Parece não haver dúvida: o mundo do
adestramento está cheio de preconceitos. Nos países meridionais da Europa, por
vezes mais preconceituosos que os demais, quiçá pela diferença social ser mais
gritante, os preconceitos esfumam-se agora diante da actual crise pelo espectro
da sobrevivência e ficam a aguardar por melhores dias. Antigamente ia-se até ao
Brasil e agora são muitos os brasileiros que nos visitam, ainda que alguns os
atendam com um nó na garganta. Tempos houve em que se consideravam os cães
pequenos como “EPês” (cães de encher o pé), canitos
sem interesse para os adestradores e por isso mesmo desprezados, entendidos
como chinchilas e muitas vezes identificados como “LCs”, sigla que o decoro não
nos permite desvendar. Com as contas feitas à vida, porque um cão de 35kg come
em média um saco de ração que custa entre 52 e 75€ (estamos a falar de rações
de qualidade), os cães de raça abaixo dos 15kg viraram moda, ainda que
obrigados a preço de saldo, caso contrário, os canis municipais têm demasiados
cãezinhos atractivos à espera de quem os queira resgatar, rafeiros muito engraçados
e por vezes mais bonitos e saudáveis do que os ditos de pura casta, fáceis de
“arrumar” em qualquer apartamento e pouco dispendiosos.
Como
consequência disso, as matilhas escolares tornaram-se mais heterogeneas e nunca
se viu tanto cão toy a deambular entre molossos de 40 e tantos quilos ou
bassetóides a alinhar por lupinos. A “era da pequenada”, depois de algum
desconforto inicial, tem-se revelado uma alegre surpresa, porque indo prá além
das expectativas, tem revelado uma aptidão e uma capacidade de adaptação nunca
vistas, concorrendo para isso o trabalho desenvolvido pelos pinschers, teckels,
dachshunds, cockers e tantos outros, para já não se falar dos seus híbridos ou
mestiços. Nas zonas interiores, onde ainda sobrevivem muitos podengos, e entre
eles alguns anões, o mesteño de
podengo tem vindo a engrossar significativamente as classes de adestramento,
comportando-se como um verdadeiro mustang. Contudo, na cabeça da lista dos “Top
10” encontra-se o pinscher, um pequeno valente muito disponível, que aprende
com facilidade e “vai a todas”, que nos lembra outro cão bem maior (somente na
morfologia e cor), que poucas ou nenhumas saudades nos deixou, porque quase
sempre gorou as nossas expectativas e por isso mesmo caiu em desuso
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