segunda-feira, 27 de abril de 2009

::: Treino, Temperatura e Humidade :::

A melhoria dos ritmos vitais ( respiratório e cardíaco ), é uma das prioridades do treino canino, quer ele seja escolar ou doméstico, uma vez que a evolução do trabalho em classe, sempre resulta do desenvolvimento operado para além do perímetro escolar. Esse “TPC” do binómio, deve ter em conta diversos factores, em especial, a temperatura e a humidade e não exclusivamente, a disponibilidade de horários dos condutores. E como entre nós, treino por definição é rigor, ele deve ser operado em condições climatéricas que não atentem contra o salutar uso dos animais. Calor, frio e humidade excessivos, são condições adversas que urge evitar, especialmente entre os cachorros, os cães débeis ou idosos. Mesmos aqueles que se encontram no máximo da sua pujança, para que não sofrem um inadequado aumento do seu metabolismo, mercê da contractura das fibras musculares, devem exercitar-se de acordo com as condições climatéricas que encontram.

É importante relembrar, que os cães se encontram sujeitos ao relógio biológico, que a maioria das raças caninas já perdeu a sua rusticidade e que apenas algumas, denotam capacidade para trabalhar em condições climatéricas adversas, sendo para isso, objecto de aturada selecção. Nesta matéria, tal qual operamos na transmissão cognitiva, em que partimos do simples para o complexo, e tomando como exemplo as estações do ano, devemos evoluir, gradualmente, segundo a resistência animal encontrada, já que os cães reagem mal aos choques térmicos.
Em termos laborais e tendo como base a escala centígrada, dividimos a temperatura em 7 grupos, nomeadamente através das siglas: Tp00 (-30º a -15º); Tp01 (-14º a – 2º) ; Tp02 ( -1º a 5º); Tp1 (6º a11º); Tp2 ( 12º 21º); Tp3 (22º a 28) e Tp4( 29º a40º). Em matéria higrométrica dividimos o percentual de humidade em 3 grupos e segundo as siglas: Hm0 (dos 0 a 35%); Hm1 (dos 36 a 65%) e Hm2 (66 a100%).
Assim, as condições ideais para o treino resultam da combinação entre aTP3 e a Hm1, muito embora seja aceitável trabalhar nas condições Tp2/Hm1 e Tp1/Hm1, restringindo-se no entanto, os exercícios de endurance aos cães mais assíduos e com ritmos vitais mais baixos. Os cães portadores ou propensos a problemas articulares, carecem de aquecimento prévio, mesmo se o seu trabalho físico se desenvolver sobre os saltos naturais. Animais acostumados a trabalhar em Tp2 e Tp1, conseguem ter um desempenho satisfatório nas condições Tp02, exceptuando os animais brancos ou com ausência de subpêlo. Qualquer Rottweiler sujeito a Tp4 ou a Hm0, pode fazer obstrução da árvore brônquica, devido ao aumento da frequência respiratória e entrar em dispeneia. O que é proibido para o Rottweiler é também para o Bulldog inglês e para a maioria dos Boxers.

Os cães acostumados a trabalhar em altitude, suportam melhor as baixas temperaturas, uma vez que as dificuldades encontradas são idênticas, a rarefacção do oxigénio que induz a uma circulação sanguínea mais lenta e por reacção, a um ritmo respiratório mais elevado. Tendo em conta as características climáticas do nosso País, deve-se treinar em altitude no verão, para que o cão passe melhor o inverno. Fica o conselho.

Nos canis a presença do higrómetro é indispensável, pois será ele que nos dirá da qualidade das instalações e dos respectivos isolamentos, isto se o nosso objectivo, passar pela preservação sanitária do nosso fiel amigo, porque ele, infelizmente, não é um “desumidificador”. O excesso de humidade pode agravar problemas cardíacos, respiratórios e articulares, levar a uma incapacidade laboral precoce. Os canis virados a norte, devem ser isolados no inverno, revestindo-se os gradeamentos com placas de acrílico transparente, que deixam entrar a luz, conservam a temperatura e diminuem o percentual de humidade. Se o higrómetro é indispensável, o mesmo se pode dizer do termómetro.

