segunda-feira, 28 de setembro de 2009

O Cão na meia-idade (dos 6 aos 8 anos)


Na Europa, entre os 6 e os 8 anos de idade, os cães eram dispensados das companhias cinotécnicas e abatidos ao regimento. Ainda que a maioria deles saísse estafada, mercê do serviço efectuado, alguns mantinham os seus índices atléticos, continuavam activos e fecundos, constituindo-se em patriarcas. Hoje, porque o serviço é mais leve, o dinheiro parece escassear e as prioridades são outras, é comum ver-se, nas unidades militares, cães para além da meia-idade no activo, geralmente engalanados em canis e raramente escalados para o serviço, aparecendo esporadicamente em festivais, tal qual Eusébio de águia ao peito. As outrora gloriosas pistas tácticas estão hoje vazias e descuidadas, lembrando acampamentos da Legião Francesa enterrados nalgum deserto magrebino. Apesar de poucas, ainda bem que há excepções!
Por razões óbvias, os cães civis sempre duraram mais, mantendo a qualidade e aumentando a sua esperança de vida. Apostados neste mesmo propósito, identificaremos aqui a problemática etária e adiantaremos subsídios para que a longevidade canina aconteça. Num mundo onde ninguém quer pagar a factura da medicina preventiva, porque não dá lucro, não nos coibimos de adiantar medidas cautelares para que o bem-estar canino perdure e a sua dignidade se mantenha. Não obstante serem finitos, homens e cães não morrem de velhice, mas sim de doença, de insuficiências e incapacidades que podem ser minoradas e relegadas para mais tarde.

Em média, os rafeiros duram mais que os cães de raça, os mais pequenos sobrevivem aos maiores e os mais pesados vêem encurtados os seus dias. Os castrados envelhecem precocemente, a tipicidade dalguns é-lhes fatal e as diferentes raças têm doenças próprias. A excessiva homozigose está a colocar os cães em risco, o número de cães domésticos não cessa de aumentar e qualquer um pode ser seu proprietário, para além do conhecimento exigível e das condições inerentes. Genética e ambiente estão a atentar contra a longevidade canina, assim como a ignorância e o desrespeito, porque o especicismo veio para ficar e cada qual é dono do seu nariz!
Não é preciso muito esforço para o homem entender o cão à sua imagem, porque o animal tende a reproduzir comportamentos idênticos aos que lhe são próximos. Existe inclusive, uma transferência física e anímica do dono para o cão, resultante da convivência comum e da mímica empregue, porque o animal tudo observa e procura a aceitação. Como multiusos que é, o cão sempre denunciará o seu mestre oficinal, o seu modo de vida, anseios e propósitos, encontrando-se cativo àquilo que recebeu. Isto parece um pouco estranho, mas quem ensinou os cães vadios a atravessar na passadeira para peões?

Desta maneira, tanto o seu enriquecimento cognitivo quanto o seu robustecimento físico, encontram-se dependentes das acções do líder, das regras estabelecidas que se transformam em hábitos enraizados, porque não lhe restando outra opção válida para a sobrevivência, o cão agarra-se desesperado à doutrina do follow me. Debaixo desta condição, tanto podemos provocar o envelhecimento canino como atrasá-lo, porque somos simultaneamente o seu deus e anjo da guarda. Podemos ser outras coisas, mas o uso da razão sempre as desprezará.

O cão na meia-idade perde fulgor e resguarda-se, resiste aos novos desafios e procura a auto satisfação, tenta agradar sem ser incomodado e reclama pelo seu estatuto: torna-se mais sério e menos brincalhão. As possíveis menos valias físicas são acompanhadas por alguma inércia cognitiva e a cumplicidade sofre alterações, porque o acompanhamento tende a substituir a participação. Nesta fase da vida, porque está maduro e a experiência não o engana, é difícil ludibriá-lo, parece que adivinha os nossos pensamentos ou que estabelece connosco uma relação telepática. Se nada fizermos para alterar a situação, o estádio seguinte breve se avizinha: o tempo de lhe dizermos adeus. Como podemos retardar o processo de envelhecimento?
A meia-idade define e identifica qualquer linha de criação, porque pode ser acompanhada por várias afecções, doenças ou incapacidades até ali ocultas. Cataratas, diabetes, tumores, obesidade, problemas articulares, cardíacos e respiratórios disso são exemplo. O rol é imenso e encontra-se associado à selecção descuidada e ao particular instalador. Se entendermos a doença como presságio do fim ou causa de morte, o check-up anual torna-se obrigatório, considerando as vantagens da prevenção, do despiste e do tratamento. O cão deve ser visto e acompanhado pelo veterinário, o que geralmente não acontece, porque há medida que o cão envelhece, os donos tornam-se mais descuidados, apresentando-se nos consultórios quando pouco já há a fazer. Por causa disto, da boca dos tontos é comum ouvir-se: “O ladrão levou-me uma nota preta e o cão acabou por bater a bota! Filho da …”

