A frase
que inicia este artigo é da autoria da filha de um casal, já adulta, que
desconcertada com o possível destino do cão familiar, reagiu assim perante a
eminência do animal ser descartado, uma ameaça que rasa o desespero e que
provavelmente não passará disso. Acontece que a sua mãe, por razões que
desconhecemos mas que julgamos ser de pouca monta, apesar do apego do marido ao
animal, intenta livrar-se do cão, um Pastor Alemão jovem, preto-afogueado,
muito carinhoso, confinado em espaço próprio e a ser ensinado por uma
adestradora. Infelizmente, sabemos pela experiência que o destino do cão já se
encontra traçado (talvez a sua má sina tenha começado no dia em que entrou
naquela casa), porque não havendo unanimidade familiar para a adopção de um
cão, dificilmente o animal ali permanecerá por muito tempo. Episódios destes
repetem-se todos os dias, ano após ano, rosário de penas que mais agiganta os
dramas caninos. Oxalá o cão vá parar a boas mãos, não sofra com a transferência
forçada e encontre quem verdadeiramente goste dele, o que nem sempre acontece,
acabando alguns abandonados, esterilizados ou aniquilados por qualquer
incómodo. Se pretender adquirir um cão para a sua família, consulte-a primeiro,
veja se estão todos de acordo, pese as alterações a que irá obrigar e
transmita-as a todos, para que a novidade não se transforme em desastre e o
animal possa vir a ser feliz. A aquisição de um cão carece de ser um projecto
familiar e quando o não é, melhor será desistir da ideia e deixar os cães onde
estão!
sábado, 28 de junho de 2014
PACIÊNCIA QUE A MORTE É CERTA E NINGUÉM TEM PRESSA!
De um momento para o outro, apanhando muita gente
desprevenida, o número de idosos cresceu nas classes de adestramento, graças ao
cuidados médicos que se estenderam a toda a população, sendo comum ver
septuagenários e até octogenários em diferentes classes e disciplinas.
Lamentavelmente, grande número deles “será sol de pouca dura”, e muito poucos levarão
de vencida as propostas cinotécnicas mais simples. Esse insucesso deve mais ao
despreparo das escolas do que propriamente aos idosos, uma vez que não se
encontravam preparadas para trabalhar com a 3ª idade, agravando mais os seus problemas
do que suavizando a sua caminhada, como se não tivessem ali lugar e o
adestramento não fosse para eles uma mais-valia global, uma resposta positiva
para os seus problemas físicos, psicológicos e sociais.
É
evidente que o seu desempenho não será igual ao de outras classes etárias, mas
é totalmente errado recambiá-los para outras à parte, ostracização que só
agravaria os seus problemas e nada ajudaria prá sua inserção social. Limitados
e diminuídos fisicamente pelas alterações corporais de que foram alvo, os
“condutores seniores” apresentam menor mobilidade e funcionam mais lentamente,
podendo necessitar da ajuda terceiros, o que de imediato deverá mobilizar as
classes para o seu auxílio e libertá-los dos comuns índices atléticos
requeridos. Do ponto de vista psicológico, com implicações cognitivas sérias, os
condutores caninos mais idosos, porque apresentam dificuldades em planear o
futuro, demonstram pouca motivação, entram facilmente em confusão mental,
tornam-se ansiosos diante de contratempos, dificilmente se adaptam a mudanças
repentinas e não necessitam de grandes motivos para entrar em depressão,
acabando por sofrer alterações de comportamento ligadas ou não à senilidade,
obrigam-nos à paciência redobrada e ao seu constante encorajamento.
Mais do
que o reparo técnico à sua prestação, importa aumentar-lhes a auto-estima,
ensinar-lhes a encontrar as vantagens da idade e levá-los a aceitar com coragem
essa fase das suas vidas, criando à sua volta um ambiente familiar que os faça
sentir aceites e desejados, companheiros de jornada e gente para nós
importante, dever que esquecemos no dia em que começamos a despachar os avós
para os “lares”. Adestramento é também fraternidade e só ela poderá transformar
uma escola numa família. Sejam bem-vindos todos os condutores seniores, ainda
temos lugar para eles!
VIRAR AS COSTAS QUANDO IMPORTA FICAR MAIS UM POUCO!
Inculcar princípios pedagógicos na cabeça dos
condutores caninos nunca foi tarefa fácil e em Portugal muito menos, porque a
relação binomial é aqui passional e cardíaca, o trabalho sistemático aborrece e
sempre se espera um milagre. Por norma a nossa gente é mais dada ao improviso
que à perfeição, contenta-se com pequenos nadas, atropela metas e objectivos e
deixa-se andar, como se a simples presença bastasse para o alcance dos
resultados e atraso fosse o melhor dos paradigmas. Como importa cumprir as
metas do plano de aula e não prolongar a agonia dos cães, cada binómio deve
sair da classe com os resultados esperados e previamente elaborados, o que nem
sempre sucede, aumentando assim a resistência animal e o pairar dos donos pelas
classes. Cientes disso, sempre aconselhamos os binómios menos aptos a ficar
mais um pouco, dando-lhes acompanhamento individual para que vençam as suas
dificuldades, esforço que desconsideram diante das suas prioridades e de rara
indisponibilidade, retornando à estaca zero no dia seguinte à mesma hora, porque
lhes falta maior esclarecimento, desembaraço, treino e ajuda, razões que
justificam o seu desaproveitamento. Onde estiver a dificuldade, aí importa
encontrar solução, e nós encontramo-nos disponíveis para valer a todos os que
nos procurarem, sendo essa a razão que nos prende aqui. Quem precisar de ajuda,
deverá encarar as dificuldades e não voltar-lhes as costas, lutar mais um pouco
para que a vitória lhe sorria.