Havendo excepções e o Labrador é exemplo disso, a maioria dos bracóides tem um mau desempenho físico no inverno, entrando facilmente em hipotermia e acusando luxações ao mínimo toque. Os membros leves, que lhe possibilitam a rápida captura, são próprios para trabalhar em Tp2/Hm1, isto se, não forem por demais malhados ou despigmentados, (ex: Pointer).

De princípio e considerando o clima europeu, nenhum cão negro ou maioritariamente negro, deverá ser portador de uma ossatura ligeira, exceptuando os toys que raramente saem de casa, os demais, acabam por sofrer os horrores do inverno, porque não acusando o frio, sujeitam os seus membros a problemas dolorosos. Apesar disso, dão-se melhor no inverno do que no verão, especialmente os homozigóticos, que não possuem no seu manto zonas de refrigeração, (manchas brancas no peito e nas patas). Como naturalmente, os cães negros são de ossatura ligeira, os criadores dos países mais frios, desenvolveram animais de médio porte com ossatura superior à natural. No entanto, com a chegada do verão, um outro problema surge, o do aumento inadequado da temperatura corporal, que leva à aceleração do ritmo respiratório e por conseguinte à fadiga, havendo comummente, percas de energia, advindas da transpiração exagerada. Lembro aqui um provérbio árabe : “ dá ao teu inimigo um cavalo negro”. Cães desta variedade cromática, tendencialmente, deitam-se à chuva, dormem debaixo das portas e “desaparecem” no verão.

Como é sabido, nunca se deve sujeitar um cão ao exercício natatório, quando a temperatura da água seja inferior aos 15º centígrados, porque ao invés de se alcançarem as melhorias de rendimento pretendidas, podemos condenar os cães a vários tipos de lesões, imediatas ou permanentes, segundo o seu nefasto uso.

As condições Tp01/ Hm2, quando combinadas, obrigam os cães ao uso de mantas térmicas e estranguladores de gorro, se a marcha for prolongada, o recurso a botas de protecção, é também obrigatório. As botas de protecção, que já se encontram à venda no mercado, servem também para os percursos de pistagem, especialmente aqueles, desenvolvidos sobre cardos ou espinhos e para evitar os danos provocados pelos produtos corrosivos, sobre as patas dos animais. Quando existem cortes profundos nas almofadas ou nas membranas interdigitais, as botas podem ajudar na recuperação do cão. Todos os binómios deveriam possuir, pelo menos um par delas, para as patas dianteiras dos seus cães, acostumando-os ciclicamente ao seu uso, podendo inclusive, desenvolver trabalho escolar de “botas postas”. O mesmo deve suceder quando os donos visitam estâncias de inverno e levam os seus cães consigo.

Nestas condições ( Tp01/ Hm2), os cães sem subpêlo não devem laborar, especialmente se forem de cor branca e de ossatura ligeira, também os cachorros e os animais idosos, assim como os portadores de problemas articulares, devem ver dispensados os seus serviços. A excepção dos Huskies e Malamutes experimentados, nenhum cão deve executar qualquer tarefa num panorama de Tp00.

O aparecimento precoce de manchas brancas nas áreas de arrefecimento, (debaixo do focinho, na ponta do externo e nas patas), se não for de origem genética, sempre resulta do abandono ou desuso, do exercício diário regular, surgindo como compensação aos débeis ritmos vitais. A pelagem dos Huskies, Malamutes e Pastores Alemães, assim como a dos Rottweilers, pressupõe a sua adaptação a climas frios, tendo zonas inferiores de arrefecimento e superiores de captação e conservação do calor. Quando um cão se molha, a primeira zona a secar é a dos rins e do peito, depois as partes menos sujeitas ao movimento, devendo conservar-se o animal “embrulhado” por alguns minutos, para que a temperatura corporal aumente. Os cães de pêlo crespo ou duplo, depois do banho, são os de mais difícil secagem, porque a sua pelagem foi concebida para resistir à permeabilidade da água.