Na meia-idade o cão não mede forças, marca menos território e diminui a sua excursão. O seu habitáculo, outrora rampa de lançamento para as suas investidas, transforma-se no seu refúgio e fortaleza, permanecendo ali por mais tempo, ainda que alerta, substituindo o movimento das pernas pelo uso dos sentidos. Ele já não corre à toa (antes corria atrás da bola, agora leva-a para o pé de si), apenas investe pela certa e quando for caso disso. Alguns dirão que ganhou juízo, nós diremos que a experiência sucede à juventude, substituindo-a num processo irreversível que o peso dos anos não oculta, porque a menor disponibilidade física provoca alterações de comportamento. Em síntese, a meia-idade transporta alterações físicas, psicológicas, cognitivas e sociais que não devem ser ignoradas, mas consideradas, para que o envelhecimento seja saudável e não absoluto.
Sem causar maiores transtornos e de acordo com a sua raça, o índice de gordura aumentará de 5 a 10% na meia-idade, havendo cães que indesejavelmente manifestarão um aumento superior aos 40%. Assim como o fraco desempenho físico pode provocar alterações fisiológicas, susceptíveis do auxílio dos fármacos, também a prática do exercício regular pode retardá-las. Entre os 6 e os 8 anos de idade recomendamos para os cães uma marcha diária de 2.5 km, numa velocidade de 4 km/h, que poderá ser subdividida em dois momentos distintos. As amplitudes térmicas deverão ser evitadas e os pisos considerados. A escolha dos percursos deverá recair sobre os menos acidentados segundo as características morfológicas e psíquicas de cada cão. O interesse e a novidade dos percursos tendem a vencer a inércia e provocam habituação, tornando os cães despertos para o mundo à sua volta, garantindo em simultâneo a melhoria dos seus ritmos vitais, a funcionalidade e o equilíbrio psicossocial. A novidade transporta-os para a vida; o enclausuramento sistemático mata-os.
Com o passar dos anos, porque o mundo à sua volta é de todo conhecido, estabelecendo uma nova relação entre os estímulos físicos e as sensações correspondentes, os cães tornam-se mais interesseiros e menos participativos, desusando parcialmente alguns dos impulsos herdados, próprios do seu aprendizado constante. O desuso do potencial genético que induz à menor participação, deve ser contrariado, porque é galopante e obsta à qualidade de vida. Para que isso não aconteça, torna-se necessário complementar o saber empírico canino com a experiência variada e rica, para que a novidade cognitiva leve a outra prestação física e vice-versa. A alteração das rotinas deve acontecer, de modo equilibrado, pelo prazer da novidade e pela salvaguarda do bem-estar animal. Novos jogos e brincadeiras, assim como a variação dos ecossistemas, ajudam-nos neste sentido.
A sintonia com o relógio biológico, cuidado que distancia os donos dos animais de companhia dos proprietários daqueles destinados ao abate, geralmente confinados em currais, pocilgas e manjedouras, é fundamental para o bem-estar canino, particularmente entre aqueles cuja mocidade já passou. As alterações sazonais, quando devidamente aproveitadas, contribuem para o robustecimento canino, pelo equilibro biológico que antecede e prepara a estação seguinte. A variação das dietas deve acontecer, ainda que não solicitada, porque enquadramento sazonal ratifica o ciclo de vida correspondente. Quando à dieta inalterável se junta o enclausuramento e a ausência de novidade, a meia-idade abraça a velhice e a longevidade sai comprometida. Por causa disto, os cães dos criadores vivem menos que a sua descendência, porque a menor qualidade de vida os condena.
Salvo algumas excepções, o cão na meia-idade é fecundo, muito embora aqueles que nunca copularam, demonstrem um desinteresse sexual assaz notório, como se fossem alvo de castração. Quando o nosso cão chega aos 6 anos de idade, é altura de pensarmos num segundo cão, seu descendente ou não, que garantirá a sua continuidade entre nós. Essa continuidade poderá ser sanguínea ou cognitiva, mas nem por isso deixará de existir, porque os cães de meia-idade são os melhores mestres prós cachorros, deixando neles a marca da sua contribuição. Fica o conselho. Por outro lado, o convívio com cães mais jovens, considerando o sentimento gregário canino, tem-se revelado um antídoto seguro contra o envelhecimento precoce, porque a hierarquia não pode ser posta em causa, há regras que a garantem e o exemplo funciona como a melhor das pedagogias.

Porque instamos com o condutor errado?

Já há muito que conhecemos a “Oração da Serenidade”, que sabemos que apenas nos podemos zangar com os amigos e que há gente com dificuldades cognitivas inatas. Não obstante, continuamos a insistir junto dos condutores menos aptos, para além da origem das suas incapacidades e face ao insucesso escolar. A impropriedade da liderança é uma pandemia multi-factorial, da responsabilidade humana, resultante de lacunas que vão desde a selecção até ao adestramento propriamente dito. Graças à doutrina do “facilitismo” contemporâneo e ao consequente nivelamento por baixo, também para garantir proventos, atribui-se agora aos cães aquilo que os donos não conseguem abraçar. Num ápice, independentemente do seu sexo, todos os animais passaram a ser menstruados, a “ter dias”. Quando ouvimos isto, não resistimos e acabamos por contar a história da Burra de Balaão.

Como o adestramento é um processo pedagógico operado por substituição, baseado na acção da liderança e alicerçado na mensagem apreensível, a quem suscitaremos mudança de procedimentos? Instamos com os condutores impróprios por causa dos cães, vítimas do infortúnio e à espera de melhores dias. Nos cães existem dois caminhos para a memória associativa: um através da memória afectiva e outro possibilitado pela memória mecânica. Se os cães chegam lá, mais depressa lá chegarão os donos. Continuamos a acreditar nisto, apesar de persistirem algumas excepções.

Binómio Jorge / Juvat: A difícil transição do Molosso para o Lupino

Temos um novo binómio em pista, o constituído pelo Jorge e o Juvat. O Jorge, que é também o condutor do Audaz, está a sentir algumas dificuldades com o cachorro, porque ao contrário do molosso, opta pela obediência dinâmica em prejuízo da estática. Como todas as transições carecem de habituação e conhecemos o Jorge, sabemos que breve singrarão pela senda do sucesso. O Juvat é um lobeiro-dominante, na idade da cópia e bem constituído, filho do Kaiser e da Pietra.

Fim-de-semana de 26 e 27 de Setembro: Em crescendo até Loures

Dedicámos este Fim-de-Semana à preparação da exibição em Loures. Infelizmente não houve tempo para a tradicional reportagem fotográfica. O Plano de Aula reportou-se à evolução colectiva e à capacitação individual.

O João Moura treinou sem cadela, porque o parto da Xita está para breve. O Pepe perdeu massa muscular e o Rui Santos está de volta com o Red. A Teka está deslumbrante e reflecte os cuidados do seu proprietário. O Turco é a mascote da Escola e o Loki está a aprender a cruzar. O Flikke mantém acesa a paixão pelo adestrador e o Master busca o seu consolo. A Isis iniciou-se na Técnica de Condução e o Teddy, mais uma vez, perdeu-se de amores por ela. Fomos visitados por um casal de antigos alunos: o Gonçalo e a Lila, gente desaparecida há dez anos. Ambos renovaram os seus votos baptismais e relembraram episódios de tempos idos.
Participaram nos trabalhos os seguintes binómios: Alexandra/Abu, Ana/Loki, Bruno/Pepe, Joana/Flikke, João Franco/Zappa, Jorge/Audaz & Juvat, Luís Leal/Teka, Manuel/Mini, Paulinha/Teka II, Octávio/Greg, Pescadinha/Teddy, Princesa/Pipo & Ricky, Roberto/Turco, Rui Ribeiro/Isis, Rui Santos/Red e Zé Gabriel/Master & Menina.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Palavras cruzadas (operar a fixação dos conteúdos de ensino pelo entretenimento)

HORIZONTAIS. 1- Que se diz de nove. Figura de obediência que solicitamos ao cão quando somos interpelados na via pública. Consoante labial muito cara aos mamíferos. 2- Fruto com apresentação em cacho. Letra que designa o grau mais elevado de displasia coxo-femural. Material de que são feitas as correntes dos estranguladores. 3- Número romano para a unidade. O que se encontra a 9 km de distância da Acendura na direcção oeste. 19ª Letra do alfabeto português. O que dono e cão formam. 4- 2ª pessoa, no singular do verbo ser no presente do indicativo. Aquele que liga. Representação gráfica da evolução escolar mais comum. Abreviatura para Pastor Alemão. 5- Aquela que deve ter 1.8 m e um fecho na ponta. 14ª Letra do alfabeto inglês. 6- O que decuplica o valor dos algarismos que se encontram à sua esquerda. A que serve para a recolha dos dejectos. Animal descendente do lobo cujos híbridos são fecundos. Designação latina para Ano do Senhor. 7- Numeral mil em numeração romana. Aquele que foi reproduzido por clonagem. Unidade de medida de comprimento. 8- Comando usado para a inversão do sentido de marcha. Letra que define a classe laboral mais elevada na Acendura. Nome da cadela CPA que é mãe do Zorro e da Amora. 9- Elemento de formação de palavras que exprime a ideia de ovo, óvulo. Par de duas consoantes iguais guturais que reproduzem o rosnar canino. Grito. 10- Símbolo químico do iodo. Comando de obediência que obriga ao retorno do cão. País asiático situado na Indochina e fronteiriço da China, Vietname e Camboja. 11- Consoante usada como abreviatura para substituir o nome de pessoa que não se quer referir. Sentimento indispensável ao adestramento canino. Letra que designa a classe de cachorros. Comando basilar da obediência. Produzir silvos, apitos.

