domingo, 14 de novembro de 2010
A trela é uma arma
O cão ioiô
O cão que corre sem lebre à frente
O que é um bom aluno da escola?
Novo binómio
Caderno de ensino: XXXVII. O ladra
Condicionar um cão a ladrar é tão-somente aproveitar uma das suas vozes naturais, muito embora existam raças que ladrem mais do que outras. Podemos fazê-lo por aproveitamento, instigação ou persuasão de acordo com as características individuais de cada cão. O que se procura é o ladrar ordenado e não o instintivo, considerando a sobrevivência dos cães, o uso a dar-lhes e a salvaguarda binomial. Convém que o comando transite para a linguagem gestual e seja accionado por ela, o que impedirá a denúncia do binómio e possibilitará o uso do cão à distância. O ladrar é naturalmente uma voz de aviso que antecede o rosnar, que tanto o pode substituir como eliminar. Ensinar os cães mais submissos a ladrar é um requisito indispensável e um subsídio para a vida, considerando a sua ajuda ou socorro, porque o ladrar soa mais alto que o vulgar gemido. E neste sentido, fomentar o ladrar irá implicar num melhor equilíbrio dos indivíduos. Por outro lado e servindo o mesmo propósito, também os donos dos cães agressivos saiem a ganhar, porque vêem aumentado o seu controlo sobre eles, evitando assim a transição automática do rosnar para o ataque. Para além do aviso, o ladrar pode ser usado como intimidação tanto dentro do lar quanto nas saídas ao exterior. Diante das actuais especificações caninas o ladrar tem vindo a ser usado como sinal de identificação ou detecção.Mais do mesmo e menos do mais
sábado, 6 de novembro de 2010
E já agora, porque não construir o 1º lupino português?
Agora que a hibridação parece ter vindo para ficar, muito se tem falado sobre uma nova tendência, a do cruzamento do Pastor Alemão com o Malinois, bastardia que muitos julgam excelente e outros miraculosa, a despeito das raças e em prol de pretensos benefícios, como se o alemão precisasse de maior inquietude e o belga de mais juízo, o primeiro de maior instinto e o segundo de melhor personalidade. Ainda não sabemos se a ideia terá muitos adeptos ou se fica pelo desejo, porque o mundo é feito de mudança e altera-se a olhos vistos. A incontestada supremacia laboral dos lupinos dentro da canicultura levou muitos países à formação de um cão nacional com essas características. Assim nasceram os Pastores Holandeses, o Lobo Checo, o Lobo Italiano, O Pastor de Shiloh, entre tantos outros. Agora que em Portugal a investigação científica começa a dar mostras da sua credibilidade, havendo por cá excelentes genetistas ou geneticistas, etólogos desempregados e treinadores credíveis, porque não construir o 1º lupino português? A raça nacional mais próxima deste grupo somático é o Cão de Castro Laboreiro, um lupóide amastinado, mais mastim e menos lupóide à medida que o tempo passa. No passado recente alguém tentou fazê-lo, lançando mão do Pastor Alemão e do Podengo Gigante, o projecto não passou da fase embrionária, foi inconclusivo e bem depressa foi abandonado, porque foi feito às expensas de um canil e sem qualquer subsídio. Sabemos como fazer e temos gente para isso, não nos falta mercado interno e podemos chegar à exportação, O que será melhor para todos: andar constantemente a comprar ou ter algo valioso para vender? Este é um desafio para os novos canicultores, a canicultura nacional agradece e o País só tem a ganhar com isso. Continuaremos eternamente a andar com cães alheios?A queda da liderança e a ascensão do condicionamento
Desde o último quarto do Sec. XX até aos nossos dias a canicultura e a cinotecnia sofreram profundas alterações tanto nos pressupostos selectivos quanto nos métodos de treino, mudanças que resultaram do avanço científico, do questionamento social, de uma menor exigência, de uma maior sensibilidade e também da banalização dos cães. O passar dos anos levou à inevitável troca de gerações e nalguns casos ao rompimento entre a ancestral cinecultura e a actual, criando vazios pela reinvenção e atrasos pela ignorância, tendência comum entre nós na procura do último grito, num calcorrear de atalhos que nos leva à cópia, não fossemos um estado periférico, desnorteado e dependente de outros. A maior benfeitoria que os novos adestradores nos legaram, no meio de tantas outras, foi o condicionamento alegre e descontraído, um conjunto de regras que tenta substituir a indispensável liderança humana, tornando o uso dos cães ao alcance de todos, bem hajam!