Se um cão se encontrar instalado num ecossistema de grandes amplitudes térmicas, deve variar o teor de gordura do seu penso diário, mais gordo no inverno e menos gordo no verão, estamos a falar da variação existente entre Tp01 e Tp4, facto que só acontece entre nós, esporadicamente, nas terras interiores e distantes do litoral. A variação do teor de gordura sintoniza o cão com o relógio biológico e opera o apresamento das mudanças de pêlo. Em Tp02 o teor de gordura recomendado é de 24%; em Tp01, 26% e em Tp00, 28%, podendo ser aumentado em função do serviço requerido ao cão. Quem não altera os teores de gordura, socorre-se de produtos com base na vitamina K. Por causa disso, alguns cães apresentam feridas sazonais resultantes de uma dieta repetitiva e duplamente imprópria.

A adequação à humidade e à temperatura encontra-se reflectida na morfologia de cada animal e denuncia o ecossistema donde cada um é oriundo ou o serviço a que destina, ainda que o treino consiga capacitar os cães para condições climatéricas naturalmente impróprias, não o consegue fazer de forma duradoura, pois o cão não está preparado para ir além das suas capacidades, por maior que seja o apego ao dono e eficazes que sejam os automatismos. Binómio que trabalha para além dos limites, arrisca-se a ver um estrangulador vazio, talvez pendurado na parede das recordações, objecto de uma história que não teve um final feliz.

JLS.Garrido

Sábado, 25 de Abril - Do Cravo para a Rosa

Ao contrário do que parece, este título não é uma insinuação política, coisa própria do programa "Contra-Informação". Ele está apenas ligado à circunstância temporal e ao local geográfico onde desenvolvemos os nossos trabalhos, porque aproveitámos o dia da revolução dos cravos para trabalhar entre rosas, na nossa pista táctica, repleta de flores desta variedade, de várias cores e diferentes combinações.






Este fim-de-semana foi dedicado ao adestramento escolar, tirando-se partido do princípio pedagógico da sobrecarga, trabalhando os binómios de manhã e de tarde. E aqueles que se fizeram presentes foram: Ana/Isis e Loki; Alexandra/Pipa; Filipe/Jürgen; João Franco/Zappa; Joana/Flikke; Manel/Mini; Maria/Nina; Octávio/Greg; Pescadinha/Teddy; Rita/Zara; Sofia/Bonna,Nobel e Zazu; Susana/Pascoalito e Zé Gabriel/Master.

A parte teórica foi dedicada ao "Quadro Geral de Temperatura e Humidade" e ao "Plano de Aula", a parte prática incidiu sobre as disciplinas de obediência, ginástica, endurance e guarda, visando o objectivo central do adestramento: a salvaguarda canina. Foram também desenvolvidos alguns complementos curriculares, tais como o transporte e a técnica de condução, com especial ênfase para a condução à distância, dita nuclear. No transporte optou-se pela entrega de ferramentas de uso corrente, na procura da complementaridade canina. Nota de destaque para o Zazu, um verdadeiro "Às" neste ofício, que junta ao cumprimento das ordens um cuidado especial, uma alegria transbordante e uma velocidade invejável. Infelizmente não temos reportagem fotográfica deste trabalho, (Ai Princesa que tanta falta fazes!). Certamente não nos faltará ocasião para tal, porque a recapitulação é prática corrente entre nós. Na guarda, introduzimos os ataques à manga oculta, para preparar os cães para o mundo do espectáculo (cinema e televisão). A Alexandra Ferreira revelou-se uma excelente colaboradora neste trabalho. Oxalá Hollywood não saiba, porque esta aluna faz-nos muita falta.





