VERTICAIS. 1- Comando de imobilização que serve de trinco aos demais. Aquele que mordisca. Inicial do primeiro nome do Director da Escola. 2- Letra que é sinal de vitória. Abreviatura de senhor. Canal da TV Cabo (58) que apenas passa filmes. Aquele que vai despido. 3- Prefixo de origem latina que exprime a ideia de aproximação. Abreviatura de empresa pública. O contrário de noite. Abreviatura de Norte. 4- Diz-se da evolução desenfiada. Aquele que adoça. Primeira letra do alfabeto. Consoante que é sempre seguida por “u”. Letra que na música serve como abreviatura de Tenor. 5- Primeira letra do comando de preparação para um salto. Corpo lateral de condutores usado na indução ofensiva. Símbolo do grau Celsius na Física. Adjectivo que designa cavalos e cães brancos com malhas escuras e redondas. 6- Imperador que mandou incendiar Roma. Instrumento de sopro usado nas paradas pelos militares. 7- Utensílio para desenhadores, engenheiros e arquitectos. Comando inibitório. Artigo definido, masculino, no plural. 8- Comando de imobilização instantâneo. Palavra inglesa que significa estar ligado ou no ar. Classe intermédia escolar. Tipo de registo inferior ao LOP. 9- Obstáculo que é simultaneamente extensor e elevador. Designação romana para 50. 10- Conjunto de exercícios binomiais lúdicos sem a contribuição de obstáculos. Artigo definido feminino no singular. Sentimento que estimula os cães contra quem os provoca ou ofende. Consoante que reproduz a convexidade dos aprumos dianteiros de um cão, o contrário de A (peito invertido). 11- Abreviatura do coeficiente de envergadura canina. Abreviatura de Dom ou Dona que a precede a pessoa (grafado em maiúscula). Comando usado para a mutação do lado de condução. Delonga ou atraso no pagamento de uma dívida. Aquilo que os condutores precisam para bem conduzir os seus cães. Consoante que academicamente significa reprovado.



  • Na próxima semana adiantaremos a solução!

::: Dono que se passa, Cão que se perde! :::

Em tempos ídos, quando os picadeiros eram escuros e austeros como templos, funcionando como escolas iniciáticas, uma frase repetia-se pelas suas paredes: “todo o cavaleiro que se excede, perde o direito a ser obedecido.” Desconhecemos o autor do pensamento, mas para além da nossa ignorância, o seu conteúdo introduz-nos perfeitamente ao tema de hoje, intencionalmente ligado à relação causa-efeito, quando o líder perde as estribeiras e desanca sobre o cão. Afortunadamente a situação é cada vez mais rara, porque a sociedade evoluiu, a filosofia de ensino mudou, a pedagogia é outra e a violência tende a ser banida. Não obstante, na confusão ordinária entre a emoção e a razão, porque os proprietários de cães são gente sensível, sempre aparece alguém que se equivoca e atraiçoa os seus próprios sentimentos, que exasperado, descarrega no animal aquilo que não consegue suportar. De facto, nenhuma lei consegue alterar a natureza do homem, ela apenas identifica, desnuda e sanciona os seus erros, dando voz às vítimas e operando o seu reparo. Mas como podemos sossegar os cães, quando vivem presos ao passado e não conseguem abraçar a esperança?

Ainda antes da resposta, importa identificar e compreender os intervenientes no processo, trazer à tona o seu particular, as suas emoções e sentimentos mais ocultos, para que a exposição do desaire opere o seu desaparecimento. Se tal não for possível, pelo menos que diminua ou atrase a sua ocorrência, pela explanação das razões que induzem o inteligente à mudança, face ao desnudo dos seus actos criminosos. E como gente desta laia luta contra si própria, num combate desigual, o reparo deve ser constante e toda a atenção é pouca. É isso que diz a sabedoria popular: “cesteiro que faz um cesto, faz um cento”. Dependendo da gravidade da agressão, segundo a NEP nº 2 em uso na Acendura, a expulsão do condutor pode acontecer por reincidência ou ser automática. Aproveita-se a ocasião para relembrar aos alunos da existência das NEP’S (Normas de Execução Permanente), que fazem parte do nosso Regimento Interno e devem ser do conhecimento geral.

A obrigação de se fazer entender pelo cão e a exigida relação de paridade entre os condutores escolares, causam transtornos aos mais competitivos e afectam os socialmente melhor sucedidos, pelo incómodo do lugar comum e pelo reclamado direito à diferença. Como o desconforto obsta à humildade, perante o insucesso, alguns desnudam a sua natureza agressiva, encapotada na máscara quotidiana e geralmente invisível aos outros. Mercê da contrariedade que os vulgariza, porque a impotência é manifesta, a impropriedade dos seus actos leva-os à procura de outros culpados. Sempre que nos debruçamos sobre esta situação, lembramo-nos de uma história, contada por alguém que já esquecemos. Ela começa por uma pergunta: “Sabe qual é a diferença entre o soldado de infantaria e do cavalaria? É muito simples! Na infantaria o capitão manda vir com o tenente, este com o sargento, o sargento descarrega no cabo, o cabo desanca o soldado e este aguenta-se à bronca. Mas na cavalaria é diferente! O soldado ainda tem o cavalo para lhe dar um valente pontapé na pança!“

