terça-feira, 29 de março de 2011
AS DESVENTURAS DO MASCARILHA
LAMENTOS DO CÃO QUE QUERIA MAIS
sexta-feira, 18 de março de 2011
DO RAPTO AO ABANDONO: UMA HISTÓRICA VERÍDICA PARA TODOS
Num dia remoto que a história não reza, porque os homens ainda não tinham inventado a escrita, quando começaram a abandonar as cavernas, a dedicar-se à agricultura e à criação de gado, um caçador experimentado e curioso começou a observar detalhadamente os lobos, desejando ter algum ou alguns como companheiros e auxiliares, como parceiros na caça, guardas de rebanhos e protectores da sua casa e bens. Dominado por essas ambições e pensando nas vantagens que traziam, apesar da tarefa não lhe parecer fácil, aguçou o engenho e pôs o plano em marcha. Depois de muito matutar, considerando os perigos que corria, abandonou a ideia de caçar um adulto e optou pelo rapto de alguns filhotes.
Ele sabia ser impossível alcançá-los enquanto mamassem, porque nesse período a mães nunca os abandonavam ou deixavam sozinhos, raramente saíam e quando o faziam nunca era para muito longe da sua toca. Pegá-los nesse idade obrigaria ao confronto com a matriarca, uma peleja a evitar e de desfecho imprevisível. É evidente que com a ajuda de outros homens tudo seria mais fácil, mas tal não agradou ao caçador porque queria somente os louros para si e desejava levar vantagem sobre os outros. Silencioso e à distância, tendo especial cuidado com a direcção do vento, não fosse ele denunciá-lo e fazer gorar os seus intentos, diariamente se predispôs a observar uma ninhada de lobinhos e quando eles já saíam da toca e a sua mãe já caçava amiúde para eles, longe da vista da progenitora, deitou a mão a todos quantos pôde e levou-os consigo.
Daí em diante outros homens seguiram o exemplo daquele caçador, muitas vezes por meios menos escrupulosos, sedentos da mesma parceria e vantagens. O lobo doméstico generalizou-se, foi sujeito a distintas selecções e proliferou por todos os continentes até ao presente dia, sendo pau para toda a obra por causa da dependência. Recentemente, considerando o tempo decorrido até aqui, adquiriu distintas formas, cores e aptidões, abraçou um sem número de serviços e alcançou o título de animal de companhia, num trajecto heróico carregado de vítimas incontáveis por força da parceria. O rapto virou mais-valia e o cão afastou-se irremediavelmente do lobo, sem caminho de regresso e condenado a viver entre nós.
Como nem todas as histórias têm um final feliz e quando o têm, nem sempre são verdadeiras, esta também não o tem, porque a proliferação dos cães acabou por votá-los ao abandono e sentenciá-los à morte, torná-los num carrego e em algo desprezível. Diz-se de quem nasce torto que tarde ou nunca se endireita, o que aqui faz todo o sentido, em abono da verdade e em função do ocorrido. Cabe a cada um de nós alterar o final desta história e podemos fazê-lo não só pela adopção, mas também pela ajuda, esclarecimento e denúncia. Os cães não entendem as nossas desculpas, motivos, projectos ou ambições, seguem-nos somente, reclamando a ancestral paternidade que assumimos no dia em que iniciámos o seu rapto. O cão ainda tem muito para dar, nós é que nem sempre sabemos o que fazer com ele. quinta-feira, 17 de março de 2011
ENSINAR HÁBITOS DE HIGIENE
A SUCESSÃO
Os cães são o nosso serviço, a eles dedicamos as nossas vidas, eles não são uma meta mas sim um objectivo, não nos servem de bengala ou pretexto, meio para outros fins ou oportunidade para outros desejos, porque merecem ser amados, respeitados e entendidos segundo a sua natureza, propósitos muito para além do nosso bem-estar, riqueza ou galarim. Ao adestramento sempre chegam candidatos com pouco para dar na esperança de muito receberem, tal qual emigrante em terra fronteiriça à espera de embarcar, oportunistas e aventureiros de substratos sociais diversos que espreitam um lugar ao sol. Nenhum curso só por si altera a essência humana, o polimento apenas serve para ocultar prós demais aquilo que natureza do indivíduo encerra, a sua pequenez ou grandeza que o contacto com os cães cedo acabará por denunciar. O ensino de cães exige autenticidade, uma predisposição genética que evolui no contacto com estes animais, que vai adiante e se realiza na comunicação interespécies, transformando a paixão em militância e o trabalho em agradecimento. Enganam-se aqueles que julgam o adestramento um “el dorado”, porque os pobres bichos não são produto de primeira necessidade e com facilidade se descartam os homens deles, infelizmente. O gozo no adestramento reside no fazer-se compreender e ser correspondido, porque de uma relação amorosa se trata que visa a salvaguarda dos animais que nos são confiados, exactamente aqueles que ensinamos a rogo de outrem.