Os alunos entenderam a mensagem deixada no Blog, entrando na Escola à hora certa, o que há muito não acontecia.


O Flikke, ao contrário dos seus irmãos, continua a nada transportar, mais por culpa da dona do que por incapacidade genética. Contudo, melhorou nos automatismos de imobilização. O rendimento geral foi bom e aconteceram vários acertos técnicos.

O Greg vai ser outra vez papá, está-lhe a apanhar o gosto. Fomos visitados pelo João Esteves, um ex-aluno e que intenta voltar para a Escola, diz-se cheio de saudades e ficou a assistir à aula.

Domingo, 26 de Abril - O Domingo do Domingues (A Maratona)

Domingo foi um dia de trabalho intenso. Participaram nos trabalhos os seguintes binómios: Ana/Isis e Locky; Bruno/Pepe; João Domingues/Kaiser; João Franco/Zappa; Maria/Bibos, Bravo, Klein, Mc e Nina; Paulo/Diva; Pescadinha/Teddy; Rita/Zara e Zé Gabriel/Master. O trabalho foi essencialmente prático e culminou com uma reportagem fotográfica. O fotografo solicitado foi o Carlos, que temendo os cães, sempre encontra alguma segurança por detrás da câmera.Este amigo tem um posto de venda de pneus na Igreja Nova onde, segundo se consta, vende esses acessórios a preços mais baixos que a concorrência. Com a crise que aí vai, se calhar valerá a pena uma visita.

A esmagadora maioria dos binómios trabalhou de manhã e à tarde, o que para alguns foi uma tarefa árdua, por força da adaptação que tarda em acontecer. Finalmente o João Domingues trabalhou afincadamente, o Kaiser agradeceu e o condutor esteve à altura. Por razões várias, este binómio apresenta uma carga horária deficitária, o que tem obstado ao estrelato do cão e à sua mais-valia.O animal adora vir para a Escola e nutre um especial apreço pelo adestrador. Porque será, o que é que ele lhe fez?

A Ana Pinto quase rebentava com os restantes binómios na condução linear, e isto apesar de se encontrar fora de forma. É impressionante como uma condutora com 1,60 metros mal medidos, consegue evoluir numa velocidade superior aos 7,5Kms/hora. O condutor João Franco, honra lhe seja feita, apesar das dificuldades técnicas, mostrou uma vontade invejável de aprender, participando afincadamente nos trabalhos. A Rita Rua está a melhorar tecnicamente, apesar da Zara lhe ludibriar muitos dos seus propósitos. O Master continua a ser o "Rei dos Tambores", independentemente da altura a que eles se encontrem. O Pepe é a alegria da Escola e o Bruno um camarada devotado aos seus propósitos. O Teddy sofreu horrores porque se apaixona por qualquer cadela. Para este Labrador qualquer uma é objecto de veneração séria. Se falasse, um só nome diria: Zara. A CPA Diva está a evoluir de acordo com o "Quadro de Crescimento Funcional". Parabéns ao Paulo pelo interesse e dedicação.



Recebemos a visita do Sr. António Cunha, que se fez acompanhar do seu cachorro CPA, filho do Kaiser e da Xita. O infante encontra-se bem e perfeitamente adaptado, denunciando uma adopção cuidada e bem sucedida. Este novo proprietário canino é uma pessoa zelosa do seu papel, não hesitando em contactar-nos por email, a fim de esclarecer as suas dúvidas. O Cachorro encontra-se dentro da altura e peso desejáveis para a sua idade, tem um pelo brilhante e uma pelagem excepcional.

Fomos ainda visitados por um casal proprietário de um Sharpei, a necessitar urgentemente de sociabilização, novas tarefas e desafios, para que leve de vencida o medo.