Desaguisados deste tipo podem ter uma origem psicológica, encontrando-se relacionados com o locus de controlo externo, geralmente cativo a uma predisposição inata ou adquirido por influências ambientais. Gente com estas características, raramente aceita as suas culpas e atribui aos outros a causa dos seus erros ou desaires. Ainda que os cães tenham um reclamado uso terapêutico, não podemos pactuar com adultos que se comportam como crianças, consentindo na sua agressão aos cães. Contrariamente aos animais, a maioria dos condutores chegam-nos já adulta, com os méritos e lacunas próprias da sua individualidade, segundo o seu legado genético e particular pedagógico. Ensinar cães é fácil, reeducar adultos é que é difícil!
E perante a “façanha”, como se sentirão os cães?
A agressão é geralmente perpetrada por um cobarde, que certo dos seus intentos, sabe que não será respondido à letra. Doutro modo, pensaria duas vezes ou pediria ajuda, salvaguardando-se e dispensando a justiça privada. Por causa disto, as agressões sobre indivíduos muito-dominantes ou dominantes são raras! Como a maioria dos cães pertence ao grupo dos submissos, o exercício da violência física, pela alteração ou quebra dos vínculos afectivos, leva-os à desconfiança e ao temor, à alteração de sentimentos visível nos animais de carroça. Se eu bato num cão para correr, o que sucederá? Duas coisas podem acontecer: ou o animal põe-se em fuga ou cada vez corre menos! Se eu agrido um animal porque não vem, quando o chamo, o que se seguirá? Das duas uma: ou virá cabisbaixo ou fugirá cada vez mais! A porrada é um remanescente primitivo, uma tendência animal que nos expõe e envergonha, colocando-nos abaixo daqueles que pretendemos ensinar.

Gente mesquinha sempre visa comparações, nem que seja para se justificar. Assim torna-se importante relembrar a Pedagogia Geral de Ensino, os Princípios Fundamentais do Treino Canino, nomeadamente o Princípio da Individualização que diz: “Cada cão possui uma individualidade biológica e psicológica, que reage e se adapta de forma diferente a exercícios de treino semelhantes”. Isto remete-nos para a 1ª Fase, já que qualquer exercício ou figura se encontra dependente da tarefa anterior, do seu sucesso ou insucesso, da carga horária dispendida, do seu reavivamento e modus operandi. Sempre que um objectivo não é alcançado, há que retornar às metas anteriores que o viabilizam. À paulada não se educam cães nem crianças!

E já agora: poderá o Adestrador usar de violência física contra os cães que lhe são confiados?
Se for conhecedor do seu ofício, certamente repudiará esse procedimento, usando-o somente quando se tornar imperativo e depois de esgotados todos os procedimentos, como medida excepcional: quando a integridade de condutores e cães estiver em risco ou o seu socorro for urgente. Tal qual um comandante de um navio, o adestrador deve ser o último a abandonar o barco e o primeiro a tomar a sua defesa. Nenhum adestrador pode ter medo de cães, porque a liberdade dos cobardes leva a extrema submissão dos inocentes. Até na reeducação a violência física é desprezível, porque se procura ensinar e evitar a confrontação. A supremacia da inteligência deve imperar sobre a mecânica instintiva. Nisto assentam os pilares do adestramento.
Mal comparados, alguns condutores de cães são como cavaleiros iniciados, que ao desprezarem o volteio, quando sofrem de desequilíbrio, clamam pelas esporas e sonham com epopeias. E como só a cumplicidade gera a parceria, só a capacitação dos condutores pode engrandecer o ensino canino. Um gesto impensado praticado por um líder, pode neutralizar todas as suas acções positivas, anteriores ou posteriores, e comprometer definitivamente a união binomial, porque os cães são essencialmente a experiência que têm!

A história dos 4 cães de guarda (para adultos que gostam de cães)

Esta é uma história fictícia, mas bem possível de acontecer.
Quatro cães foram instruídos para guardar, por solicitação dos seus donos e de acordo com as suas necessidades. Quando entraram em acção, o primeiro morreu, o segundo ficou incapacitado, o terceiro dominado pelo medo e o quarto passou a morder em tudo e todos.
Cada um tirará as suas próprias conclusões!

Fim-de-semana de 19 e 20 de Setembro: O Abu guardou o que era dele

Este fim-de-semana foi muito concorrido na Escola, até tivemos a Princesa entre nós. A obediência, a ginástica e a guarda foram as disciplinas mais desenvolvidas, muito embora a endurance não tenha sido esquecida. O Abu aprendeu a guardar objectos, o Flikke a cruzar e a Vega espantou tudo e todos, porque aos 5 meses anda com o dono para todo o lado, alinhada e de acordo com o “Junto”. O Loki foi um pai para a cachorrada e o Ricky está a seguir as pisadas do Warrior. A Elisabete recebeu a ajuda da Ana Pinto e o Xico fez-se à pista. A Zara está a aprender o “aqui” e o Turco está a melhorar a olhos vistos. A Teka do Roberto está a necessitar de sociabilização e a Amora de juízo.

O Bruno, cujo nome escolar estamos proibidos de usar, foi ao Porto a uma prova de canoagem. É caso para dizer: se é para meter água que o faça bem longe! O Filipe não deu notícias e a Carla teve impedimentos familiares. O Daniel tem andado ausente e o Zorro não compareceu. Sentimos a falta do João Franco, da Íris, do Jorge Santos e do Carlos Veríssimo. O Rui Ribeiro não pode vir, foi obrigado a trabalhar.

Os filhos do Pongo estão com 4 semanas, robustos e lindíssimos. Talvez um deles venha a engrossar as nossas fileiras. A Xita está que nem um tonel, ou a prole é muita ou os cachorros são muito grandes. Continuamos a aguardar a inscrição do Nuno Calado e do Sixty.

Participaram nos trabalhos os seguintes binómios: Alexandra/Abu, Ana/Loki, Carlos Esteves/Zara, Eduardo/Micks & Vega, Elisabete/Lua, Isabel/Amora, Joana/Flikke, João Moura/Xita, Luís Leal/Teka, Manuel/Mini, Octávio/Greg, Paula/Teka, Pescadinha/Teddy, Princesa/Pipo & Ricky, Roberto/Turco, Xico/Pongo e Zé Gabriel/Master & Menina.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

::: O poder do "Junto" :::

