Todo e qualquer serviço a atribuir a
um cão deverá considerar, em primeiro lugar, a salvaguarda do animal e só depois
a sua utilização. E quando se trata de cães de guarda, será o respeito por esta
regra que determinará todo o condicionamento a haver, porque doutro modo, já se
sabe quem poderá morrer no cumprimento do dever. Os entusiastas dos cães de
guarda, dominados pelo dano que os seus cães possam causar, facilmente se
esquecem disso por força do show off
em que andam embrenhados, como se a eliminação dos cães não fosse possível, não
acontecesse todos os dias, um pouco por toda a parte e agora com maior
frequência. E se os cães destes brincalhões continuam vivos, tal não se deve ao
esmero do seu trabalho ou à excelência do seu desempenho, mas simplesmente ao
facto de não serem utilizados e à pouca cobiça que a riqueza dos seus donos
desperta. Pelo sim pelo não, a haver Deus no Céu, vida para além da morte e eu
lá chegar, já tenho preparado um caderninho de dúvidas para Lhe apresentar.
Entre elas há uma que não me deixa descansar: porque será que aqueles que menos
têm para guardar, são os que mais procuram cães de guarda? Se aceitamos sem
nenhuma dificuldade o poder dissuasor canino, também sabemos da
inoperacionalidade de um cão em matéria de segurança, quando isolado e entregue
a si próprio. Penso que ninguém tem dúvidas: é mais fácil dar caça a um cão do
que caçar um tigre. Não obstante, o famigerado felino encontra-se em vias de
extinção!
Ainda que nos pareça estranho e coisa
de tempos idos, tanto nos Montes Cárpatos como na Cordilheira do Cáucaso, ainda
hoje se caçam e domam ursos. Há meia dúzia de anos atrás conhecemos um emigrante
ucraniano, calmo, afável, bem disposto e de sorriso angelical, camionista entre
nós, que combateu no Afeganistão aquando da Invasão Soviética em 1979. O homem
havia pertencido a um corpo especial de tropas e em determinada altura abraçou
também como especialidade a cinotecnia militar. Quando o inquirimos sobre a
opção que tomou, respondeu-nos: “eu desde criança que ia caçar ursos com o meu
avô e nem sempre tínhamos espingarda, adestrar cães foi muito mais fácil,
sempre vivi rodeado deles e até tivémos um que, quando o soltávamos, nunca
regressava a casa sem ter morto algo!” E como a conversa lhe ia a gosto, lá foi
explicando como era importante conhecer os hábitos dos ursos, saber quais as
cavernas para onde iam hibernar e esperar pela hibernação. Hoje o “Alex”
diverte-se a ver os cães alheios que lhe passam pela frente e depois de algumas
cervejas para vencer a timidez, não se escusa a dar conselhos aos proprietários
caninos que com ele se cruzam. Fala bem português e por consenso é um excelente
rapaz. Também somos dessa opinião.
Não queremos com este relato exaltar
sentimentos xenófobos ou alimentar polémicas relativas à emigração ou imigração,
mas servir-nos das lições práticas que ele carrega, algo para além do “moral da
história”, porque isso lança-nos para o tema de hoje. Há duas coisas que são
fatais para o cão guardião: o estudo dos seus hábitos e o conhecimento das suas
acções (hábito e operação). E quando de trata de instalar um cão de guarda numa
casa, moradia ou quintal, considerando a sobrevivência do animal e a garantia
do serviço, importa decidir o que melhor serve esses propósitos, se instalar um
percurso rondante ou optar por um “ninho de vigilância”. Para encontrar o cão
certo, somos obrigados a considerar o ecossistema da propriedade, a policromia
das cores do local, o nº de metros quadrados a bater, os horários de
vigilância, o tipo ou tipos de piso que apresenta e a natureza das suas
delimitações, para que haja um casamento perfeito entre as características do
animal e o local onde irá ser instalado. Mas tudo isto poderá ser
desconsiderado se os hábitos e acções do cão forem por demais visíveis do
exterior, já que são considerações relativas ao exercício de rondar, que se
deseja silencioso e operado debaixo de surpresa. Nos casos em que o animal se
apresenta por demais exposto e sujeito a observação detalhada, “o ninho de
observação” apresenta-se como a melhor opção, o mesmo sucedendo quando a
propriedade tem um perímetro diminuto ou uma área descoberta de pouco significado.
O “ninho
de observação”, que pode constituir-se em canil, desde que dissimulado na
arquitectura da propriedade, camuflado nos seus acidentes naturais ou
incrustado na sua decoração, é um local de vigia privilegiado para o cão, onde
se transforma em sentinela e vive em constante observação, sem ser observado e
pronto a escorraçar qualquer tentativa de intrusão. Na escolha do local, para
além da ocultação do animal, há que considerar o seu bem-estar e saúde, para
que seja da sua preferência e ali se sinta comodamente instalado, fiado na
rectaguarda e com os olhos postos no exterior. Donos mais desafogados do ponto
de vista económico, por natureza engenhosos e ligados ao pormenor, mediante a
construção de um pequeno túnel de ligação, que não pode ser muito comprido
devido à urgência do socorro, juntam o útil ao agradável e conseguem garantir a
segurança, em simultâneo, tanto o interior quanto o exterior da casa, ligando
assim o “ninho” a uma ou mais salas da sua habitação. Deseja-se que a porta de
entrada do cão se encontre embutida num armário de parede e que se abra
inesperadamente perante a aproximação do animal, que despoleta para acção
mediante dispositivo electrónico amovível e não audível, tal qual um comando de
portão, garagem ou televisão. Esta é uma acção extremamente eficaz, fácil de
treinar e de resultados comprovados, porque resulta de uma manobra de surpresa
e o cão parte em vantagem, graças ao treino realizado e às capturas alcançadas,
factores que o robustecerão e o farão partir na certeza da vitória. Com o
“ninho embutido”, o cão passa a surpreender ao invés de ser surpreendido e só
deste modo poderá fazer lograr os planos dum inteligente num combate que
normalmente lhe é desfavorável. O treino desta manobra deverá acontecer na
ausência dos criados, longe das crianças e segundo um cronograma previamente
estabelecido. O comando de abertura deverá ter um duplicado por causa do seu
possível extravio e ser colocado num local anteriormente determinado. O
dispositivo que abre a porta do cão não deverá depender da corrente eléctrica
da casa, porque quando falta a luz, muita coisa pode acontecer e os ladrões
agradam-se disso.
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