E porque nem só de cães vive o homem, uma menção especial para o Restaurante "João da Vila Velha", em Mafra, onde comer é um prazer e o sossego é conventual.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

::: Os 10 minutos de relax: o recreio escolar (importância sociológica) :::

Por razões várias e ao contrário do que fizemos durante 12 anos, nos últimos dois, suprimimos do plano de aula o seu tempo introdutório: os 10 minutos de relax. A isenção do momento social canino tem-se mostrado catastrófica devido ao aumento das picardias e à diminuição do trabalho colectivo animal. Evoluímos agora debaixo de cuidado e sob circunstâncias especiais, considerando as inimizades existentes entre determinados cães. Os cachorros ladram desalmadamente para os cães adultos e estes só permanecem quietos por força dos comandos inibitórios. Sempre que paramos os trabalhos práticos e intentamos desenvolver a aula teórica diária, vemo-nos aflitos para manter a boa ordem e serenar os animais. Por vezes e sem outra opção, somos coagidos a encarcerar alguns cães nas boxes. No círculo de 36 mts prolifera a 1ª posição de imobilização, em prejuízo da 2ª ou 3ª requerida. Os travamentos estão mais lentos e o “ efeito cata-vento “ cresce a um ritmo assustador. Assiste-se à debanda pelas cadelas, às tropelias dos cachorros e à correria suada dos donos, que se esgueiram pela pista, tal qual utente atrasado, na ânsia da apanhar o autocarro. Nos exercícios de interrupção da linha de chamada, os cães progridem desenfiados ao contrário do exigível segmento de recta, obedecendo a quem não devem ou ensurdecendo-se por sistema, será surdez selectiva? Quando param alinhados, as suas orelhas apontam em diferentes direcções e assiste-se uso forçado da sua visão monocular. O concurso aos obstáculos serve de pretexto para escaramuças várias e as marcações territoriais são por demais evidentes. E neste pandemónio, tal qual “ fatídico anjo caído”, porque o domínio é seu, esganiça-se o Adestrador.

É evidente que um só cão, pode contribuir para a instabilidade dum grupo, provocar distúrbios pela sua prepotência ou rejeição. No entanto, sempre nos cruzaremos na rua com cães deste tipo, são até muito comuns, se considerarmos que agem por ciúme, medo ou desconfiança e que avançam na certeza do apoio dos seus donos. Gente solitária gera cães marginais e há que contar com ambos! O confidente animal, enquanto vítima do ostracismo, manifestará sempre um comportamento marginal, suportado pelos sentimentos territorial e gregário que lhe são peculiares. A sociabilização destes cães passa pela reinserção social dos donos (discipulado), pelo norteamento das acções caninas (fixação) e pela sociabilização animal, trabalho escolar obrigatório e um dos seus pilares pedagógicos maiores. A tarefa não é fácil, transformar um leão num cordeiro, transpira a “verdade” metafísica, especialmente, se considerarmos o antagonismo entre os desejos ocultos dos donos e a prática do adestramento, porque infelizmente, isso atenta contra o “reizinho” que existe dentro de cada um de nós. E o mais engraçado de tudo isto, é que as pessoas não se enxergam, procurando para o cão finalidades, quando o fim é manifesto e há muito foi instalado : o terapêutico ! Agora, não podemos consentir que o cão seja o saco de boxe do dono, que ele tenha de se mortificar para que o outro viva, que seja isento do seu bem-estar em prol da felicidade que transmite. Assim como a alienação canina não é natural, a recuperação do dono não é automática. E nós a pensarmos que a Escola era só para os cães! O isolamento canino deve terminar no dia da sua inscrição escolar, a menos que, por canais que nos são desconhecidos, eles vivam esperançados nas Palavras da Redenção: “ Vinde a mim todos os que estais cansados e oprimidos e Eu vos aliviarei”.