Ao falar do tema, vem-me à memória os meus tempos do Secundário, de um Professor de Físico-Química, a quem alcunhámos de “Sebentas”. Para além de gostar dos cadernos diários exemplarmente limpos, sem rasuras e isentos de erros, o homem ainda nos obrigava ao “empinanço”. E todos tínhamos de saber de cor a célebre frase de Antoine Lavoisier: “ Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Ainda que a lei deste iluminista não seja absoluta, considerando a teoria da relatividade e a primeira lei da termodinâmica, ela serve perfeitamente para introduzir o tema desta semana.
Se observarmos uma matilha de cães, socialmente estratificada sem o contributo da ingerência humana, quando ela se desloca, reparamos no lugar privilegiado do líder e nos “lugares cativos” dos demais. A hierarquia visível na excursão é estabelecida a partir dele e complementada pelo relacionamento dos que imediatamente lhe sucedem. Os cães de estrato social mais baixo deslocam-se mais afastados e perante qualquer ameaça, rapidamente adoptam posturas de submissão. A liderança do grupo sempre será legitimada pela “lei do mais forte”, a quem o sexo, a idade e a robustez física não serão alheios, pelo concurso dos impulsos herdados e pelas características físicas transmitidas. O lugar é alcançado pela vitória nas lutas contra os outros, geralmente pouco piedosas e constituídas em lições de vida, na chamada experiência directa.
A matilha procura somente a unidade e a sobrevivência do grupo, o colectivo não abre excepções nem admite devaneios individuais: manda quem pode e obedece quem não tem outro remédio! E neste mundo cão, pelas razões atrás citadas, dificilmente o mais fraco chegará líder, atendendo ao número dos que se encontram à sua frente, nada propensos a abdicar dos seus “direitos” ou a abrir mão do seu estatuto. Debaixo desta dura cerviz, qualquer capacitação individual será extraordinária, quase impossível. E se tal acontecer, alguém será destronado impiedosamente! Se eu tenho três cães no quintal e pouco me importo com eles, quem será o seu líder? Serei eu? Um macho mais velho imprestável, sempre condenará um cachorro à mediocridade, porque dominará sobre ele e lhe transmitirá os mesmos deméritos, mesmo que o cachorro tenha sido alvo da mais esmerada selecção. Nisto se compreende o efeito da matilha.

Se há uma frase gasta na Acendura, ela será certamente esta: o “Junto” é a pedra basilar da obediência! Porque dizemos e ensinamos isto? Constituirá a afirmação alguma novidade? Estaremos a faltar à verdade?

Basicamente, os automatismos solicitados a um cão dividem-se em dois grupos: os de imobilização e os direccionais, ainda que possam ser combinados entre si, alcançando comandos específicos e um sem número de acções particulares. Mal comparado ou não, o adestramento funciona como um papagaio de cordel nas mãos de uma criança, sujeito à linha da bobine e evoluindo condicionado. O “Junto” garante o “em frente”, o “devagar”, o “à frente”, o “atrás”, o “troca” e o “roda”, além dos modos mais céleres da sua própria figura. Por outro lado, é ele que antecede e propicia o “aqui”, de modo seguro e radiante, possibilitando ainda todo e qualquer comando de imobilização, pela acção da liderança e justeza dos alinhamentos.
Os benefícios do “Junto” não se esgotam na sua operacionalidade, porque o seu contributo é extensível a outras áreas, sintonizando homens e cães para a constituição binomial. A todos já foi dado a observar, na fase introdutória do treino, que os cachorros valentes rebocam os seus donos e os mais fracos necessitam de ser rebocados, indiciando assim o perfil psicológico de cada grupo, pertencendo os primeiros ao dos dominantes e os últimos ao dos submissos. Não raramente, a fragilidade psicológica encontra-se ligada a incapacidades físicas, inibitórias ou não e de causas diferentes. Assim, pela experiência de vida, dificilmente um fraco se arma em “carapau de corrida” por tempo indeterminado, a menos que a insanidade resulte da selecção humana nociva ou de uma trágica indução. Como sabemos que as transformações fisiológicas acompanham o crescimento intelectual, que as capacidades cognitivas caninas passam essencialmente pela memorização, julgamos possível o fortalecimento do carácter pelo robustecimento físico, através de uma experiência feliz, variada e rica. E nisto, o “ Junto” tem um papel importante a desempenhar.

Contrariamente à matilha, a constituição binomial visa a autonomia dos indivíduos, substituindo a liderança animal pela humana. O alinhamento requerido pelo “Junto” , graças à relação de proximidade, convence o fraco que com o dono tudo pode e sujeita o valente à ordem expressa. A persistência no comando provoca e opera alterações comportamentais, mais ou menos duradouras, segundo o seu uso e de acordo com as características particulares de cada indivíduo. O “Junto” é uma terapia eficaz, mas jamais será uma panaceia, porque se encontra sujeito a um conjunto de condições prévias que não podem ser desprezadas. Estamos a falar da cumplicidade necessária a uns e o do exercício da autoridade sobre os outros. Quando se inverte o tratamento os resultados são desastrosos, duas coisas podem acontecer: ou sai um cão borrado; ou o dono lesionado. Só a reeducação poderá suavizar ou resolver os problemas, por que é mais fácil regrar um atrevido do que animar um derrotado. Mas nada é impossível, quando o tempo joga a nosso favor e a vontade não nos falta.
Em síntese, o “Junto” tem o poder de consertar aquilo que a matilha tende a perpetuar, apostando na recuperação dos indivíduos e na procura da sua capacitação, graças à novidade experimentada, à alteração do seu viver social e ao particular da liderança humana. E mais vale andar com o cão ao lado do que andar atrás ou à frente dele! Será que estamos errados?

Como proceder?

Esta rubrica tem como objectivo testar o seu conhecimento sobre o mundo do adestramento. Apresentamos-lhe a situação de três cachorros do 1º Ciclo Escolar, com idades compreendidas entre 4 e os 6 meses, quando convidados a transpor a Passerelle pela primeira vez. Todos eles possuíam a robustez necessária para o exercício, mas comportaram-se de maneira diferente, obrigando a procedimentos diversos. Todos pertenciam à mesma raça. Passemos à descrição dos casos:

1º. Caso: o do cachorro que executou o obstáculo aceleradamente.
Inesperadamente, este cachorro não resistiu ao obstáculo, fazendo-o de modo acelerado e sem intentar sair dele. Apesar da novidade e da surpresa do seu condutor.
2º. Caso: o do cachorro que só resistia à entrada do obstáculo.
Depois de várias tentativas, este cachorro continuava a resistir na entrada do obstáculo, jogando-se para trás e tentando invalidar a ordem. Não apresentava dificuldades de equilíbrio, evoluindo naturalmente no tabuleiro central e na rampa descendente. A resistência sempre foi acompanhada por um rosnar pouco gutural.
3º. Caso: o do cachorro que se encostava ao condutor no tabuleiro central.
Este cachorro subia e descia sem dificuldades, apoiando-se apenas no condutor por ocasião do tabuleiro central, apesar do seu desempenho ser lento e necessitar de alinhamento constante, em qualquer uma das partes do obstáculo.

Face ao exposto, pergunta-se:
a) Eventualmente, qual dos 3 cachorros estaria melhor no “Junto”?
b) Em qual deles o medo era evidente?
c) Qual dos cachorros tinha menos vínculos afectivos com o seu condutor?
d) Como procederia com o cão do 3º caso?
e) Deveria algum ter sido repreendido? Qual?
f) Qual dos cachorros teria o carácter mais sólido?
g) De acordo com o que se fez saber, na sua opinião, as diferentes prestações ficaram a dever-se a quê?

Se precisar de maiores esclarecimentos ou quiser confrontar as suas respostas, envie os seus comentários para este Blog. Prometemos responder dentro da maior brevidade possível.