O apego à erudição, a insatisfação pela procura de melhores resultados, o estudo constante e a observação demorada não podem ser substituídos somente pela experiência, porque o mundo é feito de mudança, os homens mudam e os cães são nascem de acordo com a sua inclinação ou semelhança, todos os dias surgem novos subsídios e melhores soluções despontam, pois importa acabar de vez com a doutrina da “tábua rasa”. O contacto com os cães é ancestral mas novidade tem aumentado significativamente o seu bem-estar. Estar no adestramento obriga à reciclagem constante, à procura de novos contributos em áreas ou ciências que até aqui nos pareciam desligadas e sem qualquer contributo. Porque a verdade é esta: se os cães nos auxiliam no conhecimento dos homens, serão os homens que melhor nos poderão auxiliar no conhecimento dos cães. Por causa disso, em substituição dos actuais cursos técnicos, não virá longe o tempo em que os adestradores virar a necessitar duma licenciatura. Suceder-nos é também apostar na erudição.
Para além do discipulado, da excelência da mensagem transmitida, da predisposição ou talento natural, do apego à erudição, do conhecimento profundo dos distintos grupos somáticos caninos e da qualidade artística, sempre exigimos aos nossos sucessores experiência prévia e aprovada no ensino de cachorros, de cães adultos e nos sujeitos à reeducação. A somar a isto, exigimos ainda que tenham superior aproveitamento nas disciplinas que ministramos, que se especializem na recuperação morfológica e que dominam os segredos e benefícios dos aparelhos e obstáculos da pista táctica, bem como no domínio completo da técnica de condução. Atendendo à carga curricular facilmente se antevê da necessidade de um estágio pós formação, onde o candidato ou candidatos serão avaliados para a sua futura função. Esse estágio consta de aulas domiciliares e do ministrar de lições às classes escolares., obrigatoriamente antecedidas dos necessários planos de aula. A admissão de candidatos privilegia os alunos oriundos do nosso curso monitores ou os alunos que atingiram a Classe A escolar. Tentamos com estes requisitos melhor capacitar aqueles que darão continuidade ao nosso trabalho, porque a surpresa causa entrave, o improviso gera confusão e o embaraço não será a melhor das pedagogias, já que o desenrascanso adultera qualquer método, compromete a mais sana das filosofias de ensino e normalmente perverte os objectivos procurados. A candidatura a adestrador, para além dos cães que serão colocados à sua disposição, é um convite estendido somente aos condutores, àqueles que se constituíram em binómios e que são proprietários dos cães que conduzem.
De nada valerão todos os requisitos atrás adiantados se os candidatos não forem inatamente líderes, porque o adestramento acaba por ser um curso de liderança, uma investidura escondida por detrás do condicionamento canino, uma ocasião para a mudança que precisa constantemente de ser alimentada e reavivada, já que a propensão da maioria dos condutores é outra e o seu modo de vida isso reforça. Jamais será fácil transformar um escravo num soberano, transmitir convicções a um abatido e partir da desilusão para chegar à certeza. A investidura canina irá revelar-se muito mais atingível do que a humana. E isto Porquê? Porque no treino reconstruímos a estrutura social canina e necessitamos que os donos ocupem nela o lugar que lhes está reservado. Nos primeiros a resposta é natural e nos segundos ela é maioritariamente artificial. A actuação de um bom adestrador é caracterizada pela auto-renúncia em prol do desenvolvimento dos seus alunos, sacrifício hercúleo que reclama disponibilidade, força e ânimo constantes, uma superior perseverança nos princípios gerais da pedagogia de ensino e uma empatia inquestionável, porque alguns donos necessitarão de ser carregados ao colo para que os seus cães venham a segui-los. O bem-estar dum adestrador só acontece pelo progresso das suas classes e o seu gozo só resultará das suas pequenas vitórias. No meio da contrariedade terá de ir adiante e quando o desânimo lhe bater à porta não terá tempo para se deixar abater, porque ele é a mão estendida em ajuda e esse é o seu ofício. Por causa do combate do “aqui” e “agora” a que as metas obrigam e a brevidade de dias dos cães não é alheia, o seu trabalho e empenho vão para além do encerramento das aulas, seguem-no lar adentro até ao refúgio do seu leito e nisto sempre estará só, com os donos às voltas e os cães na cabeça, porque dele se espera solução e o resto aos outros pouco importa. Ainda que o faça em part-time, o seu trabalho será mais árduo do que o exigível a um animador de tempos livres, porque terá de rentabilizar o lúdico e transformar a brincadeira num caso sério, operações que empreenderá gradualmente pela subtileza e que serão sustentadas pela amizade que vai semeando. E neste sentido ele é também um visionário, porque lhe é exigido transformar o grupo em ferramenta, carregar as suas dificuldades e provocar alteração, levar de vencida as situações adversas e criar condições pró sucesso. Muito mais haveria a dizer e aqueles que abraçarem esta paixão irão certamente descobri-lo.
