segunda-feira, 11 de maio de 2009

::: Escalonamento da matilha escolar na Acendura Brava :::

A classe escolar é uma matilha espontânea, constituída por cães de várias raças e alguns sem raça definida, a não ser que seja uma escola que se dedique, exclusivamente, ao adestramento de uma raça em particular ou a um grupo somático específico. Tomando como exemplo o primeiro caso, onde a heterogenia dos animais é por demais evidente, que cães colocar na frente e como escalonar os restantes? Que critérios seguiremos, para os distribuir no círculo de 36 mts? Certamente a nossa opção não será arbitrária!Aqui, na Acendura Brava, sempre colocamos os Cães de Pastor Alemão na vanguarda do círculo, o que para alguns pode ser motivo de escândalo e para outros objecto de troça, contudo, a nossa opção encontra-se cativa a cinco razões e nenhuma delas, assenta sobre qualquer preferência injustificada. Mais alto que a afeição de quem dirige, se ergue a necessidade pedagógica para o rendimento colectivo. Passemos de imediato às explicações.

A nossa primeira razão tem a ver com o andamento tipo destes cães : a marcha, andamento musculador por excelência que oferece resistência e opera a melhoria dos ritmos vitais. Como os pastores alemães são trotadores natos, deslocando-se preferencial e ordinariamente em marcha, cabe-lhes a eles a líderança da classe escolar. É evidente que existem outras raças trotadoras, no entanto, entregar-lhes a liderança, seria mais complicado e menos seguro (huskies por exemplo). Não colocamos um molosso porque o seu andamento é mais baixo e necessita de condicionamento prévio para a instalação da marcha; não convidamos um bracóide por causa do “passo de andadura”; isentamos o vulpino por causa da irregularidade de andamento; dispensamos os lebróides e os bassetóides, por lhes ser contranatural, esse tipo de andamento. Em síntese, a nossa primeira razão, é operacional e assenta sobre um requisito físico.

A segunda razão é histórica, já que o pastor alemão é o primeiro cão de guerra convencional dos tempos modernos, sucedendo aos molossos e alanos da antiguidade que o antecederam. Durante a 1ª e 2ª Guerras Mundiais, muitas raças caninas foram incorporadas nos diferentes exércitos e a sua prestação objecto de avaliação. Seria bom consultar alguns livros sobre esta temática, compreender porque razões foi o Pastor Alemão considerado o mais apto, apesar das críticas iniciais dos franceses e do desastre que foi, entre outros, a opção pelo Maremuzzo. O Dálmata foi o primeiro cão militar dos tempos modernos, foi usado no conflito dos Balcãs, contudo era apenas requisitado como correio, entre a frente de batalha e o quartel general. Os russos, usaram toda a casta de cães, na 2ª Guerra Mundial, tornando-os carregadores de explosivos e suicidas, ( condicionaram os animais a comer debaixo dos tanques, com o fim de operar a destruição das divisões Panzer), facto que contribuiu para o desaparecimento do cão guerra. Os americanos também requisitaram cães de várias raças nesses conflitos, com fins ou objectivos diferentes. Os Rottweilers também foram usados pelo 3º Reich, especialmente os recrutados em Munique, sendo usados, maioritariamente, como guardas de instalações, paióis e prisões (carcereiros). Com a alteração do modo de fazer a guerra e o abandono do cão para esse fim, o Pastor Alemão “transformou-se” em cão polícia, designação que o acompanha até aos nossos dias. A excelência operacional dos CPA, tem levado alguns criadores à criação de raças congéneres, tal é o caso dos pastores holandeses e mais recentemente, o lobo italiano (cruzamento entre o lobo da Sardenha e o CPA). Estas novas raças, excessivamente lupinas e quiçá por causa disso, têm evidenciado alguns fenómenos a que a desconfiança e o medo não são alheios. Os Pastores Belgas Malinois têm grande percentagem de sangue CPA. A terceira razão provem da tradição, devido à sua estrutura morfológica e serviço, o CPA sempre é do 1º grupo de julgamento e não raramente, é o cão introdutório das comuns enciclopédias caninas. Quando assim não acontece, isso deve-se à proto-história canina e aos ancestrais molossos mesopotâmicos. A razão tradicional, para além de ser respeitada no país de origem, é também observada além das suas fronteiras. Por vezes, por factores ligados ao nacionalismo, o CPA é arrancado do seu lugar e ocupa-o um cão de raça autóctone.