Porém, como não há bela sem senão, a mecanicidade afectiva acabou por encobrir cães impróprios e desprezar outros de excelente qualidade, porque são mais difíceis, um pouco menos eufóricos e por vezes demasiado sérios, criando graves problemas ao facilitismo que por aqui faz escola. Por todo o lado e por onde menos se espera, existem cães à espera que os vão buscar, esquecidos em canis onde poucos ousam entrar, como se fossem feras ou monstros apocalípticos, papões de quatro patas ou habitantes do quinto dos infernos. Grande número dos actuais condutores cinotécnicos (podíamos usar outra designação), à imitação dos automobilistas, opta pelo “test drive” e procura um cão à medida das suas conveniências. Longe vão os tempos em que a escolha não era possível e o domínio do inteligente se sobrepunha às arremetidas do irracional. Hoje a palavra de ordem é incompatibilidade e partir dela se esconde o comodismo. Temos como experiência que os cães mais difíceis são invariavelmente os melhores, os menos sujeitos a subornos, os que mais se empenham e os que maior aptidão manifestam, companheiros em quem vale a pena apostar. Falta trabalho, porque os cães depois de atrelados rapidamente se submetem.A recuperação dos medrosos
Estes cães têm um comportamento marginal e irão obrigar a uma terapia própria e a medidas excepcionais, porque desde cedo se isolam e sujeitam-se às investidas dos seus pares. A sua extrema dependência quando associada a uma inusitada carga instintiva levá-los-á a alimentar-se debaixo de suspeita, a carreiras evasivas, à troca da defesa pelo esconderijo, ao evitar de confrontos, ao temor face à autoridade e à resistência diante da novidade. O problema é anterior à transição do canis lupus para o lupus familiaris e ao eugenismo operado pelo homem, muito embora o último tenha contribuído para a sua proliferação, porque doutro modo dificilmente estes animais sobreviveriam nas alcateias, particularmente durante estações ou ecossistemas parcos em alimentos. Apesar de definhar dentro de uma matilha, o cão medroso sentir-se-á ali mais protegido do que perante a irrecusável constituição binomial, mercê do seu particular biológico, das suas características inatas e histórico social, condições que irão dificultar excessivamente a sua futura integração.
Apesar de subsistirem casos ligados à sagacidade de quem os vende e à ignorância de quem os adquire, a maioria dos cães medrosos chegará às nossas casas por comiseração, sentimento que mais tarde poderá transformar-se numa temível decepção e perpetuar pródigos desalentos na pessoa dos seus benfeitores, porque contrariamente ao amor, as paixões são volúveis e o desânimo enfraquece. A recuperação de um cão com estas características aponta para um processo inequívoco de reeducação, só possível pela dependência canina e pela alteração do seu viver social, esforço conjunto direccionado ao despoletar condicionado dos seus impulsos herdados indispensáveis e que induzirá a um renascimento por parto ambiental. Ainda que o sucesso seja possível, sempre será mais fácil regrar um valente do que suscitar valentia a um medricas. A haver alteração, ela resultará em primeira instância do super empenho do agregado humano, esperançado e apostado na sua recuperação. Dono e demais família do lar adoptivo, adestradores, condutores e cães escolares, todos estarão implicados neste projecto colectivo que visa esta emancipação individual, enquanto arautos da esperança e artífices da mudança.