O CÓDIGO
Chama-se
código ao conjunto de comandos que garantem a comunicação entre homens e cães,
em diferentes linguagens e por diversos meios, para acções instantâneas ou
previamente garantidas pelo condicionamento, visando o uso destes animais para tarefas
isoladas ou complementares (lúdicas, desportivas, comunitárias, terapêuticas,
de segurança, salvamento, resgate, policiais, militares, etc.). Como o próprio
nome indica, o código não deverá ser do conhecimento geral, a menos que o cão
ou cães tenham sido adestrados para o bem de todos, aceitar diversos condutores
ou para valer a um grupo particular de pessoas. Doutro modo, o seu domínio
torna-se abusivo e poderá comprometer a salvaguarda, o controlo e o uso dos
animais, pelo estabelecimento de vínculos estranhos à unidade binomial,
provocando atrasos ou recuos no cumprimento das ordens, pela desatenção que induz
à resistência e ao desprezo pela liderança. Caso cada um de nós fosse eterno, diante
da melhor prestação canina, justificar-se-ia a entrega do código unicamente ao
dono ou tratador, mas como não o somos, é de todo conveniente que uma segunda
pessoa o conheça e use se necessário, preferencialmente alguém do agrado do
cão, próxima do dono e com maior esperança de vida, para que o desaparecimento
do líder não implique na morte ou eliminação do animal, como já aconteceu.
O ensino
do código começa logo após a entrada do cachorro na nossa casa, uma
aprendizagem comum que não dispensa a mútua observação, fornecida pela
coabitação e pelos vínculos afectivos que pouco a pouco se vão estabelecendo
entre o dono e o seu cão, responsáveis pela cumplicidade que irá possibilitar o
trabalho acessório do animal, baseado em tarefas simples e do seu agrado, pela
aceitação e mestria da paternidade pedagógica, que desprovida de despotismo,
aproveita a dependência e faz uso da máquina sensorial do infante.
O
primeiro comando de obediência a instalar num cachorro é a atribuição do seu
nome. A partir dele se estabelecerá a comunicação e sobre ele assentarão os
preceitos, normas e acções vindouras, funcionando como um verdadeiro código
“PIN” para a sua activação. Diante de tamanha importância, urge perguntar: quem
deverá conhecer o seu nome? Certamente não serão aqueles que raptam cães para
depois angariarem alguns proventos, intentando ainda assaltar os seus donos, tampouco
os que congeminam maltratá-los ou eliminá-los, valendo-se do suborno para os
seus intentos. Por precaução, o cão na rua deve ser um “no name” e perante
grave insistência, adquirir outro que não lhe diga respeito. O uso do nome do
cão encontra-se restrito aos donos. Não obstante, é curioso reparar no número
de cães com o seu nome gravado nas coleiras, provavelmente propriedade de gente
confiada, que desconsidera o perigo pela inocência que não antevê a maldade.
Melhor seria que lá colocassem o número de contacto dos donos e nada mais.
O código constrói-se gradual e pacientemente no lar
e depois no treino, a partir dos vínculos afectivos que geram a experiência
feliz e que não dispensam a recompensa, mediante o aproveitamento da
coabitação, pelo desenvolvimento do impulso ao conhecimento e pela solicitação
dos sentidos caninos. Tudo passa pela atribuição de nomes às acções,
utensílios, brincadeiras, rotinas, regras e desafios que o cachorro vai
conhecendo e que fazem parte do nosso mundo, usando-se em primeira mão a sua
memória afectiva para alcançar a mecânica e facilitar a associativa, muito
embora subsistam cachorros que só lá chegarão pela maior mecanicidade das
acções (repetição).
Por razões ligadas à sobrevivência binomial, à sua
operacionalidade e também para se evitar o uso indevido do cão, convém que o
código aconteça em diferentes linguagens e que seja para os alheios pouco ou
nada perceptível, independentemente da natureza dos comandos. Cada comando
verbal deverá ter um equivalente mímico ou sonoro que despolete a mesma acção,
operados pela pessoa do seu dono, directamente ou indirectamente, por meios
mais sofisticados que garantam a pronta resposta animal à distância, quer o
líder (emissor) se encontre presente ou não.
Visando a exclusividade do uso canino, a validade e
a supremacia do código, todos os comandos deverão, depois de instalados e
assimilados pelo cão, ser aprovados na contra-ordem. A contra-ordem consiste na
emissão dos comandos por terceiros, que conhecedores do código, intentam
accioná-lo para proveito próprio, tudo fazendo para que o animal lhes obedeça,
primeiro na presença do dono e depois na sua ausência. Esta manobra carece de
bom senso tendo em conta o seu objectivo e só deverá ser efectuada na certeza do
animal se ensurdecer para os outros, já que não é um teste mas uma
certificação, pelo que deve acontecer gradualmente para não gerar confusão no
animal.
Um código
é tanto ou mais rico quanto o número de comandos que comportar. Em média,
somando a prestação dos seis grupos morfológicos caninos, os códigos albergam
entre 27 e 35 comandos, muito embora
alguns indivíduos de certas raças possam ultrapassar uma centena e outros se
quedem apenas entre os 15 e os 18. Como testámos vários indivíduos de todas as
raças portuguesas, exceptuando o Cão de Gado Transmontano, o Cão da Serra de
Aires foi o que mais se notabilizou, fornecendo indivíduos capazes de absorver
mais 80 comandos em diferentes linguagens, sendo nisto seguido pelo Cão de Fila
de S. Miguel, a despeito de faltar firmeza ao primeiro e algum equilíbrio ao
segundo diante do exercício da contra-ordem, porque o primeiro tende para a
letargia e o segundo para o ataque. Das raças estrangeiras testadas, e só
testámos as mais comuns entre nós, a que mais se evidenciou foi o Border
Collie, seguido muito à distância pelo Cão de Pastor Alemão. Se tomarmos em
consideração o valor médio dos códigos a instalar nos cães (de 27 a 35 comandos), 20% deles deverão
reportar-se à sua salvaguarda, porque doutro modo estaríamos a valorizar o uso
em detrimento da sobrevivência dos animais.
O aumento
dos comandos a inserir num código irá depender do impulso ao conhecimento de
cada indivíduo canino, do aproveitamento dos seus ciclos infantis e da sua
plasticidade, do tipo de instalação doméstica de que foi alvo, da diversidade
das suas experiências, da cumplicidade havida e da riqueza do treino, o que
justifica o início da instalação do código logo após os 2 meses de idade nos
cachorros. A escolha dos comandos a instalar deverá considerar a vocação de
cada cão para o fim a que se destina e a instalação de cada um deles só deverá
acontecer depois da peremptória instalação daquele que o antecedeu. O código, a
seu tempo, à imitação da obediência que se deseja inquestionável mesmo nas
circunstâncias mais extraordinárias, deve ser usado nas situações menos
vantajosas e onde a comunicação é mais difícil, o que muito irá contribuir para
o desenvolvimento da máquina sensorial dos cães e para a acuidade técnica dos
seus líderes. Todo e qualquer código instalado num cão necessita de
reavivamento e treino, particularmente os comandos menos utilizados e os
ligados à salvaguarda dos animais. Por outro lado, tanto a sua reciclagem
quanto a sua actualização, podem tornar-se indispensáveis perante a novidade de
tarefas, perigos e desafios.