A escola-oficina


Sempre nos negámos a entender uma escola canina como um distrito de recrutamento, como uma poda de mancebos, um Tea Club ou algo idêntico à modalidade de Cage Rage. Todavia, gostaríamos que todos os nossos instruendos de quatro patas fossem aptos, portadores de um carácter sólido, manifestamente atléticos e prontos para aprender. Também muito nos agradaria que todos os donos ostentassem a melhor das disponibilidades, tanto intelectual quanto física, para o seu desempenho enquanto condutores de cães, que fossem gente esclarecida e com os requisitos mínimos para a função. Mas se assim fosse, qual seria a nossa utilidade? Procurar-nos-iam? Talvez no paraíso tudo isso seja possível, face à boa ordem que tudo dispensa, inclusive as escolas caninas.

E porque ainda estamos aqui, os problemas não cessam, a reciclagem torna-se indispensável, a novidade sempre nos apoquenta e o conserto torna-se obrigatório. Sim, uma escola canina é uma oficina de consertos!

A pergunta é óbvia: o que consertamos nós?
Em primeiro lugar, somos confrontados com questões éticas relativas à constituição binomial, porque a adequação tem um preço que deve ser pago por ambas as partes, o que pode não acontecer face as capacidades individuais de cada um. Sempre existirão líderes impróprios e cães excelentes, líderes capazes e cães menos aptos. E nem tudo o que é sabido pode ser dito, porque importa manter o ânimo de uns e salvaguardar os outros. Se entendermos a constituição binomial como um casamento, o adestramento será, pelo menos na sua fase inicial, um autêntico namoro. Assim, a constituição binomial é o objectivo fulcral dos nossos trabalhos, muito embora desejássemos que tal acontecesse antes do treino propriamente dito, o que infelizmente é pouco comum. Por causa disso, o desentendimento entre homens e cães, sempre foi a primeira causa para o aumento das nossas fileiras. A maioria das pessoas apenas quer que o cão lhe obedeça!









Engana-se quem pensar que as escolas caninas são exclusivamente para os cães. Sê-lo-iam se eles aprendessem sozinhos ou já nascessem com um kit de obediência incorporado. Mas como não é esse o caso, há que instruir os donos para a tarefa, porque o desempenho canino sempre espelhará a qualidade dos seus mestres. E uma coisa é certa: é mais fácil ensinar cães do que donos! A capacitação dos condutores, que antecede e propicia a constituição binomial, é a primeira das metas a alcançar, segundo o contributo teórico-prático. Através do treino, vamos ser obrigados a consertar os desaguisados domésticos, a “escrever” novos capítulos na história dos cães, contrariando a sua experiência anterior e apresentando-lhes a face desconhecida dos seus donos, oculta no dualismo entre o querer e o ser capaz.

Uma vez consertados os donos, é chegada a hora de nos virarmos para os cães. Se o exercício da obediência regra os mais atrevidos, também é verdade que a prática da ginástica torna os inibidos mais audazes. Dependendo do carácter dos cães em classe e respeitando o princípio pedagógico da individualização, os conteúdos de ensino a ministrar deverão considerar o seu robustecimento. Como a aptidão de um cão se encontra ligada aos factores físico e psicológico, o plano de aula deve considerar o seu acerto, valendo-se dos subsídios disponíveis na pista táctica. A correcção morfológica (operada a partir dos aparelhos correctores), o robustecimento do carácter e a melhoria dos ritmos vitais, são consertos típicos e inseparáveis do “método da precocidade”, porque qualquer função se encontra sujeita àquilo que a sustenta (preparação).

Em síntese, moldamos homens e cães para um projecto comum, visando a capacitação bilateral para a autonomia desejada. E dito desta maneira, tudo parece fácil, particularmente quando os objectivos são alcançados e os percalços esquecidos. A escola não faz milagres, mas tem realizado os sonhos de muitos, graças ao trabalho oficinal que os transportou para a realidade.

Binómio Roberto / Turco: construir e testar um reprodutor

O Roberto adquiriu recentemente um CPA lobeiro-vermelho, deu-lhe o nome de Turco e apresentou-se na Escola. O cachorro, pela parte que nos toca, é descendente do Zucker e da Babel, o que significa que descende do Warrior e do Scwartz. Na pista comportou-se atrevido e perspicaz, desafiando os mais velhos para a brincadeira. O Turco destina-se a reprodutor, vai ser preparado e testado para a finalidade. Neste momento encontra-se um pouco deficitário no peso, facto a que a adaptação não deve ser alheia. Desejamos as maiores felicidades para ambos. Parabéns Roberto, tens um exemplar 5 estrelas!

Binómio Elisabete / Lua (II): o amargo da novidade

A cachorra sem nome já o tem: Lua. Ela é produto da casa, filha da Pietra e do Kaiser. A sua disponibilidade é impressionante, mostra carácter e desejo de aprender. As maiores dificuldades estão reservadas para a sua condutora: a Elisabete, porque a cachorra não perde tempo e a dona tem muito que aprender, especialmente na doação de carinho, na criação de estímulos e na transmissão das emoções. Estamos convencidos que a Lua será uma mais-valia para a Elisabete, uma terapia eficaz contra a sua excessiva timidez, amuos sistemáticos e constantes desaires. Os cães têm muito para nos ensinar, basta estar atento!

Binómio Roberto / Teka (II): sem espinhas!

Esta Teka é irmã da Vega e da outra Teka, produto da criação do Roberto e outra gigante entre nós (60 cm aos 5 meses). Apesar de ser filha da Buba e do Greg, pouco lembra o pai e em tudo é igual à mãe. Realizou com especial destreza todo o trabalho que lhe foi solicitado, tratou a pista por tu e pôs os demais cães em sentido, mesmo aqueles que tinham o dobro do seu tamanho. Palavras para quê? O que bom não merece contestação!

Fim-de-semana de 12 e 13 de Setembro: Sábado de maré-cheia e Domingo de maré-vazia. Cavaco e Flaps.