A doação do cachorro problemático deverá considerar a sua recuperação e bem-estar, atentar para o perfil psicológico do obsequiado (que deverá ser experiente, disponível, empenhado, tolerante e compassivo), para as condições que oferece e para a existência ou não doutros cães de que poderá ser proprietário. Como o problema tem reflexos sociais e apostamos na transcendência operativa ambiental, não descuidando o possível contributo positivo de outros cães (biológico), é desejável que o cachorro venha a conviver um cão adulto do sexo oposto, equilibrado e razoavelmente controlado, porque a recuperação de um cachorro macho acontece naturalmente pela generosidade de uma cadela adulta e uma fêmea jovem sentir-se-á segura junto de um macho decidido, imitando-o e seguindo-o por toda a parte (vai com as costas quentes). O convívio entre cadelas deverá ser evitado, particularmente após a maturidade sexual, momento em que a mais velha procurará o agrado da liderança e escorraçará a mais nova da sua presença, fortalecendo-se de sobremaneira e enfraquecendo a outra sobejamente mais carenciada de ajuda. Do mesmo modo, a amizade entre um cachorro medroso e um cão adulto será comprometida durante o cio duma cadela residente, quando o instinto sexual despoletar sem rodeios o impulso ao poder do mais velho. A coabitação do cachorro problemático com cães castrados, considerando a sua recuperação, tanto poderá ser benéfica como catastrófica, ficando isso a dever-se ao carácter desses eunucos, à ocasião da mutilação e aos seus reflexos (taras e singularidades).
Assim, coabitação no lar adoptivo com outro cão garante a celeridade do processo reeducador, particularmente no convívio canino sem o espectro da exiguidade territorial e na permanência do espaço que lhes é comum. Este entendimento biológico, quando reforçado pela cumplicidade entre o líder e cão adulto, suscitará do cachorro a competitividade que gera a brincadeira, levá-lo-á a aceitar a hierarquia de modo natural e a assimilar a liderança como uma experiência feliz., porque só o equilíbrio doméstico poderá garantir as saídas ao exterior sem maiores atropelos. Os membros do agregado familiar, enquanto elementos neutros, deverão coibir-se de dar ordens ao cachorro ou proceder-lhe a reparos, forçar a sua presença ou contribuir para o seu afastamento, o que implicaria numa despromoção social facilmente absorvida pelo infante e que comprometeria a sua desejável ascensão. A brincadeira e a distribuição de brinquedos propicia a obtenção dum espólio próprio e as crianças responsáveis podem contribuir para a eliminação do espectro da autoridade, graças à parceria, à relação de proximidade, particularidade vocal e de interesses, à menor rigidez de postura e ao reduzido volume da sua silhueta, subsídios pedagógicos de valor inestimável para a recuperação do cachorro. A constituição binomial resultará das brincadeiras divididas com o cão adulto, da contribuição do agregado familiar e da propriedade da liderança, legitimada pelo exemplo e fundamentada na cumplicidade.
Se houver necessidade de atrasar o treino escolar, coisa difícil de acontecer diante do cenário acima descrito, espera-se o tempo necessário e o surgimento da autonomia que o suporta, porque o tempo não é um obstáculo mas um amigo que corre em nosso auxílio. No treino e porque queremos aproveitar a plasticidade física e cognitiva presente nos cachorros entre os 4 e os 6 meses de idade, abraçaremos a mobilidade em desfavor do travamento, os subsídios direccionais em prejuízo dos de imobilização, insistiremos na ginástica e no “junto”, porque sabemos que o desenvolvimento físico providencia o aumento cognitivo e que a experiência variada e rica opera por equilíbrio o seu desenvolvimento. A troca gradual de condutores, as distintas manobras de sociabilização, a disciplina das classes e o exemplo dos cães mais velhos tornarão viável a recuperação quase absoluta do cachorro, sintonizando-se com a sua espécie e preparando-o para a vida entre os homens, solicitando-lhe serviços que naturalmente e por si mesmo jamais alcançaria. Nisto reside a força do amor, dínamo do adestramento, força que massifica e quantifica os sentimentos nesta exigente arte de ensinar cães.