Para que um
código mais depressa se instale, não se veja encurtado e surta efeito, torna-se
imprescindível que os donos usem a mesma ordem para determinado exercício ou
figura e não comandos diferentes para a mesma acção, para que o erro não usurpe
o lugar dos acertos e o vício o dos comandos, já que o primeiro dos entraves
prá instalação dum código resulta da confusão de quem emite as ordens e
compromete as respostas. Atribuir diferentes signos para a mesma ordem é
diminuir o seu número no código, tornando-o mais pobre e menos abrangente,
criar barreiras à comunicação e perplexidade nos animais.
Falar de
códigos é falar também de descodificação, processo ligado à reeducação que
procura a transformação, alteração, substituição ou eliminação de códigos
indesejáveis, trabalho árduo, demorado e de difícil sucesso, quando se
transformaram em modo de vida, foram tirados a partir dos instintos, restritos
à pessoa dos donos e enraizados pelo peso dos anos. Sempre será mais fácil
transformá-los do que eliminá-los, tendo em conta a sobrevivência dos animais seus
portadores, uma vez que o ensurdecimento de alguns pode induzi-los à morte. Primeiro
há que destrinçar o que é natural do que é produto ambiental e depois, a partir
do peso genético, libertar os cães do condicionamento anterior, dando-lhe outro
final pela troca de alvos. Nos casos mais graves e entre cães mais rijos, a
descodificação não dispensará a alteração do viver social, a novidade das
rotinas e a troca de alojamento destes indivíduos, confusão que normalmente os
torna dependentes e por demais vulneráveis. Este processo não se encontra
isento de confrontações e sempre acarreta algum risco para o reeducador e
outros agentes de ensino, pelo que deve ser entregue a um adestrador
experimentado, paciente e precavido, hábil na instalação de códigos para que
não venha a ser iludido pelas pequenas vitórias de fácil retrocesso.
O adestramento outra coisa não é que um processo de
codificação, porque ensina uma nova linguagem para o entendimento recíproco
entre homens e cães. A erudição dos códigos sempre estará ligada à dos seus
criadores, emissores e executantes. Os homens apossam-se dos cães pelo
contributo dos códigos e os cães absorvê-los-ão como modo de vida, honrando-os mais
do que a maioria dos homens, porque vieram para servir e nisso buscam
aprovação.
RANKING SEMANAL DOS TEXTOS MAIS LIDOS
O Ranking semanal dos textos mais lidos ficou assim
ordenado:
1º _ A CURVA DE CRESCIMENTO DAS DIFERENTES LINHAS
DO PASTOR ALEMÃO, editado em 29/08/2013
2º _ PASTOR ALEMÃO X MALINOIS: VANTAGENS E
DESVANTAGENS, editado em 15/06/2011
3º _ NUNCA OUVI LADRAR O MEU PASTOR ALEMÃO NEGRO,
editado em 17/10/2013
4º _ EU QUERIA UM PASTOR ALEMÃO, DE PREFERÊNCIA
TODO PRETO, editado em 05/06/2011
5º _ ROTTWEILER E SERRA DA
ESTRELA (AQUILO QUE OS UNE E SEPARA), editado em 07/01/2010
TOP 10 SEMANAL DE LEITORES POR PAÍS
O Top 10 semanal de leitores por país deu o
seguinte resultado:
1º Portugal, 2º Brasil, 3º
Alemanha, 4º Estados Unidos, 5º Ucrânia, 6º França, 7º Angola, 8º China, 9º México e 10º Polónia.
sexta-feira, 20 de junho de 2014
SÓ COME NOS TREINOS!
Há algumas décadas atrás, alguém a mando do
Instituto Português de Cinema, questionou-nos via telefone se éramos
amestradores de cães, já que necessitavam dum. Como fomos surpreendidos e
chocados pelo termo “amestrador”, fomos incorrectos com a funcionária que nos
interpelou, adiantando-lhe que amestrador seria provavelmente a senhora sua
mãe, desligando-lhe sem mais delongas o telefone na cara. Se fosse hoje
pensaríamos duas vezes, porque muitos adestradores são meros amestradores e a
confusão entre ambos é mais do que justificada, uma vez que o imediatismo tomou
conta da cinotecnia e as “técnicas” do zoomarine alagam as pistas de treino
canino, como se os cães fossem lobos marinhos, orcas ou golfinhos. Em tempos idos,
talvez por causa desta mesma confusão, determinada instituição, subvencionada
internacionalmente, destinada à preservação duma subvariedade do Lobo Cinzento,
nomeou para directora do seu centro uma bióloga marinha, o que remeteu para o
desastre a constituição das alcateias e condenou os lobos à vasectomia. Ainda
bem que isso só acontece lá fora! Por cá as coisas não vão melhor, porque os
privados do curso de medicina vão para veterinária (mesmo que nunca tenham
convivido com um animal por perto), intenta-se levantar um curso universitário
de adestramento baseado em truques (nem queremos imaginar como seriam as suas
praxes académicas), os etólogos exercem a sua especialidade nos “call-centers”
e o circo desceu às classes de trabalho, apesar dos animais dele terem
debandado.