Pelo que foi dito e atendendo à restrição que a escolha exige, quem se agiganta para o cargo? Pouquíssimos nomes nos vêm à memória, será que nos esquecemos de alguém? Se tem todas as condições que exigimos, pretende carregar o nosso fardo e ir adiante com o nosso trabalho, não hesite, apresente-se, certamente será bem-vindo. Venha que se faz tarde! BRANCO E VERMELHO, AZUL E NEGRO
Falar de cães é falar de segredos, de convicções pessoais e da sua transmissão quase iniciática, porque os criadores do passado omitiram os seus fracassos e granjearam apreço pelos resultados que tornaram público, algo similar ao que vulgarmente ouvimos: “o segredo é a alma do negócio”. Com o decorrer dos anos, com a perca de atribuições laborais e também porque os cães de raça espelham um certo status, as raças caninas enveredaram pela diferença estética em prejuízo da sua utilidade, saíram do campo para a passerelle, esvoaçaram das mãos dos profissionais e chegaram ao lar do cidadão comum, com as vantagens ou desvantagens daí advindas, as relativas à proliferação de cães acompanhada pela perca da sua qualidade. Hoje discutem-se genealogias e poucos sabem redescobrir ou construir um cão.
Sinteticamente falando, o CPA lobeiro é aquele que melhor máquina sensorial apresenta e é indicado para beneficiar os tendencialmente inactivos, obesos, pouco atentos, de sofrível propensão atlética e “secos de nariz”. O CPA negro é o mais fiável e o que menos trabalho dá, um amigo que mais cedo atinge as respectivas maturidades e que mais de pronto assume a investidura de que for alvo. Os exemplares cinzentos uniformes no CPA são mais sensíveis e menos propensos a desafios. Apesar de lindos têm menor autonomia, são sensíveis aos problemas de pele e carecem de maior cumplicidade no seu desempenho. Por vezes apresentam problemas articulares graves. Os raríssimos CPA’S vermelhos são maioritariamente oriundos do Leste onde também já não abundam. Carregam consigo a agressividade e a valentia, o desejo de apresentar serviço e uma autonomia operacional excelente. O CPA branco, dito Pastor Suíço ou Canadiano, é um cão com propensão para o gigantismo, que não é verdadeiramente albino e que tanto pode ser dócil como terrivelmente instintivo, podendo virar guia de cegos ou necessitar de mão forte (mais para segurar o pânico do que as investidas). Entre as distintas variedades podem acontecer interacções cromáticas e já vimos cães chocolate de dorso e amarelo limão nas áreas de arrefecimento. O triunvirato desejável no CPA é aquele que resulta da dosagem certa entre os 4 factores cromáticos presentes na raça, nomeadamente nas variedades preto-afogueada, lobeira e negra. A supressão do negro na construção irá originar atrasos no alcance das maturidades e maior delonga na operacionalidade. Fale-nos sobre o seu CPA, talvez tenhamos algo importante para si, apostamos na cumplicidade entre ambos e não queremos que permaneça um desconhecido para si. segunda-feira, 7 de março de 2011
E DEPOIS DO DOMÍNIO?
O VÔO DO BEIJA-FLOR
Há alguns meses atrás fomos contactados por uma condutora duma fêmea CPA, uma jovem descontraída, objectiva e curiosa, oriunda de uma escola canina que não revelou e que para todos os efeitos prestou um excelente serviço àquele binómio, possibilitando à condutora o exercício da liderança sem qualquer entrave e dotando o animal de uma obediência inquestionável. Fosse lá quem fosse quem lhes valeu, esse alguém mereceu e merece os nossos parabéns, porque com mestria executou o serviço e melhor honrou o seu ofício. Desconhecemos a causa do descontentamento da dona e também nada fizemos para o alimentar, porque há que reconhecer o mérito alheio e não enveredar por juízos temerários. Dentro dos Ibéricos ou dos indivíduos da Península Hispânica habita o pior dos inimigos: eles próprios, uma luta que não lhes dá tréguas e que os induz a atitudes extremadas na procura da auto-satisfação, sendo por isso mesmo gente única e profundamente paradoxal, sujeitos a emoções contraditórias que lhes operam o descarrilamento e os transportam à transumância, tal qual beija-flor que vagueia de flor em flor e raramente aterra. Por um pé-de-vento qualquer, ninguém se livra de passar da excelência à mediocridade ou da sumidade à estultícia, basta sentir a contrariedade e logo o “acossado” parte à desfilada. Estar bem com Deus e o Diabo é uma devoção difícil, porque dependendo dos dias ou das horas, não se anteverá claramente a quem estabelecer oráculo, se a um, se ao outro ou a ambos. Não estamos cá para roubar a alunos a ninguém e convidamos todos os proprietários caninos para o adestramento, porque temos boas escolas, diferentes métodos e muito bons profissionais. A pular de flor em flor ninguém chegará a lugar algum, muito embora alguns possam ver no reflexo da sua imagem a causa do seu descalabro.
À VONTADINHA!
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