Este fim-de-semana, em termos de participação, lembrou o movimento das marés: Sábado, preia-mar e Domingo, baixa-mar. Trabalhou-se de tudo um pouco e os cachorros não nos deram descanso. A Ana Pinto trabalhou os 4 turnos e o Roberto Mariano voltou à casa. O Loki ainda serviu de pónei para a Helena, a pequenota filha do Eduardo Santos. A condução em liberdade alcançou a primazia e os cachorros evoluíram pelo perímetro exterior. A Isis, uma cadela husky, propriedade da Ana Pinto e conduzida pelo Rui Ribeiro, deslocou-se taco-a-taco entre os CPA’S. O Micks começou a aprender o APC e o passarinho voltou a voar, indo pousar nas pernas da Alexandra. O Zorro está a despertar e o Loki a aprender o salto de mochila.
Há gente que insiste em não dar cavaco, que simplesmente se borrifa nos outros, num claro “quero que eles se lixem!”. Estamos a falar daqueles alunos que desaparecem sem deixar rasto, deixando a Escola à espera, tal qual noiva de marinheiro condenado às galés. Realmente não temos sorte, nascemos para educar cães! Aproveitamos a ocasião para lançar um alerta e um pedido: Se por acaso avistarem um avião no horizonte, digam-lhe adeus. Pode ser que seja o João Domingues. Se for ele, certamente retribuirá o cumprimento e lembrar-se-á de nós. Se ele vos avistar, porque não temos rádio, baixará a altitude e ligará os flaps, fará um virar de asa e ligará as luzes de aproximação. Há que ser persistente.
Participaram nos trabalhos os seguintes binómios: Alexandra/Abu, Ana/Loki, A. Cunha/Zorro, Carla/CPA-LB, Eduardo/Micks & Vega, Elisabete/Lua, Filipe/Jürgen, João Franco/Zappa, Jorge/Audaz & Juvat, Luís Leal/Teka, Manuel/Mini, Octávio/Greg, Roberto/Teka & Turco, Rui Ribeiro/Isis e Zé Gabriel/Master & Menina.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

As diferentes etapas para a fixação do "quieto"

O comando de “quieto”, que alguns substituem por “fica”na tradução do verbo inglês “stay”, é um automatismo de imobilização que funciona como trinco dos demais (alto, senta, deita e morto). Assim, a sua instalação só deve acontecer depois daqueles que garante. No nosso caso, discípulos do método da precocidade preconizado por Trumler, temos por hábito ministrá-lo aos cachorros de 4 meses de idade, de modo progressivo e segundo as características e finalidades dos indivíduos. No entanto, na presença de submissos, relegaremos para mais tarde essa instalação, considerando os seus mecanismos de autodefesa e o desenvolvimento do seu sentimento territorial, porque não adianta travar quem geralmente não se mexe! O excessivo travamento que a obediência abusiva oferece, deve ser banido das fases iniciais do adestramento (1º e 2º Ciclos), cedendo lugar à ginástica, para que o desencanto não grasse e o cão abomine o treino.

Quando o desrespeito pelos princípios da pedagogia geral de ensino é por demais evidente, qualquer método é violento, porque ignora o individuo, despreza a sua capacidade e rendimento, coloca a rotura no lugar da adaptação, esquece o princípio da reversibilidade, desaproveita os momentos de supercompensação, atenta contra a sistematização laboral, ofende a relação óptima entre a preparação especial e geral, causa obstáculo à actividade apreensível canina e estabelece rotinas alheias ao seu bom desempenho. Como não queremos nada disso, adiantamos seguidamente as várias etapas para a fixação do comando de “quieto”:

Inicialmente, a sua instalação deve acontecer de modo isolado e distante dos demais binómios em treino, para que nada distraia, provoque ou intimide o instruendo, garantindo em simultâneo, a fixação exclusiva na pessoa do condutor Só depois do comando passar a automatismo é que se pedirá o seu desempenho entre o colectivo.

1. O condicionamento começa por ser frontal, com o condutor na frente do cão e a escassos centímetros de distância, tirado a partir de uma figura de imobilização, pelo concurso de algum obstáculo ou pelo recurso à recompensa. O trabalho deve ser sistemático para garantir a rotina.
2. Depois da imobilização frontal ter sido alcançada, é chegada a hora de a transformar em lateral, com o cão ao lado dono, alinhado e aguardando ordens. Para operar a celeridade da adaptação, convém que este desempenho seja feito mais próximo dos demais binómios em movimento. Em qualquer etapa se evolui da trela para a liberdade.

3. O bom aproveitamento nas etapas anteriores garante a seguinte: a deslocação circular do condutor ao redor do cão. Este afastamento circular deve ser progressivo e procurar o aumento do raio. Caso o cão se levante, que tanto pode acontecer na partida como na passagem pela sua retaguarda, deve de imediato ser colocado no mesmo lugar e debaixo da mesma figura de obediência. Os cães manhosos apresentam a tendência para ganhar terreno, exactamente como os futebolistas nos lançamentos de linha lateral.

4. Da deslocação circular ao redor do cão passaremos para a evolução no círculo de 36 m, distanciando-nos apenas nas suas duas metades (linhas da passerelle e da paliçada). Convém que nesta evolução o dono fique oculto por alguns instantes, condição que é garantida pela barreira dos obstáculos.
5. Perante a resposta positiva, usaremos o círculo de 36 m em toda a sua extensão, imobilizando o cão nos diferentes locais que o seu perímetro oferece. Evoluiremos de uma volta simples para mais voltas. Jamais deveremos começar este trabalho junto das áreas de descanso ou supercompensação, porque o animal não hesitará em refugiar-se nelas. No momento do reencontro, ao aproximar-se do cão, o condutor deve manter a visão periférica e não olhar directamente para o animal, porque ele pode entender isso como um convite para se levantar, perante a chegada do dono. Também neste momento, é preciso ter cuidado os cães submissos, porque a insistência no comando pode obrigá-los à transição da figura inicial para a imediatamente a seguir (do “alto” para o “senta” ou do “senta” para o “deita”). Mais vale dizer “bonito” do que invalidar a figura inicial.
6. A imobilização garantida pelo “quieto” deve evoluir do “deita” (imobilização mais segura) para o “senta” e deste para o “alto”, de acordo com os resultados alcançados.

7. A frequência dos comandos começa por ser de 3 em 3 m, depois de 6 em 6, de 12 em 12 e finalmente de 18 em 18. Depois uma vez basta. Só os cães mais agressivos ou medrosos necessitarão do contributo do “não”, que deve ser dito como advertência, antes do automatismo requerido. Se procedermos ao contrário, perdemos a antecipação que impede o disparate e relegamos para mais tarde a fixação do “quieto”.

8. Ao bom desempenho escolar e à recapitulação doméstica, segue-se o uso em sociedade, nas situações mais variadas onde o comando se torna imprescindível.

Um cão bem condicionado no “quieto” aguenta a figura por 2 horas, com o dono ausente e para além das condições que encontre. O treino continuado tende a perpetuar a imobilização. Lembro aqui o caso do Zucker, ascendente do cachorro lobeiro, propriedade do Roberto Mariano, que esquecido num café, ali permaneceu por 4 horas, debaixo de um lavatório e sem se importar. Ainda parece que oiço o Zé Ribeiro ao telefone: “Ó Sr. João, está aqui no Café um Pastor Alemão muito grande, com cara de poucos amigos, e como está debaixo do lavatório, ninguém pode ir lavar as mãos! O bicho não será seu? Agradecia que o viesse buscar!”

A piada da semana

Num dos momentos de supercompensação, uma condutora dizia para os demais:
- Se acham o meu nome estranho, imaginem o do meu irmão. A minha mãe deu-lhe o nome de Pólio!
Estupefacto ao ouvir tal, o Director de Instrução questiona-a:
- A Senhora sua mãe bebe?