Quase por
casualidade, porque a curiosidade norteia os nossos passos, deparámo-nos com um
condutor canino a treinar para provas, líder de um lupino a rasar o nanismo, de
seis meses de idade mas a aparentar três, que atrás de uns bagos de ração, o
seguia por toda a parte. Como o rapaz era dado à cavaqueira e certo dos seus
procedimentos, adiantou-nos: “o meu cão só come quando o treino, depois vai
para a box”. Verdade, verdadinha, o cão deglutia a ração como uma galinha papa
carochas! Espantados com a voracidade do bicho, inquirimos qual o nome da
ração, afinal uma já nossa conhecida, de origem peninsular, que usámos para
substituir os biscoitos, com menos 13% de proteína e menos 5.5% de gordura que
o recomendável para a idade do cachorro, o que explicou de imediato a sua perca
de massa corporal e o ar subnutrido que patenteava. Deixámos de utilizar essa
ração para o fim que adiantámos porque viciava os cachorros e impedia que
comecem o seu penso diário, factores que comprometiam o seu salutar
desenvolvimento. O nome dela nos não vem agora à memória mas é algo que rima ou
é parecido com “chilique”.
Temos por norma não julgar os métodos de outros mas
não vamos deixar passar este em
branco. O método do rapaz, à imitação de tantos outros agora
em voga, é um retorno ao passado, às origens da domesticação, jamais um passo
em frente para o melhor entendimento entre homens e cães. E se o método é novo
e erudito, então o circo e os malfadados amestradores circenses nunca
existiram, foram fábulas que criámos e que creditam o “déjà vu” a que
assistimos, uma vez que também eles procediam assim nos seus espectáculos.
Vulnerabilizar para dominar, para além de puro especicismo, é estabelecer a
escravatura pela necessidade de sobrevivência, cobardia que desmente quem se
diz preocupado com o bem-estar animal. Se outra coisa não espelhar, este
“método” rudimentar acaba por desnudar as dificuldades de comunicação entre
homens e cães, sujeitando os últimos a trabalhar para comer, o que transforma
os seus adestradores em tratadores ou em meros amestradores. Pondo de parte as
questões filosóficas e pedagógicas, importa ainda realçar os danos físicos de
tal prática, uma vez que os cães acabarão por sofrer alterações morfológicas,
não se desenvolvendo como até ali, estoirando precocemente pela má qualidade
das dietas, pela sobrecarga do esqueleto e pela substituição forçada dos seus
andamentos preferenciais que induzem à exaustão, violência que nos obriga ao
uso das palavras de outrem: “ se isto é método, esperem um pouco que eu vou ali
e já venho!”, salvaguardando assim a boa educação.
Os
defensores desta prática, por falta de maior erudição, acabam por privilegiar e
disfarçar os cães medíocres e desaproveitar os mais capazes, nos aspectos
físico e psicológico, obrigando os primeiros a figuras obrigatórias (pelo
condicionamento mecânico) e os segundos a não ir para além delas (mesmo que
próprios para outras formas de entendimento), o que acaba também por prejudicar
a selecção, já que a maioria destes praticantes, incapaz de identificar os
principais impulsos herdados nos cachorros, teima em escolhê-los pela
morfologia ou pela genealogia, desconsiderando o particular de cada um deles,
numa política de “parece-me bem!”, não lhes conseguindo ver as diferenças, até
porque valoriza o uso em detrimento do bem-estar e salvaguarda dos animais. O
que mais importará: encontrar o cão dos nossos sonhos ou desvendar os seus segredos,
limites, aptidões e defeitos? De outro modo, como poderemos escolher um melhor?
Um Chefe
de Esquadra da PSP nosso conhecido, afável de trato e pessoa experimentada no
seu serviço, disse-nos que há pessoas que vão deliberadamente às esquadras para
apanhar um par de estalos, o que muito nos espantou, adiantando ainda que
alguns o fazem com certa regularidade. E quando não são bem sucedidos nos seus
intentos, tudo fazem para saírem de lá saciados. Do mesmo modo,
inexplicavelmente, à gente que necessita de ir para a rua barafustar, porque
doutra maneira não se sente bem e poderá rebentar. Que grande descaramento tem
aquele que mandou castrar os seus cães, os mantém encerrados e isolados a maior
parte dos dias, não sai com eles à rua, distribui-lhes rações de má qualidade,
tem as suas vacinas em atraso e ainda por cima lhes dá fome para que obedeçam,
quando vai para as portas da Praça do Campo Pequeno insurgir-se contra o
sofrimento dado aos toiros. As touradas (que também não aprovamos) e esse
tratamento dado aos cães remontam à Antiguidade e mais recentemente ao Circo
Romano, onde até as feras passavam fome para devorarem os condenados. Poder-se-á
distinguir-se o grau de sofrimento de uns e de outros, mas não se poderá ilibar
quem violenta, abusa e atenta contra o bem-estar de todos os animais para
benefício próprio.
Como os
termos “amestrador” e “adestrador” aparecem como sinónimos um do outro no nosso
dicionário, importa clarificar a diferença entre ambos, valendo-nos para isso
do histórico de cada um deles, intrinsecamente ligado à sua prática e
objectivos. Amestrador é aquele que procura o domínio dos animais, sem se
preocupar com a sua salvaguarda, a partir dos seus instintos mais básicos no
intuito de alcançar para si proveito, aproveitando-se das suas respostas
naturais para fins diversos da coabitação, tarefa que começou com a
domesticação dos cães ou com a transformação do lobo em cão e que culminou com
os cães de espectáculo. Exemplos de amestradores são o mágico que tira o coelho
da cartola, o músico de rua que põe o cão a transportar a caixa das esmolas e
até aquele que põe os pombos a comer na sua mão.
Adestrador
é aquele que forma, torna hábil e ensina determinado animal para além das suas
respostas naturais e que transporta o seu viver social para a coabitação, valendo-se
para isso de uma relação de cumplicidade. Tem como objectivo dotar os animais
de meios que garantam a sua salvaguarda. Se subtrairmos ao adestramento esta
preocupação e seu objectivo principal, sobram apenas habilidades de cariz
circense ou a ele equivalentes. Qualquer disciplina cinotécnica digna desse
nome não dispensa esse cuidado, independentemente do serviço que é esperado do
cão. Para que isso aconteça torna-se imperativo o controlo dos instintos
caninos e o aproveitamento dos seus impulsos herdados, para que os cães possam
defender-se, não corram risco e vivam por mais tempo, o que irá obrigar ao uso
de diferentes linguagens e à aquisição de diferentes posturas para que os animais
apreendam a mensagem.
