terça-feira, 24 de julho de 2012

O MENSAGEIRO NÃO SE ABATE


Existe um homem que sempre passa à mesma hora, chega sorrateiro à porta dos donos, toca num dos limites da propriedade e depressa desaparece. Nalguns casos vem de mota ou bicicleta, o que desagrada aos cães e denuncia a sua chegada. Esse sujeito é o carteiro e não raramente vira cobaia dos cães domésticos que erroneamente o identificam como intruso. O caso agrava-se quando o indivíduo tem medo ou pavor de cães, porque a adrenalina que liberta transforma-o automaticamente em presa, apesar de todos sabermos que não se abatem os mensageiros. A aversão à bicicleta do carteiro pode estender-se a todos os ciclistas, o que não é desejável e constitui um sério problema, especialmente quando os cães saem à rua e se deparam com esse meio de transporte, tão comum entre nós pelo proveito do exercício físico. Quando isto acontece, os donos vão de charola, aos trancos e barrancos e os cães tornam-se de difícil controle, acabando confinados em casa por tempo indeterminado, o que os tornará ainda mais anti-sociais. O ódio ao carteiro, por ausência de sociabilização, pode estender-se também aos cães da vizinhança que circulam junto à habitação de alguns guardiões, porque provocam e invariavelmente marcam território. Neste último caso, a sociabilização inter pares é a solução mais acertada, o que não deixa dúvidas a ninguém.
Para solucionar o problema relativo aos ciclistas, teremos de nos valer, em primeiro lugar, de um condutor canino mais experiente que instalará a inibição desejada, já que dificilmente o dono se fará respeitar. Em simultâneo, convidaremos um ciciclista para circular no sentido contrário ao do cão para garantir o cruzamento frontal entre ambos. O comando inibitório, para ser eficaz, deverá acontecer dois ou três metros antes do cruzamento acontecer. Depois do cão se encontrar familiarizado com a bicicleta, pediremos ao ciclista que o provoque. Caso se manifeste o desinteresse do cão, facto visível pela ausência de fixação do animal, é chegada a altura de transferirmos o comando para o dono. Convém que o percurso a estabelecer seja circular e de pequeno diâmetro para garantir o maior número de cruzamentos possível e melhor operar a fixação da inibição. Dependendo do histórico do cão, grau de instrução e perfil psicológico, poderemos e nalguns casos deveremos, promover imediatamente a amizade entre o ciclista e o animal, porque o melhor remédio para a cessação das hostilidades vem daí.
Como atrás disse, o dono só deverá pegar no cão depois do acerto inquestionável do cão, quando a inibição estiver instalada, for plenamente alcançada e os riscos de confrontação forem completamente nulos. Por norma, os cães que incorrem neste problema são animais que nunca tiverem qualquer tipo de ensino ou que foram vítimas de algum mal dirigido, apressado ou inadequado. O dono irá repetir todos os exercícios e situações anteriormente vencidas pelo cão. Se tudo correr segundo o esperado, então aconselharemos o dono à inscrição escolar e à recapitulação doméstica, se isso não se verificar retomaremos à primeira fase, valendo-nos, mais uma vez, do auxílio de um monitor ou de um condutor mais experiente. A celeridade do processo pedagógico irá depender da assiduidade, qualidade, atenção e rigor dos intervenientes humanos, assim como da duração do problema na vida do cão. De qualquer modo, a gravidade do sucedido sempre apontará para a ausência de uma liderança eficaz, normalmente associada a um exagerado proteccionismo e adornada por princípios antropomórficos advindos de sentimentos exacerbados ou descabidos.          

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