O sentimento territorial do CPA é a nossa quarta razão, até há por aí quem diga ser ele estupidamente obediente, coisa que se compreende pelo excelente apego ao dono, factor que contribui favoravelmente para a edificação futura dos binómios. Como seguimos o método de Trumler e aceitamos os cachorros na idade da cópia (4 meses), importa que vá na frente o exemplo a seguir, objectivo difícil de alcançar por outros cães de grupos somáticos diferentes, por razões físicas ou relacionadas com a sua índole.

A necessidade do robustecimento funcional é a quinta razão da nossa opção, especialmente entre as raças menos propensas ao exercício físico e cuja velocidade funcional é inadequada, ( + de 10 segundos aos 100 mts.). Como o melhor exemplo para um cão é outro cão, isto se buscamos respostas tangíveis às naturais e porque os cães são competitivos entre si, os molossos que treinamos, acabam por evidenciar qualidades atípicas ou mais-valias, que há partida, seriam impensáveis ou inacessíveis a cães dessa natureza. Por esta razão, os nossos Rottweilers; Serras; Terras Nova e tantos outros, acabam por evidenciar qualidades muito para além das descritas no seu estalão. É comum vê-los a subir escadas de 5,40 mts. ou a atingir velocidades de 5mts/s. Aqui, a incompatibilidade somática que gera a rivalidade entre as raças não é alheia aos benefícios do trabalho alcançado. É importante não esquecer que o líder e o mestre devem ir na frente e isso é tarefa que o Pastor, desempenha cabalmente.
As razões que assistem à nossa opção são claras, se outros querem inverter a história, a tradição ou denegrir a imagem do CPA, assim como as suas qualidades, saibam que vão em rumo próprio e que no passado outros o fizeram em vão, especialmente os criadores de outras raças, autores de tantas lendas e mitos, cujos cães se quedaram por aí. Desde criança que oiço, ser o Dobermann o cão do Hitler, que eu saiba, o nefasto Adolfo, era proprietário de uma cadela CPA de nome “Blondie”, ao que parece, envenenada propositalmente, na tragédia acontecida no bunker de Berlim. É natural que no futuro, a liderança da classe escolar, seja entregue a outra raça canina, especialmente se os objectivos, forem diversos dos actuais. Como na nossa escola trabalhamos as nove variedades cromáticas do CPA, (preto-afogueado dominante e recessivo; lobeiro dominante e recessivo; branco europeu e americano; cinzento, negro e de manto vermelho), para já não falar nos exemplares de pêlo comprido, como procedemos ao seu escalonamento? Porque nos encontramos sujeitos a um clima temperado marítimo e os verões são quentes; também porque os primeiros reprodutores recomendados da raça foram pretos, formamos da variedade mais escura para a mais clara, respectivamente: preto; preto-afogueado recessivo; preto-afogueado dominante; lobeiro recessivo; lobeiro dominante, cinzento, manto vermelho e branco. Primeiro formam os machos e depois as fêmeas; primeiro os adultos e depois os cachorros. Porque não damos a liderança a uma cadela? Porque é difícil encontrar uma matilha liderada por uma matriarca! Porque formam primeiro os cães adultos? Para que sirvam de exemplo aos cachorros! Este escalonamento sexual e etário é usado também para as restantes raças, que ordinariamente sucedem aos CPA. Quando é que um CPA não é o líder da matilha escolar, (fila-guia)? Nas exposições, exibições e outros certames do mesmo cariz, quando não existirem binómios CPA “A” e exista um binómio “A” , com um cão de outra raça. Porque se exige no exterior, que o fila-guia seja um binómio da classe “A”? Porque ele é o porta-bandeira escolar e o garante do alinhamento requerido. Na escola, quando é que um CPA pode ceder a sua liderança? Quando for necessário ou manifesta a sua incapacidade. Existem mestiços de CPA muito idênticos aos puros, como os escalonamos? Se a proximidade morfológica for por demais evidente, formam junto com os CPA de acordo com os princípios sexual e etário; se morfologicamente não se encaixam, serão remetidos para o final da classe. O escalonamento na Acendura Brava encontra-se assim distribuído: CPA ; Pastores Belgas; Vulpinos; Dobermanns; Rottweilers; Boxers; Bracóides; Molossos; lebróides e Indefinidos. Os bassetóides e os Toys formam classes distintas e não constituem grupo de trabalho com os restantes. O escalonamento das diferentes raças, dentro do mesmo grupo somático, acontece segundo a antiguidade de registo na FCI.

Sem comentários:

Enviar um comentário