Atendendo ao sentimento gregário canino, isso só
será possível pela aceitação da liderança humana, aqui efectuada pela
coabitação, norteamento, cumplicidade, ajuda, exemplo, cuidado e reparo. Sempre
será abusivo, para além de cobarde, trabalho de amestrador, o treino canino que
se aproveita das carências e vulnerabilidade dos animais para alcançar o seu
domínio e que faz prática do suborno para extrair os seus objectivos. O
adestramento não se pode reduzir a uma ida à prateleira dos biscoitos no
supermercado e a uns quantos “chios” quando as coisas correm mal. Ao invés, enquanto
processo pedagógico que visa a capacitação binomial, ele adapta homens e cães
para o alcance doutros tipos de comunicação, exigindo dos primeiros maior
transformação para que sejam ouvidos e melhor compreendidos.
Que
transformações exige o adestramento dos comuns donos que se tornam condutores
dos seus cães? A primeira alteração é de natureza cultural e a mais difícil de
alcançar, porque o tratamento que hoje damos aos cães é relativamente recente e
muitos persistem em entendê-los como outros faziam até há bem pouco tempo,
sobrevalorizando o seu uso diante das suas necessidades, pressuposto geralmente
escondido por detrás duma manifesta indisponibilidade e que acaba também por
tramar o treino canino enquanto novidade. A transformação seguinte, também nada
fácil, é fazer de cada dono um líder responsável, obrigando-o ao uso acertado
da emoção e da ração enquanto pedagogo e de acordo com as respostas do seu fiel
amigo. A terceira transformação aponta para a substituição da linguagem e para
a aquisição da técnica que obrigam ao concurso de outras formas de comunicação,
diferentes entoações e novas posturas, o que geralmente leva os mais
resistentes à exclamação de ausência de dom, jeito, habilidade e a toda a sorte
de desculpas, nunca à falta de humildade, à ausência de curiosidade e empenho.
A quarta transformação aponta para o aumento da disponibilidade física, psicológica
e cognitiva dos condutores, para que melhor possam acompanhar os seus cães,
libertar-se dos seus entraves e conhecê-los tão qual são. A última
transformação, que muitos alcunham de transcendental e que poucos alcançam,
levá-los-á à alteração do seu modo de vida: à coabitação com os cães, à
aquisição de rotinas comuns, à avidez de conhecimento, ao apego aos
procedimentos, ao desejo de mais treinar e ao alcance de novos objectivos – o
adepto torna-se membro do clã!
Para que
o adestramento cumpra o seu objectivo principal, a salvaguarda dos cães, é
imperativo que a todos consiga valer, produzindo neles alteração por força dos
simulacros empregues, advindos de uma experiência feliz, variada e rica, próprios
para lhes fazer esquecer as experiências negativas anteriores ao treino e
capazes de os robustecer física e psicologicamente. Essas alterações passam
pela correcção de aprumos (quando tal é possível), pela melhoria dos seus
ritmos vitais, pelo aumento dos seus índices atléticos, pelo desenvolvimento da
envergadura, pela constituição binomial, pela sociabilização, pelo desempenho
em diferentes ecossistemas, pelo encorajar constante e pelo recurso sistemático
à supercompensação, porque importa transformar os fracos em fortes, regrar os
valentes, valer aos melhores e não desprezar nenhum cão, descobrindo em cada um
deles a sua genuína vocação e tornar todos impolutos e incorruptíveis. E se
isto é adestramento, facilmente se compreende porque são tantos os amestradores
e tão poucos os adestradores.
Como a palavra de ordem no adestramento é
“robustecer para resistir” e não “vulnerabilizar para dominar” (como tantos
outros entendem), importa preparar os cães para viverem ao nosso lado e
torná-los aptos para os desafios do nosso quotidiano, sempre em constante
novidade e com maior risco para eles. Assim, como primeira meta, há que
suavizar e se possível eliminar impropriedades de origem racial que obstem ao
salutar equilibro dos cães, tarefa altamente meritória que não dispensa, dentro
e fora de portas, tanto a familiarização quanto a sociabilização. Por outro
lado, porque todos os cães devem saber defender-se e alguns continuam a ser
adquiridos também para defesa dos donos e dos seus bens, importa dotá-los de
subsídios que lhes garantam essas condições em prol da sua sobrevivência,
subsídios muitas vezes para além da simples devolução da violência ou do comum
ataque à dentada, mais igualmente válidos e dissuasores.
Tudo o
que dissemos só é possível porque o adestramento é um processo de ensino
continuado, que se estende do nascimento até à morte dos cães, acompanhando-os
e adequando-os de acordo com os seus ciclos etários e com as dificuldades que
vão encontrando. Como o cão cai no nosso mundo quase de pára-quedas, é também
obrigação do adestramento suscitar-lhe respostas para além das naturais,
soluções que eventualmente encontraria em desespero, ainda que tiradas do
treino aturado, uma vez considerado o seu manancial genético, respeitada a sua
biomecânica e observados os princípios gerais da pedagogia relativos ao ensino
canino, visando a sua salvaguarda, prestação e auxílio, já que é criminoso usar
qualquer cão para além dos seus limites (ludibriado ou não) ou não o preparar
para os perigos que irá encontrar. Estamos em crer e julgamos não estar enganados,
que deveria ser o adestramento, tanto o geral quanto o específico, o primeiro
responsável pela escolha dos progenitores das distintas raças caninas, para que
através dos mais aptos, melhor se garantisse a transmissão das qualidades
inerentes ao bem-estar e desempenho de todos os cães, o que hoje infelizmente
raramente acontece e que no passado foi deveras observado.
Como garante da salvaguarda, do bem-estar, uso
exclusivo e superior prestação dos cães ao seu encargo, também para defesa e
resguardo dos donos, o adestramento deve oferecer e ensinar aos seus binómios
outras formas de linguagem para além da verbal, garantindo assim um ou mais
canais de comunicação limpos e abertos, já que as paredes têm ouvidos, a
transmissão telepática não é comum e a percepção extra-sensorial raramente
visita os binómios. Queremos aproveitar, agora que estamos a falar de
comunicação não verbal, para a agradecer o trabalho e o desempenho da Sr.ª
Margarida Jales com a Nail, uma pastora alemã lobeira já finada, porque durante
anos engrandeceu as nossas hostes e honrou o nosso ensino pelo uso da linguagem
gestual, transformando a obediência em arte e os movimentos caninos em bailado. O adestramento
é um trabalho oficinal que por vezes parece de outro mundo, muito embora
aconteça já neste, uma manifestação de amor que se estende a todos os animais
que alberga, porque os educa e ensina para que vivam felizes ao nosso lado sem
temores e certos do nosso auxílio. Tudo o que dissemos acerca do adestramento
não procurou consensos ou aplausos, quisemos somente fazer saber que existem
alternativas e estabelecer as diferenças entre adestradores e amestradores. A
propósito: os nossos cães comem em casa depois do treino, para não lutarem pela
posse do alimento, não aceitarem comida de qualquer um e não se acostumarem a
comer por lá (por vezes todo o cuidado é pouco).
