quinta-feira, 19 de julho de 2012

NINHO OU RONDA: SALVAGUARDAR O CÃO PARA GARANTIR O SERVIÇO


Todo e qualquer serviço a atribuir a um cão deverá considerar, em primeiro lugar, a salvaguarda do animal e só depois a sua utilização. E quando se trata de cães de guarda, será o respeito por esta regra que determinará todo o condicionamento a haver, porque doutro modo, já se sabe quem poderá morrer no cumprimento do dever. Os entusiastas dos cães de guarda, dominados pelo dano que os seus cães possam causar, facilmente se esquecem disso por força do show off em que andam embrenhados, como se a eliminação dos cães não fosse possível, não acontecesse todos os dias, um pouco por toda a parte e agora com maior frequência. E se os cães destes brincalhões continuam vivos, tal não se deve ao esmero do seu trabalho ou à excelência do seu desempenho, mas simplesmente ao facto de não serem utilizados e à pouca cobiça que a riqueza dos seus donos desperta. Pelo sim pelo não, a haver Deus no Céu, vida para além da morte e eu lá chegar, já tenho preparado um caderninho de dúvidas para Lhe apresentar. Entre elas há uma que não me deixa descansar: porque será que aqueles que menos têm para guardar, são os que mais procuram cães de guarda? Se aceitamos sem nenhuma dificuldade o poder dissuasor canino, também sabemos da inoperacionalidade de um cão em matéria de segurança, quando isolado e entregue a si próprio. Penso que ninguém tem dúvidas: é mais fácil dar caça a um cão do que caçar um tigre. Não obstante, o famigerado felino encontra-se em vias de extinção!
Ainda que nos pareça estranho e coisa de tempos idos, tanto nos Montes Cárpatos como na Cordilheira do Cáucaso, ainda hoje se caçam e domam ursos. Há meia dúzia de anos atrás conhecemos um emigrante ucraniano, calmo, afável, bem disposto e de sorriso angelical, camionista entre nós, que combateu no Afeganistão aquando da Invasão Soviética em 1979. O homem havia pertencido a um corpo especial de tropas e em determinada altura abraçou também como especialidade a cinotecnia militar. Quando o inquirimos sobre a opção que tomou, respondeu-nos: “eu desde criança que ia caçar ursos com o meu avô e nem sempre tínhamos espingarda, adestrar cães foi muito mais fácil, sempre vivi rodeado deles e até tivémos um que, quando o soltávamos, nunca regressava a casa sem ter morto algo!” E como a conversa lhe ia a gosto, lá foi explicando como era importante conhecer os hábitos dos ursos, saber quais as cavernas para onde iam hibernar e esperar pela hibernação. Hoje o “Alex” diverte-se a ver os cães alheios que lhe passam pela frente e depois de algumas cervejas para vencer a timidez, não se escusa a dar conselhos aos proprietários caninos que com ele se cruzam. Fala bem português e por consenso é um excelente rapaz. Também somos dessa opinião.
Não queremos com este relato exaltar sentimentos xenófobos ou alimentar polémicas relativas à emigração ou imigração, mas servir-nos das lições práticas que ele carrega, algo para além do “moral da história”, porque isso lança-nos para o tema de hoje. Há duas coisas que são fatais para o cão guardião: o estudo dos seus hábitos e o conhecimento das suas acções (hábito e operação). E quando de trata de instalar um cão de guarda numa casa, moradia ou quintal, considerando a sobrevivência do animal e a garantia do serviço, importa decidir o que melhor serve esses propósitos, se instalar um percurso rondante ou optar por um “ninho de vigilância”. Para encontrar o cão certo, somos obrigados a considerar o ecossistema da propriedade, a policromia das cores do local, o nº de metros quadrados a bater, os horários de vigilância, o tipo ou tipos de piso que apresenta e a natureza das suas delimitações, para que haja um casamento perfeito entre as características do animal e o local onde irá ser instalado. Mas tudo isto poderá ser desconsiderado se os hábitos e acções do cão forem por demais visíveis do exterior, já que são considerações relativas ao exercício de rondar, que se deseja silencioso e operado debaixo de surpresa. Nos casos em que o animal se apresenta por demais exposto e sujeito a observação detalhada, “o ninho de observação” apresenta-se como a melhor opção, o mesmo sucedendo quando a propriedade tem um perímetro diminuto ou uma área descoberta de pouco significado.
O “ninho de observação”, que pode constituir-se em canil, desde que dissimulado na arquitectura da propriedade, camuflado nos seus acidentes naturais ou incrustado na sua decoração, é um local de vigia privilegiado para o cão, onde se transforma em sentinela e vive em constante observação, sem ser observado e pronto a escorraçar qualquer tentativa de intrusão. Na escolha do local, para além da ocultação do animal, há que considerar o seu bem-estar e saúde, para que seja da sua preferência e ali se sinta comodamente instalado, fiado na rectaguarda e com os olhos postos no exterior. Donos mais desafogados do ponto de vista económico, por natureza engenhosos e ligados ao pormenor, mediante a construção de um pequeno túnel de ligação, que não pode ser muito comprido devido à urgência do socorro, juntam o útil ao agradável e conseguem garantir a segurança, em simultâneo, tanto o interior quanto o exterior da casa, ligando assim o “ninho” a uma ou mais salas da sua habitação. Deseja-se que a porta de entrada do cão se encontre embutida num armário de parede e que se abra inesperadamente perante a aproximação do animal, que despoleta para acção mediante dispositivo electrónico amovível e não audível, tal qual um comando de portão, garagem ou televisão. Esta é uma acção extremamente eficaz, fácil de treinar e de resultados comprovados, porque resulta de uma manobra de surpresa e o cão parte em vantagem, graças ao treino realizado e às capturas alcançadas, factores que o robustecerão e o farão partir na certeza da vitória. Com o “ninho embutido”, o cão passa a surpreender ao invés de ser surpreendido e só deste modo poderá fazer lograr os planos dum inteligente num combate que normalmente lhe é desfavorável. O treino desta manobra deverá acontecer na ausência dos criados, longe das crianças e segundo um cronograma previamente estabelecido. O comando de abertura deverá ter um duplicado por causa do seu possível extravio e ser colocado num local anteriormente determinado. O dispositivo que abre a porta do cão não deverá depender da corrente eléctrica da casa, porque quando falta a luz, muita coisa pode acontecer e os ladrões agradam-se disso. 

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