A constituição da matilha escolar espontânea, enriquecida pela sua heterogenia e diversidade etária, pela sociabilização que oferece e pela regra que opera, torna-se indispensável para a pacificação canina, factor essencial para a concentração laboral, para o desenvolvimento da obediência, para o progresso da ginástica e para o reforço da liderança humana. Por outro lado, a ausência de sociabilização animal, obsta à instalação do genuíno cão de guarda. Os cães debaixo de stress tornam-se surdos e esquivos, tendem à irritabilidade e à confrontação indesejável.

Como podemos operar a harmonia dos cães escolares, sem o recurso exclusivo às manobras de sociabilização animal?

Alguns sustentam o princípio da familiaridade, separando os cães agressivos dos demais, colocando-os do lado exterior à pista, para que vejam os outros a trabalhar e se familiarizem. Apesar do muito empenho dos donos, as tratativas são morosas e nem sempre alcançam o resultado desejado. A ausência de competitividade pode induzir-nos em erro, porque a impossibilidade de contacto apenas produz apatia. No entanto, o controle dos latidos é possível e não raramente acontece. A integração em classe é feita de modo gradual e ao menor sinal de agressividade, o retorno à 1ª forma acontece. O princípio tarda em resolver o problema emocional que o contacto propicia, coisa que a separação não oferece e tende a agravar o problema.

Outros recorrem ao princípio da coerção, juntando os cães problemáticos aos restantes, servindo-se das trelas para travar qualquer tipo de agressão. A cessação das acções é acompanhada pelo recurso a comandos inibitórios. Espera-se que o condicionamento opere e se transporte para a condução em liberdade, o que nem sempre acontece e obriga ao retorno à 1ª forma, agora mais demorada e com maior acutilância. O travamento do cão junto ao dono acontece, duvida-se é que opere na condução nuclear, quando a confrontação sucede para além do alcance físico do condutor, já que a distância pode obstar à contenção desejável. A sujeição ao princípio pode ter consequências indesejáveis, operar a castração definitiva dos impulsos à luta e à defesa. Assim, o princípio da coerção está cativo à troca de alvos, substituindo, amiúde, os cães por cobaias humanas.

Há ainda quem se socorra do princípio da fixação, obrigando os cães marginais à fixação exclusiva nos condutores. Mas o que acontecerá perante a distracção momentânea dos líderes , fará o cão jus ao provérbio que diz: “longe da vista; longe do coração” ? Sem objecto de fixação ele fica entregue a si próprio ! O princípio torna-se inválido sem o contributo efectivo dos automatismos e só pode ser aplicado depois da sua instalação. Assim temos procedido com os cães que chegam à Escola já adultos.

Certos adestradores lançam mão do princípio da privação, privando os cães da liberdade ou daquilo que mais gostam, em função do seu mau comportamento anterior, pondo-os literalmente de castigo e isentando-os temporariamente dos seus afagados. O benefício do castigo carece do flagrante delito, para que o cão compreenda a razão privativa. Entre os submissos o princípio tem resultado, mas nos dominantes nem por isso! A sujeição ao princípio é duplamente dolorosa, porque o cão não se cala e o dono não aguenta tanta lamúria.




O princípio da distracção baseia-se na alteração da fixação canina, pela substituição dos impulsos herdados mais evidentes em cada cão, o que obriga ao isolamento binomal. No lar o recurso pode ser válido, na rua nem sempre é possível e na Escola é indesejável, porque ofende a boa ordem dos trabalhos e estende a distracção a todos os cães em classe, transformando a solução individual num problema colectivo.

Em vão, já houve quem recorresse a vários princípios em simultâneo, quem lhes adicionasse um cunho mais violento e quem enveredasse pelos meios da reeducação. A sujeição aos princípios é uma medida de recurso, um mal necessário para um problema instalado, algo que jamais aconteceria, se o momento social canino fosse respeitado e extensível a todos os cães.