RANKING SEMANAL DOS TEXTOS MAIS LIDOS
O Ranking semanal dos textos mais lidos ficou assim
ordenado:
1º _ SIM, EU ACREDITO NO CÃO MACACO!, editado em 17/12/2012
2º _ PASTOR ALEMÃO X MALINOIS: VANTAGENS E
DESVANTAGENS, editado em 15/06/2011
3º _ ALIMENTAÇÃO, MORFOLOGIA E COMPORTAMENTO,
editado em 14/06/2014
4º _ ROTTWEILER E SERRA DA ESTRELA (AQUILO QUE OS
UNE E SEPARA), editado em 07/01/2010
5º _ EU QUERIA UM PASTOR
ALEMÃO, DE PREFERÊNCIA TODO PRETO, editado em 05/06/2010
TOP 10 SEMANAL DE LEITORES POR PAÍS
O TOP 10 semanal de leitores por país deu o
seguinte resultado:
1º Portugal, 2º Brasil, 3º
Estados Unidos, 4º Alemanha, 5º Reino Unido, 6º Ucrânia, 7º China, 8º México, 9º Indonésia e 10º Moçambique.
sábado, 14 de junho de 2014
ALIMENTAÇÃO, MORFOLOGIA E COMPORTAMENTO
Inquiria o Capuchinho Vermelho ao Lobo Mau porque
tinha ele a boca tão grande, ao que o outro respondeu ser para o comer. Com
este conto de fadas de origem europeia, que nos chegou através de Charles
Perraut e dos Irmãos Grimm, introduzimos o tema de hoje: a possível relação
entre a alimentação, a morfologia e o comportamento dos cães. Todos sabemos que
um cão que mal usa os dentes para comer dificilmente os usará para sua defesa
ou de terceiros, o que de imediato nos lança para a escolha acertada dos
cachorros. Os cães com fraco impulso ao alimento, são por norma mais pequenos e
com menor ossatura e envergadura, são mais instáveis e mais carentes do que os
seus iguais que não apresentam dificuldades em comer, podendo intimidar-se
injustificadamente e morder por medo, daí também a importância das tabelas de
crescimento das raças, que nos indicam qual peso ideal para determinada altura
e idade, segundo um padrão que reclama e sustenta determinadas características
físicas e psicológicas. Convém não esquecer que o impulso ao alimento de um
cachorro se encontra ligado a outros (também herdados) que lhe garantem a luta
pela comida.
Disto
cientes, os criadores caninos mais experimentados, depois de estabilizarem as
suas linhas, depressa sabem calcular a partir das matriarcas e do peso dos
cachorros à nascença, os seus pesos ideal, aceitável e reprovável até às 8
semanas, procedendo a desmames diversos de acordo com o peso encontrado, para
que nenhum lá chegue com menos de 20% do seu peso aos 12 meses, o que a
acontecer comprometeria a sua morfologia, comportamento e aptidão. Por outro
lado, sabendo-se que o volume do estômago é sensivelmente igual ao do crânio
dos cachorros, aproveitando-se da fase de maior plasticidade dos infantes, eles
sabem que se os cachorros comerem mais, aumentando o seu estômago, o seu crânio
também aumentará, contrariando quanto possível limitações de ordem genética.
Infelizmente muitos criadores não sabem do seu ofício, havendo outros que sacam
lucro a partir da magreza dos seus pupilos, pelo que por vezes mais vale
comprar cachorros a particulares do que a criadores profissionais, já que uma
criação séria dificilmente dará lucro, muito menos em épocas de crise.
Comida em
excesso, obesidade, desaprumos, indisponibilidade e desinteresse sempre andaram
de mãos dadas, contribuindo para o selamento do dorso, para a divergência de
mãos, para o pé chato, para o jarrete de vaca, para o aparecimento de bolsas de
líquido sinovial, para a displasia ambiental e para o agravamento da genética,
assim como para o aumento dos ritmos vitais caninos (cardíaco e respiratório).
A transformação de um animal côncavo em convexo é possível pela obesidade na
fase de crescimento dos cães e está normalmente associada à ausência de
exercício apropriado. As dietas mais ricas são destinadas aos cães que
trabalham, consomem mais energia e que têm maior desgaste, não aos que não se
mexem e cujos donos resistem a passeá-los. Um cão portador de um forte impulso
ao alimento é obrigado ao exercício diário e a um conjunto de tarefas que o
obriguem a mexer, porque doutro modo aprenderá ser manhoso, tornar-se-á
bonacheirão, perderá atenção, refugiar-se-á para que não o aborreçam e poderá
reagir negativamente ao incómodo, quer rosnando quer atacando, muito embora
este comportamento pouco castigue os cães submissos e seja mais comum entre os
dominantes.
As rações
de baixo teor calórico são próprias para os cães menos activos, idosos ou
castrados, são geralmente mais baratas, mais procuradas e têm maior saída,
apesar de impróprias para cachorros em crescimento e para cães em constante
actividade ou serviço. As dietas pobres para além de implicarem negativamente
no crescimento e desenvolvimento dos cães, diminuindo o seu tamanho, porte,
envergadura, autonomia e prestação, por insatisfação, tornam-nos quezilentos,
ladrões e esquivos, mais sensíveis, menos resistentes, amedrontados e
desconfiados, o que os coloca permanentemente em risco de lesão ou fractura,
quando usados para além da sua vontade, podendo daí sobrar um ou mais traumas
de difícil eliminação. A precariedade das dietas, um verdadeiro atentado ao
bem-estar dos cães saudáveis e activos, é ainda responsável pelo rebentar do
esqueleto, pela perca progressiva de actividade e pelo envelhecimento precoce
dos animais.