Poderá um cachorro medroso transformar-se num autêntico cão guardião? Sim e não, se entendermos a disciplina de guarda sem subtilezas e como modo de confrontação. Sim - se os simulacros produzirem alteração, preparação e capacitação; não - diante da novidade, da surpresa e na ausência de reciclagem, porque o condicionamento não ultrapassa a experiência animal e não consegue esconder os seus entraves individuais, apesar de muitos cães com estas características poderem vir a alcançar excelentes resultados em provas, por força da ficção que se transforma em realidade. O cão genuinamente guardião nasce assim e o devidamente estimulado adquire um comportamento quase idêntico, facto que toda a gente reconhece e que recentemente vimos denunciado, mais uma vez, no opúsculo “The Downfall of the German Shepherd” da autoria de Koos Hassing, cinotécnico holandês de reconhecidos méritos desportivos, um contestador de fórmulas sem questionar a sua essência ou denunciar a sua filosofia. Aqui como noutras disciplinas e para além das características individuais de cada cão, só a experiência sustenta a soberania do condicionamento.
Para transformar um medroso num guardião é necessário revitalizar-lhe os impulsos herdados inerentes a essa prestação, activando cada um deles pelo reforço positivo e dando tempo ao progresso. A primeira meta a atingir será a do bem-estar entre iguais, depois seguir-se-á a aceitação da liderança, logo a seguir a sociabilização e finalmente as induções. Provavelmente teremos de alterar as dietas, insistir na ginástica e não desprezar a recompensa. As induções começarão por ser domésticas, evoluirão para a Escola, acontecerão noutros terrenos e revitalizar-se-ão de novo em casa, considerando a fragilidade do seu particular gregário e a resistência que oferece perante a novidade de territórios e circunstâncias. As induções recairão inicialmente sobre o objecto e nunca sobre a pessoa do agressor, por convite e não por desafio, devendo ser projectadas debaixo do mesmo estímulo e acontecer sob condições óptimas, aquelas que o cão conhece e que lhe darão a certeza da vitória. Para que o cão vá adiante é necessário que perca o medo das pessoas, que as considere ao seu alcance e sujeitas ao seu domínio, benefício que geralmente alcançamos pelo exercício do APC e pelo convite à transposição de obstáculos humanos, debaixo de subsídios direccionais amplamente repetidos até se constituírem em rotinas, porque a familiarização é um trunfo que não podemos dispensar. Os indivíduos convidados para este trabalho não deverão temer por si , tudo fazendo para que a normalidade se mantenha e o imprevisto não gere confusão ou provoque retrocesso.Sol na eira e chuva no nabal
Usámos este fim-de-semana para a aplicação prática dos conteúdos constantes no Caderno de Ensino. A chuva assustou alguns alunos e deixou outros sem telefone, incomunicáveis e sem hipótese de receberem ou devolver chamadas. A instrução decorreu em 3 locais diferentes e a chuva poupou-nos. Participaram nos trabalhos os seguintes binómios: Bruno/Iris, Célia/Igor, Francisco/Iris, Francisco/Nick, João/Flikke, João Moura/Bonnie, Joaquim/Maggie, Luis Leal/ Rocky & Teka I, Megan/Champ, Miriam/Índigo, Nuno SP/Nicky, PSPedro/Tag, Rodrigo/Tarkan, Tatiana/Teka, Tiago/Sane, Teresa/Buster e Vitor Hugo/Yoshi. Colaboram nos trabalhos os seguintes NE’s: Fátima Figueiredo, Pedro Figueiredo e Rui Coito.
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