É importante relembrar, que os cães se encontram sujeitos ao relógio biológico, que a maioria das raças caninas já perdeu a sua rusticidade e que apenas algumas, denotam capacidade para trabalhar em condições climatéricas adversas, sendo para isso, objecto de aturada selecção. Nesta matéria, tal qual operamos na transmissão cognitiva, em que partimos do simples para o complexo, e tomando como exemplo as estações do ano, devemos evoluir, gradualmente, segundo a resistência animal encontrada, já que os cães reagem mal aos choques térmicos.
Os cães acostumados a trabalhar em altitude, suportam melhor as baixas temperaturas, uma vez que as dificuldades encontradas são idênticas, a rarefacção do oxigénio que induz a uma circulação sanguínea mais lenta e por reacção, a um ritmo respiratório mais elevado. Tendo em conta as características climáticas do nosso País, deve-se treinar em altitude no verão, para que o cão passe melhor o inverno. Fica o conselho.
Nos canis a presença do higrómetro é indispensável, pois será ele que nos dirá da qualidade das instalações e dos respectivos isolamentos, isto se o nosso objectivo, passar pela preservação sanitária do nosso fiel amigo, porque ele, infelizmente, não é um “desumidificador”. O excesso de humidade pode agravar problemas cardíacos, respiratórios e articulares, levar a uma incapacidade laboral precoce. Os canis virados a norte, devem ser isolados no inverno, revestindo-se os gradeamentos com placas de acrílico transparente, que deixam entrar a luz, conservam a temperatura e diminuem o percentual de humidade. Se o higrómetro é indispensável, o mesmo se pode dizer do termómetro.
Havendo excepções e o Labrador é exemplo disso, a maioria dos bracóides tem um mau desempenho físico no inverno, entrando facilmente em hipotermia e acusando luxações ao mínimo toque. Os membros leves, que lhe possibilitam a rápida captura, são próprios para trabalhar em Tp2/Hm1, isto se, não forem por demais malhados ou despigmentados, (ex: Pointer).
De princípio e considerando o clima europeu, nenhum cão negro ou maioritariamente negro, deverá ser portador de uma ossatura ligeira, exceptuando os toys que raramente saem de casa, os demais, acabam por sofrer os horrores do inverno, porque não acusando o frio, sujeitam os seus membros a problemas dolorosos. Apesar disso, dão-se melhor no inverno do que no verão, especialmente os homozigóticos, que não possuem no seu manto zonas de refrigeração, (manchas brancas no peito e nas patas). Como naturalmente, os cães negros são de ossatura ligeira, os criadores dos países mais frios, desenvolveram animais de médio porte com ossatura superior à natural. No entanto, com a chegada do verão, um outro problema surge, o do aumento inadequado da temperatura corporal, que leva à aceleração do ritmo respiratório e por conseguinte à fadiga, havendo comummente, percas de energia, advindas da transpiração exagerada. Lembro aqui um provérbio árabe : “ dá ao teu inimigo um cavalo negro”. Cães desta variedade cromática, tendencialmente, deitam-se à chuva, dormem debaixo das portas e “desaparecem” no verão.
Como é sabido, nunca se deve sujeitar um cão ao exercício natatório, quando a temperatura da água seja inferior aos 15º centígrados, porque ao invés de se alcançarem as melhorias de rendimento pretendidas, podemos condenar os cães a vários tipos de lesões, imediatas ou permanentes, segundo o seu nefasto uso.
As condições Tp01/ Hm2, quando combinadas, obrigam os cães ao uso de mantas térmicas e estranguladores de gorro, se a marcha for prolongada, o recurso a botas de protecção, é também obrigatório. As botas de protecção, que já se encontram à venda no mercado, servem também para os percursos de pistagem, especialmente aqueles, desenvolvidos sobre cardos ou espinhos e para evitar os danos provocados pelos produtos corrosivos, sobre as patas dos animais. Quando existem cortes profundos nas almofadas ou nas membranas interdigitais, as botas podem ajudar na recuperação do cão. Todos os binómios deveriam possuir, pelo menos um par delas, para as patas dianteiras dos seus cães, acostumando-os ciclicamente ao seu uso, podendo inclusive, desenvolver trabalho escolar de “botas postas”. O mesmo deve suceder quando os donos visitam estâncias de inverno e levam os seus cães consigo.
Nestas condições ( Tp01/ Hm2), os cães sem subpêlo não devem laborar, especialmente se forem de cor branca e de ossatura ligeira, também os cachorros e os animais idosos, assim como os portadores de problemas articulares, devem ver dispensados os seus serviços. A excepção dos Huskies e Malamutes experimentados, nenhum cão deve executar qualquer tarefa num panorama de Tp00.
O aparecimento precoce de manchas brancas nas áreas de arrefecimento, (debaixo do focinho, na ponta do externo e nas patas), se não for de origem genética, sempre resulta do abandono ou desuso, do exercício diário regular, surgindo como compensação aos débeis ritmos vitais. A pelagem dos Huskies, Malamutes e Pastores Alemães, assim como a dos Rottweilers, pressupõe a sua adaptação a climas frios, tendo zonas inferiores de arrefecimento e superiores de captação e conservação do calor. Quando um cão se molha, a primeira zona a secar é a dos rins e do peito, depois as partes menos sujeitas ao movimento, devendo conservar-se o animal “embrulhado” por alguns minutos, para que a temperatura corporal aumente. Os cães de pêlo crespo ou duplo, depois do banho, são os de mais difícil secagem, porque a sua pelagem foi concebida para resistir à permeabilidade da água.
Se um cão se encontrar instalado num ecossistema de grandes amplitudes térmicas, deve variar o teor de gordura do seu penso diário, mais gordo no inverno e menos gordo no verão, estamos a falar da variação existente entre Tp01 e Tp4, facto que só acontece entre nós, esporadicamente, nas terras interiores e distantes do litoral. A variação do teor de gordura sintoniza o cão com o relógio biológico e opera o apresamento das mudanças de pêlo. Em Tp02 o teor de gordura recomendado é de 24%; em Tp01, 26% e em Tp00, 28%, podendo ser aumentado em função do serviço requerido ao cão. Quem não altera os teores de gordura, socorre-se de produtos com base na vitamina K. Por causa disso, alguns cães apresentam feridas sazonais resultantes de uma dieta repetitiva e duplamente imprópria.
A adequação à humidade e à temperatura encontra-se reflectida na morfologia de cada animal e denuncia o ecossistema donde cada um é oriundo ou o serviço a que destina, ainda que o treino consiga capacitar os cães para condições climatéricas naturalmente impróprias, não o consegue fazer de forma duradoura, pois o cão não está preparado para ir além das suas capacidades, por maior que seja o apego ao dono e eficazes que sejam os automatismos. Binómio que trabalha para além dos limites, arrisca-se a ver um estrangulador vazio, talvez pendurado na parede das recordações, objecto de uma história que não teve um final feliz.
JLS.Garrido
Finalmente pude retomar o contacto, ainda que por breves instantes e à distancia, com a Acendura Brava e aqueles que considero meus amigos, parabens por mais esta realização.
ResponderEliminarUm grande abraço para todos
Alfredo