto a variedade preto-afogueada é aquela que é mais fácil de padronizar, a de maior homogeneidade e a de maior versatilidade, constituindo-se num verdadeiro multiusos face às disciplinas cinotécnicas hoje em voga. Não é especialista em coisa alguma mas carrega a aptidão para desempenhar satisfatoriamente qualquer serviço. Porém, o que a difere das recessivas unicolores ou da outra bicolor, aquela que entre nós recebeu o nome de lobeira, uma vez que todas contribuíram para a sua formação? Bem depressa percebemos que não podíamos desprezar o preto-afogueado na construção das distintas variedades recessivas e produzir animais homozigóticos à revelia da sua contribuição, porque umas perdiam envergadura, cabeça e osso e outras viam reduzido ou aumentado o seu tamanho. Trabalhámos em quadro aberto e usufruímos dos benefícios da heterogeneidade, não sempre contratempos porque o produto era inacabado face à selecção operada.
Sinteticamente falando, o CPA lobeiro é aquele que melhor máquina sensorial apresenta e é indicado para beneficiar os tendencialmente inactivos, obesos, pouco atentos, de sofrível propensão atlética e “secos de nariz”. O CPA negro é o mais fiável e o que menos trabalho dá, um amigo que mais cedo atinge as respectivas maturidades e que mais de pronto assume a investidura de que for alvo. Os exemplares cinzentos uniformes no CPA são mais sensíveis e menos propensos a desafios. Apesar de lindos têm menor autonomia, são sensíveis aos problemas de pele e carecem de maior cumplicidade no seu desempenho. Por vezes apresentam problemas articulares graves. Os raríssimos CPA’S vermelhos são maioritariamente oriundos do Leste onde também já não abundam. Carregam consigo a agressividade e a valentia, o desejo de apresentar serviço e uma autonomia operacional excelente. O CPA branco, dito Pastor Suíço ou Canadiano, é um cão com propensão para o gigantismo, que não é verdadeiramente albino e que tanto pode ser dócil como terrivelmente instintivo, podendo virar guia de cegos ou necessitar de mão forte (mais para segurar o pânico do que as investidas). Entre as distintas variedades podem acontecer interacções cromáticas e já vimos cães chocolate de dorso e amarelo limão nas áreas de arrefecimento. O triunvirato desejável no CPA é aquele que resulta da dosagem certa entre os 4 factores cromáticos presentes na raça, nomeadamente nas variedades preto-afogueada, lobeira e negra. A supressão do negro na construção irá originar atrasos no alcance das maturidades e maior delonga na operacionalidade. Fale-nos sobre o seu CPA, talvez tenhamos algo importante para si, apostamos na cumplicidade entre ambos e não queremos que permaneça um desconhecido para si.

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