segunda-feira, 6 de abril de 2009

::: A importância do elemento neutro :::

"Mais vale cair em graça do que ser engraçado", diz o povo e sobre esta matéria parece ter razão! Quando se fala em instalação "at home", pressupõe-se que seja o cão a escolher o líder e não o veredicto da assembleia familiar. São múltiplas as razões que levam à nomeação, mas não há nenhuma que justifique a isenção do parecer do animal. Por causa das razões humanas, muitos líderes transformam-se em NE’s e o contrário também acontece, gerando com isso dificuldades que atrasam ou dificultam, a unidade do binómio e o seu desempenho escolar, nomeadamente nos seus 1º e 2º ciclos.

Para que um cão seja impoluto e incorruptível, é importante que a corrupção e o suborno não tenham origem doméstica, coisa comum de acontecer quando, na família de adopção, se misturam competências e atribuições, operando uns e outros, ainda que inconscientemente, a cessação das ordens mútuas. Com facilidade, tira o cão partido disso, respondendo com a manha, ora escudando-se num; ora pondo-se em fuga, acercando-se para levar vantagem e ensurdendo-se, sempre que lhe convém. Líder e NE são agentes pedagógicos essenciais, porém com atributos e tarefas diferentes.

Ser elemento neutro (NE) é uma tarefa que se julga fácil, mas que na verdade não o é. O NE é também um agente pedagógico e o seu papel é imprescindível para o desenvolvimento do sentimento territorial no cão guardião. Geralmente a sua insatisfação leva-o a acções desnecessárias e a desprezar aquelas que lhe são próprias e exigidas. Para além de ser portador das chaves dos automatismos, instrumento que usa em caso de emergência e na ausência do líder, ele tem um papel deveras importante no equilíbrio psicológico do cão destinado à guarda. Tal qual os condutores, também os NE’s deveriam frequentar a escola, para complementarem o trabalho desenvolvido e adquirir subsídios, para o desempenho eficaz da sua missão, facto que raramente acontece e que pode atrasar ou prejudicar, a evolução canina em tão árdua disciplina.

A estrutura social canina, advinda do sentimento gregário, deve ser recriada no lar humano de adopção, coisa só possível através da presença de um ou mais elementos neutros que, vestindo a pele de "pares", instalam, prazeirosamente, o cão no grupo, gente que o bicho considerará igual e com os quais manterá uma relação afectiva muito forte. Por causa disto, se desaconselha a amizade com estranhos, não vá o cão considerar todos, como membros do seu bando e inutilizar-se para o serviço pretendido. Assim, alguns cinólogos, têm como método o "enclausuramento dos cães em boxes", tentando evitar com isso, as veleidades dos NE’s e a dificuldade dos líderes, em resguardar os seus cães, das mãos dos bajuladores. Em simultâneo, transportam para a liderança acções que, sendo próprias dos elementos neutros, atrasam a instalação dos automatismos requeridos, por quebra de autoridade e variação de procedimentos, recriando no treino, aquilo que por outros, deveria ter sido, previamente, ganho em casa.

Cabe ao NE o "papel de cachorro" o de "irmão de ninhada" e "o que se deixa vencer". O cão necessita disso para se robustecer e quando assim se procede, opera-se o desenvolvimento do seu impulso ao poder,que só deve ser orientado, regrado e direccionado pelo líder que "sobre eles domina". Esta parceria, que é uma brincadeira para o NE, é de suma importância para o cão, fundamentando a confiança inerente a uma experiência directa feliz. Sujeito ao Líder, o animal sai deste trabalho, pronto para enfrentar tudo e todos, certo do seu êxito, mercê das vitórias anteriormente alcançadas. A disputa pelos seus brinquedos e demais pertences; a perseguição, a fuga e captura, são acções que devem ser solicitadas ao animal, assim como a divisão do espaço comum e um comportamento que, sendo tangível, é de todo perceptível aos olhos do cão. Como se antevê, estamos aqui a falar da instalação "at home", cessando estas tratativas, progressivamente, por alturas do 3º ou 4º ciclos escolares, ocasião em que o cão, já equilibrado, evolui para as acções reais e para a identificação dos verdadeiros inimigos.

Quando não há NE’s, o líder tem trabalho redobrado e carece de ser um excelente actor, um daqueles, que na mesma peça, encarna duas personagens diametralmente opostas: o de lobo e de cordeiro. Geralmente ganha-se o amigo e perde-se o guarda. E isto porquê? Pela confusão ordinal dos automatismos lúdicos e funcionais, que levam o cão a considerar tudo uma brincadeira., fixando-se nos objectos e abominando as situações reais, onde eles se encontram ausentes. Visando a eliminação da incapacidade, só a assiduidade escolar pode dar resposta, dando a outros o papel de cobaia, norteando a ira do cão para indivíduos,com os quais, não tem qualquer vínculo afectivo ou caso de sujeição.