Hoje mais
do que nunca, os cães comem de tudo por toda a parte, como se vivêssemos no
mundo ideal, o perigo não rondasse e toda a gente gostasse deles. São
recompensados com biscoitos no treino, recebem iguarias nos espaços públicos,
saltam para pegar comida e muitos intentam em dar-lhes de comer, despropósitos
que lhes poderão ser fatais e que os colocam à mercê de qualquer envenenador,
que tanto pode ser o vizinho do andar de cima como alguém que passa junto ao
portão do nosso quintal. Infelizmente todos os anos morrem cães envenenados. Esta
prática, que alguns julgam soberana na pedagogia do adestramento, tem
facilitado a vida a muitos donos, que doutro modo dificilmente conseguiram
educar os seus cães, por lhes faltar afeição, constância, disponibilidade, habilidade,
liderança, paciência e técnica, tem vindo a formar cães gulosos e mais
facilmente corruptíveis pela avidez de alimento, menos valias que abominamos
diante da salvaguarda canina. Assim, entendemos que a distribuição de qualquer
alimento cabe ao dono e deve acontecer dentro do espaço doméstico,
preferencialmente no local destinado ao penso diário do cão ou dentro do prato
para esse efeito, para que o animal despreze o suborno e não sucumba
precocemente, meta e objectivo difíceis de alcançar quando acostumado a comer
fora de portas.
A mais
excelente das rações jamais suplantará um penso de comida bem confeccionada, se
esta tiver os ingredientes apropriados, o percentual de proteína e gordura
adequados, as vitaminas recomendadas e os minerais necessários aos cães. Contudo,
como é mais dispendioso, carece de mais tempo e é menos prático, a esmagadora
maioria dos proprietários caninos opta pela ração, que outra coisa não é que
comida de substituição. E para que não restem dúvidas, basta dizer que os cães
acostumados a pensos confeccionados, dificilmente transitarão para a ração e os
acostumados à ração depressa a desaprovarão, se provarem comida confeccionada.
Os cachorros criados com manjares confeccionados desenvolvem-se mais rápido e
atingem maior envergadura e robustez do que os criados só a ração, melhorando a
sua apresentação e aprumos, sem o concurso de qualquer fármaco. E como temos
experiência disto, recomendamos para os cachorros um suplemento diário de
comida confeccionada (reforço), particularmente para os menos desenvolvidos,
tanto do ponto de vista físico como do psicológico, uma vez que qualquer cão
defenderá mais depressa um prato de carne ou um osso que uma gamela de ração.
Não estamos com isto a desaconselhar a ração, porque sempre a consumimos, ainda
que déssemos prioridade às compostas por carne de borrego.
Por todo
o lado há quem opte por dar carne ou carcaças cruas aos cães, alguns para
recriarem o “Cão dos Baskerville” e outros para reencarnarem o “lobisomem das
charnecas”, mas todos na esperança de tornarem os seus cães mais bravos pelo
retorno ao atavismo. E nisto não estão completamente enganados e a empreitada
sai-lhes de feição, porque esses manjares são produtos excedentes, logo baratos
(quando não doados), sendo do agrado dos cães. Os alimentos crus apelam ao lobo
por detrás de cada cão e possuem ainda o “condão” de despertar aqueles que se
encontram adormecidos. Pelo contributo da carne crua podemos induzir os cães a
ataques cirúrgicos e a distribuição de ossos opera o desenvolvimento do crânio
e o aumento da capacidade de mordedura canina, vantagens que não dispensam uma
liderança forte e um maior cuidado com os animais, porque podem comprometer a
sua sociabilização, assilvestrar-se, revoltar-se, agir a moto próprio,
adoecerem ou serem vítimas de várias parasitoses e intoxicações, uma vez que a
carne em decomposição é o melhor dos chamarizes para toda a sorte de insectos.
O consumo exclusivo de carne crua dota os cães de menor autonomia laboral,
porque os obriga à ingestão de grandes quantidades e retarda a sua prontidão. Para
além disso a sua imunidade é menor. E se a presença ostensiva canina não pode
ser desprezada, os cães sujeitos a esta dieta intimidam pouco, porque por norma
permanecem magros e tendem a esconder-se.
A
qualidade da alimentação a distribuir aos cães, quer provenha da ração, da
comida confeccionada ou do contributo de ambas, sempre influirá na sua
apresentação, morfologia e comportamento, porque eles como nós vivem daquilo
que comem. Se o aforismo “diz-me com quem andas e dir-te-ei quem és” tem
alguma verdade, com menos margem de erro podemos afirmar: “vejo como estás e
adivinho o que comes!” Alimente convenientemente o seu cão e tê-lo-á saudável e
por mais tempo.
DOMINGO NÓS IMOS!
Apesar de
Portugal já ser um país independente há oitocentos e setenta anos, se tomarmos
como referência o Tratado de Zamora lavrado em 05 de Outubro de 1143 e não a
proclamação de D. Afonso Henriques ocorrida em 1128, após a vitória na Batalha
de São Mamede ou o reconhecimento papal que viria a acontecer somente em 1179, os vínculos entre os galegos de Portugal e os portugueses de Espanha
ainda não se quebraram, como se a Gallaecia Romana permanecesse incólume e nunca
houvesse sido dividida, como veio a acontecer. Os Minhotos, primeiro celtas do
que suevos, herança que nos liga aos países europeus com a mesma origem, ainda
mesclam o português com o galego nas suas conversas, facto visível na gramática
utilizada, mormente na conjugação dos verbos, conservando arcaísmos que abraçam
também os substantivos. Assim é natural ouvirmos-lhes “imos de férias” ao invés
de “vamos de férias”, exactamente como conjugaria qualquer galego o verbo ir na
1ª pessoa do plural no presente indicativo. No seio dum grupo de galegos se idealizou
Portugal e do Minho eclodiu a nossa nacionalidade, apesar dos trajes
tradicionais e cantares minhotos parecerem estranhos à maioria dos portugueses
contemporâneos, menos conhecedores da nossa história e também provenientes
doutras origens.