Tal qual um proprietário de vários cães, assim deve funcionar o Adestrador, estabelecer o equilíbrio do grupo e fomentar a amizade entre os seus membros, quer advertindo os prevaricadores, quer incentivando os mais fracos, porque os mais velhos reconhecem a sua autoridade e os mais novos carecem de norteamento e liderança. A constituição familiar da matilha escolar é uma obrigação do Adestrador e não, uma opção binomal. Cabe-lhe instalar o princípio da autoridade e torná-la extensível a todos os condutores, para que possam liderar os seus cães naturalmente.

Os cães escolares não são diferentes dos demais, necessitam de crescer e brincar, de namorar e competir, de evoluir colectivamente através da experiência dos mais velhos, porque eles são agentes de ensino excelentes, monitorando pelo exemplo, aqueles que os desejam imitar. O escalonamento hierárquico é desejável e imperativo, indispensável ao bom andamento dos trabalhos escolares, quando efectuado de modo natural e isento dos exageros que levam ao domínio exacerbado ou à submissão exagerada. O cão necessita de estar em paz com o grupo, de “chorar” pela Escola, porque sente a sua falta.
Os 10 minutos de relax são a hora do recreio escolar, um recreio que antecede o treino e o torna apetecível, 10 minutos do domínio exclusivo do Adestrador e uma rara oportunidade de estudo e reflexão. Um momento onde se joga a futura sociabilização e se fundamenta o equilíbrio para qualquer função. Só o grupo pode libertar o cão da marginalidade e fá-lo pela aceitação. O benefício gregário escolar é uma solução artificial para vários problemas naturais, algo que dificilmente aconteceria, sem a intervenção, policiamento e direcção do Adestrador, enquanto chefe da matilha e seu líder supremo e absoluto.

De volta à Escola com a Primavera e muito trabalho

Finalmente voltámos à Escola, depois de tantas excursões ao exterior. No Sábado o tema da aula, tanto teórico como prático, foi o transporte canino. Estiveram presentes os seguintes binómios: Bruno/Pepe, Joana/Flikke, Jorge/Audaz, Maria/Nina, Octávio/Greg, Sofia/Bonna e Nobel, Susana/Pascoalito, Rita/Zara e Zé Gabriel/Master. Subordinados ao tema do dia, foram desenvolvidos exercícios práticos, onde o aproveitamento do Pepe foi extraordinário e o Master não defraudou. As cadelas Nina e Zara mostraram aptidões para a especialidade. As condutoras Alexandra Ferreira e Ana Cristina (Pescadinha) não se fizeram presentes, a primeira por estar doente e a segunda por motivos de formação. À Xana desejamos rápidas melhoras e à Pescadinha os melhores êxitos no mestrado.

Dedicámos o Domingo à prática da Endurance, à explicação pormenorizada de alguns obstáculos da pista táctica. Aproveitámos ainda a ocasião para ensinar novos obstáculos, alertando os condutores para a importância da técnica e para o particular de cada aparelho. Todos os binómios presentes alcançaram os objectivos e a Joana fez uma excelente aula. A condutora da Rosita “esqueceu-se” da Golden em casa e por lapso, fez-se acompanhar pelo seu CPA de dois meses de idade. Do mal o menos, acabou, como já vem sendo hábito, recrutada para fotógrafa de dia, função que desempenha com rara destreza e sentido prático. Estiveram presentes os binómios: Bruno/Pepe, Joana/Flikke, Jorge/Audaz, Paulo/Diva, Pescadinha/Teddy, Rita/Zara, Susana/Pascoalito e Xico/Pongo. Apesar de convidado, o Tiago do Rex não pode comparecer por razões de trabalho. Sentimos a ausência do Jürgen e alegrámo-nos com a visita do Sr. António Moura. Ao contrário de Sábado, o Domingo foi primaveril, ensolarado e próprio para a prática desportiva. Agradecemos ao Bruno os seus dotes de jardineiro, o cuidado que dedica à limpeza da pista. Lembramos que as aulas começam às 10 horas e 30 minutos.