Se no imprinting o sucesso fica a dever-se ao criador, na experiência directa, ele resulta do excelente acompanhamento prestado pelo NE, contribuindo ambos e em momentos diferentes, para o futuro trabalho do binómio e para a liderança que ele exige, já que a estabilidade psíquica do cão, encontra-se cativa ao bem-estar social e ao seu escalonamento no grupo: imediatamente após o dono e acima dos outros que com ele vivem.Os NE’s são literalmente o rebanho do seu dono, pessoas que ele zela e protege, elementos indefesos que lhe foram confiados. Quando o NE tende a substituir ou a complementar a autoridade do dono, duas coisas podem acontecer: a inutilidade do cão ou o desprezo pela liderança comum. Assim, se o elemento neutro não quer ou não sabe sê-lo, mais vale não mexer do que estragar!

Uma vez alcançada a maturidade emocional do cão, que leva a uma mudança do seu comportamento, o Ne pode descansar das suas atribuições lúdicas, participando apenas nelas, quando o animal o solicitar, o que será cada vez será mais raro, já que a brincadeira dará lugar ao trabalho. Neste período, persistir nas acções anteriores é desaconselhável, porque se opera a regressão do guardião e se atrasa a sua capacitação laboral. Nesta fase, há que haver um cuidado especial nas discussões domésticas, especialmente entre aqueles mais emotivos e levados a exageros, se há que “partir os pratos”, que o façam longe da presença do cão, para que ele não participe na briga e ache por bem tomar partido.

Em classe e em qualquer dos seus ciclos escolares, o NE não deve operar o reparo do condutor ou do cão, por maiores que sejam as razões que lhe assistam, porque isso pode anular a autoridade de quem conduz e transferir a liderança para quem corrige. Pela mesma razão, os cães submetem-se ao treinador, executando ordinariamente as ordens, antes da sua emissão pelos seus condutores. Isto leva-nos à postura doméstica, já que os intervenientes são os mesmos (líder, NE e cão), os procedimentos deverão ser exactamente iguais.

Na impossibilidade do condutor sair com o cão para o passeio diário, cabe ao NE fazê-lo, contudo de modo diferente, abstendo-se dos comandos inibitórios e de imobilização, usando apenas os direccionais, excepção feita ao comando de "aqui", já que nunca deve soltar o animal e correr riscos desnecessários. Em síntese, a autoridade cede lugar à cumplicidade e o exercício à brincadeira.

Ainda que seja o elemento neutro a confeccionar os alimentos, somente ao líder cabe a sua distribuição, tarefa que executa com rigor, respeitando zelosamente, os horários e local da refeição. Quem assim procede, está a facilitar o trabalho futuro, a laborar, preventivamente, para a recusa de êngodos e contra a aceitação de comida pela mão de estranhos. É obrigação do NE comunicar ao líder: a recusa do alimento; a fraca apetência e os problemas digestivos, se os houver.

A ída ao veterinário, por causa dos aspectos disciplinar e social, é uma obrigação do líder, encontrando-se o NE completamente dispensado dessa tarefa. No entanto, em caso de internamento ou convalescença hospitalar, visando a rápida recuperação do cão, tanto física como psicológica, o líder deve fazer-se acompanhar pelo elemento neutro e deixar junto do animal os pertences que lhe são mais queridos.

Se é fácil a passagem de líder para NE, difícil é a ascensão do elemento neutro a líder, porque o cão, perdendo o seu condutor, resiste à sua substituição e pode enveredar pela letargia que conduz à morte. Visando a salvaguarda da vida do animal, a transferência de autoridade deve ser feita de forma suave, partindo-se da aceitação dos automatismos lúdicos para os funcionais, havendo o cuidado de respeitar o território do cão e as rotinas estabelecidas pelo líder anterior. Em caso algum se deve abandonar o cão a si próprio ou entregá-lo à solidão, já que isso pode ser o princípio do fim. Assim, o líder é obrigado a confessar ao NE todas as manobras que desenvolve com o seu companheiro, inclusive as menos visíveis ou mais secretas, a menos que deseje que o seu desaparecimento, seja acompanhado pelo do cão.

Devido à dificuldade de se encontrar um empregado sério e dedicado, convém que o elemento neutro seja um membro da família, de preferência um cônjuge ou um descendente directo, alguém conhecido e do agrado do cão, que tenha privado com ele e seja capaz de assumir essa responsabilidade.

Porque o assunto não se esgota aqui e é deveras importante, oportunamente, será desenvolvido um seminário escolar dedicado aos NE’s e à problemática das suas funções, onde se adiantarão subsídios pedagógicos, que sendo mais-valias, possibilitarão aos interessados um maior desempenho em prol dos binómios em exercício. Até lá, os esclarecimentos sobre esta matéria, poderão ser endereçados ao adestrador que, dentro da brevidade possível e tendo em conta o seu interesse e oportunidade, os satisfará a quem os solicitar.














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