Temos nas
nossas fileiras uma minhota vinda de Moreira do Lima (Ponte de Lima): a Lídia,
uma jovem mãe de um casal de crianças que é também condutora de um cachorro
Pastor Alemão (Rex). Mal aqui chegou, surpreendeu tudo e todos pelo seu afinco
ao trabalho, espírito de liderança, disponibilidade, vontade de aprender,
pragmatismo e índice de progresso, funcionando inúmeras vezes como fila-guia
das classes, apesar de ser das alunas mais recentes. No último Domingo,
ataviada de tudo o que precisava para suprir as necessidades do seu garoto, que
a acompanhou, agarrou no Rex e pôs-se à estrada, rumo a uma pista táctica que
há muito desejava conhecer. Trabalhou ali com o Rex e levaram de vencida meia dúzia
de obstáculos, laborando de manhã e de tarde para não desperdiçarem tempo e
dinheiro. Num dos momentos de supercompensação, espantado pelo desembaraço
desta mulher, o proprietário da pista exclamou: “Esta gente do Norte nada tem a
ver com os outros!”, olhando de soslaio para um dos seus colaboradores, numa
clara alusão à pasmaceira daquele e à necessidade que aguça o engenho.
As
mulheres minhotas são por norma autênticos sargentos, autónomas e
empreendedoras, acostumadas a gerir os seus proventos e a educar os filhos na
ausência dos maridos, que ao longo da história têm emigrado para toda a parte,
sempre que a pobreza lhes bate à porta ou urge procurar riqueza. Fiéis aos seus
compromissos e forçadas pelas circunstâncias, elas têm vindo a construir
famílias de cariz matriarcal, desempenhando funções e ocupando lugares pouco
usuais noutras latitudes. Há quem diga que são pouco apelativas, masculinizadas
e grosseiras de modos, mas quem as conhece nunca se queixou e parece ter uma
opinião contrária, talvez porque as do passado, longe de serem bibelots, foram
autênticas alfaias agrícolas, referência e porto seguro, gente que literalmente
“fez das tripas coração”. O Minho deve às suas mulheres uma mais do que justa homenagem,
porque sem elas há muito teria desaparecido do mapa, o que também não
beneficiaria o País.
Questionada sobre os conteúdos de ensino que
apreendeu naquela deslocação, a Lídia mostrou-se agradada e com vontade de ali
voltar, saindo de lá com o cachorro a ser conduzido em liberdade. Quando
interpelámos o seu filho acerca daquela excursão, o Pedro respondeu-nos: “ Foi
muito fixe!” Outra coisa não seria de esperar, já que passou a tarde toda a
mergulhar numa piscina, adormecendo no caminho de volta, à medida que as
paisagens do sul se esbatiam ao sol poente, dominado pelo cansaço e a
necessitar de uma boa noite de sono. O mesmo não aconteceu com o Rex, que nunca
se deitou, fazendo todo o caminho de retorno com os olhos postos no infante, intrigado
por vê-lo assim, tão quedo, vulnerável e indefeso.
A MENTIRA DA MIÚDA E A DOUTROS
Já
descobrimos há muito que falar de cães é falar de pessoas. Quando um adestrador
culpa um ou mais cães pelo seu insucesso escolar, está a faltar à verdade e a
ser mentiroso, quiçá por conveniência ou para não susceptibilizar alguém, já
que alma do cão provém da vontade do dono e o animal será tão bom ou melhor quanto
for a qualidade dos seus mestres. Sempre que ouvimos destas patranhas,
lembramo-nos dum aluno que tinha dois filhos ainda pequenos, um rapaz e uma
menina, sendo ela a mais nova e uma mentirosa compulsiva. Certo dia, entregue
ao pai e sem a mãe e o irmão por perto, que se encontravam há vários dias de
férias noutro lugar, o pai perguntou-lhe quem havia feito determinado
disparate. Ela imediatamente, como era seu hábito, culpou o irmão ausente.
Quando o pai lhe disse que tal não era possível, ela respondeu-lhe: “ Se não
foi o mano… só poderias ser tu!”. Quando o dono é anjinho, o cão depressa vira
diabo!
NEIN ZU NEUEN LEBENSRAUM: МИР В УКРАИНУ!
Україна
ніколи не здався, так що це було в минулому, так буде і в майбутньому, він
завжди буде безкоштовно! Українці не потрібно хресних прийомних батьків або
сторонні захисників, просто потрібно залишити їх у спокої в світі. Хай живе
для України та її народу, ви ніколи не ходити поодинці, бог буде з вами.
A
mensagem acima é dedicada a todos os ucranianos que lutam e continuarão a lutar
pela liberdade no seu país, agora enredado num jogo político-estratégico
sobejamente económico, que desconsidera o querer do seu povo e que tem posto a
Ucrânia a ferro e fogo. Acreditamos que mais cedo ou mais tarde ela terá paz e
será verdadeiramente livre, porque a história não anda para trás, os ucranianos
sabem o que querem e estão acostumados a sofrer para alcançá-lo. Não deixa de
ser estranho que no Séc. XXI, depois do que se tem lutado pela emancipação e
igualdade de todos os povos, se deite mão à anexação despudoradamente, como se
ela fosse a melhor das soluções, tratando outros como carne para canhão. O
mundo ainda não aprendeu a ser fraterno e a Ucrânia está a pagar um preço demasiado
elevado por causa disso, o que nos traz à memória a celebérrima frase de
Gandhi: “Quando me desespero, lembro-me que ao longo da história o caminho da
verdade e da paz sempre ganharam. Tem existido tiranos e assassinos e por algum
tempo parecem invencíveis, mas no final eles sempre caem – pense nisso,
sempre”. A Ucrânia será livre e finalmente terá paz!
RANKING SEMANAL DOS TEXTOS MAIS LIDOS
O Ranking semanal dos textos mais lidos ficou assim
ordenado:
1º _ EU QUERIA UM PASTOR ALEMÃO, DE PREFERÊNCIA
TODO NEGRO, editado em 05/06/2010
2º _ PASTOR ALEMÃO X MALINOIS: VANTAGENS E
DESVANTAGENS, editado em 15/06/2011
3º _ O ESTRANGULADOR, editado em 12/03/2010
4º _ “X” DE JARRETE DE VACA, editado em 25/07/2011
5º _ DIE ALTE ROT IST
ZURÜCK, editado em 07/06/2014
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