Binómio Íris / Zigui: o vigor da selecção natural

Chegou um novo binómio à Escola. O Zigui é SRD com 2 anos, um bassetóide lobeiro, de 45 cm de altura e de orelhas semi-erectas. Apresenta uma predisposição laboral excelente, adora frequentar as aulas e é um atleta de eleição. A sua condutora é a Íris, o binómio está a evoluir “a todo o gás” e constituiu-se na coqueluche da Pista. Desejamos-lhes os maiores progressos. Se tudo depender do Zigui…

Binómio Isabel / Amora: o peso dos 10 anos depois


Apesar deste binómio já estar a trabalhar connosco há 2 meses, nunca o anunciámos. Pedimos desculpa pelo facto. A Amora é uma CPA lobeira, filha da Xita e produto do Canil Monte do Pastor, que foi excelentemente instalada pelos seus proprietários. É a fotocópia do seu pai, o Kaiser, gosta de “afiar o dente” e aprende com muita facilidade. O seu impulso ao conhecimento é notável e já começa a andar em liberdade. Tem uma cadência de marcha incrível e não se intimida perante qualquer desafio. A Isabel, sua condutora, dez anos depois, facto que sublinha à guisa de desculpa, quando o seu desempenho físico não é o melhor, retorna às fileiras da Classe de Cachorros. A qualidade da cadela e a experiência da dona são a chave pró sucesso deste binómio. A Amora, que é irmã do Zorro, ainda não fez 7 meses, já tem 63 cm de altura e 30 kg de peso. Felicidades para ambas.

Binómio Luís / Teka: o espanto da novidade


Chegado recentemente, o binómio Luís/Teka, está a cumprir os objectivos pedagógicos sem qualquer dificuldade. A Teka é uma CPA/Negra, de 5 meses e é irmã da Vega, ambas descendentes do Greg e da Buba e produto do Canil von Westgotischer konige, propriedade do Major-Comando Roberto Mariano. É o primeiro cão que o Luís treina e está admirado com as facilidades encontradas. Meu rapaz, feche a boca por enquanto, certamente não lhe faltará ocasião para a abrir, porque a Teka é produto de rigorosa selecção e está aí “para o que der e vier”. Bem-vindos.

Esquecemos os condutores mais antigos e ausentes?

É evidente que não! Apesar de ausentes, eles viajam connosco e estão sempre presentes no Treino, os seus desaires e vitórias dão-nos a experiência para valer aos actuais. O percurso de alguns é constantemente relembrado, certos cães viraram ícones e muitos binómios exemplo. A solidez de uma escola canina sempre assentará sobre o número dos seus membros, tal qual passado que garante o presente e alicerça o futuro. Algumas personagens da nossa história “ficaram” pelo caricato das situações que criaram. Tal foi o caso dos Sr.s Manuel e Joaquim que narraremos sinteticamente e de imediato:

O Sr. Manuel era um comerciante de vinhos que detestava fiscais. Um dia contactou-nos para comprar dois cães: “daqueles que não deixam dúvidas e que põem os intrusos para correr, para me ver livre daqueles filhos da ... !” Dizia. Os seus setenta e poucos anos e os 100 kg que suportavam, dificultavam-lhe o treino dos bichos e viu-se obrigado a recorrer a um empregado: o Joaquim. “ Como o Sr. vê, não tenho condições para isto, nem idade nem saúde. Vou mandar para cá o meu empregado Joaquim. Mas fica desde já avisado: o gajo é burro que nem uma porta!”

Passados alguns dias, lá veio o Joaquim com os cachorros, vindo da terra da loba (Lourinhã). Era um individuo quarentão, roliço, ruço de pelo e rosado de cara. Cara, tinha-a de anjo! Depois de escolher o cão para iniciar os trabalhos, prontificou-se para os exercícios. “Ó Sr. Joaquim faça a paliçada, se faz favor!” O homem nem hesitou, subiu prontamente o obstáculo, com o cão admirado, a olhar para ele do solo!

Fim-de-semana de 05 e 06 de Setembro: Entre Corvos e Bicos-de-Lacre

Pouco tempo após a proibição de as caçar, as aves autóctones começaram a voar sobre as nossas cabeças, constituídas em bandos e despertando os campos para a sua presença. Sobre a Pista Táctica passa um número infindo de espécies, os mais comuns são os corvos (que há muito não se viam) e os bicos-de-lacre. A sinfonia canora voltou às charnecas e os outeiros ganharam alma. Adestrar com esta música de fundo é transcendente, o stress vai-se embora e o campo vira terapia. Contudo, ainda há por aí alguns malandros, que valendo-se da ignorância dos fiscais, que não são ornitólogos, vendem pintassilgos nacionais como provenientes do Japão ou doutra latitude que lhes venha à cabeça. O preço unitário é de 6 euros e a procura é justificada pelo desejo dos seus híbridos com canários, geralmente bons cantores, resistentes e excepcionalmente belos. É caso para dizer, usando os termos regionais: “ depois de lixarem os cães, deixem os pássaros em paz!”
Adornado pelo canto das aves, o trabalho deste fim-de-semana foi variado e aconteceu nos seus quatro turnos. Sábado foi dedicado ao perímetro exterior e a algumas discussões sobre temas actuais do interesse geral. No Domingo, porque a conversa já se encontrava em dia, trabalhámos as disciplinas de obediência, ginástica e guarda. Da parte da tarde evoluímos para a légua de marcha, subdividindo-a entre a condução à trela e em liberdade. A velocidade média dos binómios escolares ronda os 6 km/h, muito embora haja quem evolua a 7.8 km/h, sem forçar. Sujeitámos o Pipo e o Ricky à indução defensiva, operámos o robustecimento de carácter do Loki e ainda nos sobrou tempo para a jardinagem.
O Carlos Esteves comprou finalmente o trem de limpeza para a Zara, quando o irá utilizar? Esta semana o Daniel bateu o seu recorde pessoal: 15 voltas ao círculo de 50 m. À parte disto, desfilou em liberdade com a Flor a maior parte do percurso. A Princesa serviu de fila-guia para o Luís Leal e o Pipo enamorou-se da Isis. Mais uma vez o Teddy está no hotel, porque a Pescadinha foi viagem e só o resgatará na próxima 3ªFeira. O Jorge Santos ficou retido em casa e o Bruno foi para Tomar. Participaram nos trabalhos os seguintes binómios: Alexandra/Abu, Ana/Loki, Carlos/Zara, Eduardo/Micks & Vega, Joana/Flikke, João Moura/Xita, Luís Leal/Teka, Manuel/Mini, Octávio/Greg, Pedro/Pipo, Princesa/ Ricky, Rui/Isis, Xico/Pongo e Zé Gabriel/Master & Menina.