Apesar da amizade dos cães não ser desinteressada, a tanto lhes impele o instinto de sobrevivência, eles são extremamente gratos e não se esquecem daqueles que os trataram bem. Pela mesma razão e de igual modo, dificilmente esquecerão aqueles que os ignoraram ou maltrataram, podendo inclusive, um dia mais tarde, tomá-los de ponta e procurar um ajuste de contas, porque vivem em constante aprendizado e tomam a experiência como lições de vida. A ausência da perspectiva de futuro reforça a importância do passado e cada cão encontra-se cativo as marcas do seu trajecto, quer ele tenha sido isolado ou acontecido na companhia de outros cães. Isto relega-nos para a importância do imprinting, período que decorre entre o nascimento e os 50 dias de vida de um cachorro, altura em que grava a primeira experiência de sociabilização com os humanos através da pessoa do seu criador, personagem que esquecerá ou não, dependendo isso dos cuidados que ele lhe dispensou nessa ocasião. A experiência feliz, mercê da gratidão e para além doutras implicações, levará o cão a reconhecer o seu criador e a nunca se esquecer dele, por mais árduo que tenha sido o seu treino ou a delonga na sua separação. Inversamente, os criadores menos zelosos e pouco implicados, cedo serão esquecidos, poderão vir a ser encarados como desconhecidos e merecer dos cães alguma suspeita, particularmente quando o compromisso dos novos proprietários for substancialmente mais rico e afectuoso em relação ao havido com a ninhada.
Por outro lado, a aquisição de um cachorro depois dos 6 meses de idade, poderá apresentar algumas dificuldades acrescidas na aceitação do novo dono, por causa das regras e do tipo de hierarquia assimilados até então, enquanto bases do seu viver social que naturalmente resistirá à mudança. É evidente que tudo irá depender da experiência directa do cão, do tipo de adopção a haver, da qualidade da adaptação e da excelência do novo proprietário, mais apostado no bem-estar do animal do que na recolha de benefícios pessoais, atitude indubitável de reforço positivo.
A libertação do jugo que naturalmente culmina com o abandono de alguns cães, tornados assim vadios e ávidos de protecção, torná-los-á gratos em qualquer idade, aceitando de “braços abertos” a adopção e a pessoa que a assume, porque a transição para melhor acontece naturalmente e o inverso só é possível pelo uso da força. O primeiro processo induz à felicidade e à gratidão, o segundo à infelicidade e ao medo. Só a gratidão de um cão poderá operar o seu total aproveitamento e uso, possibilitar-lhe a adopção de respostas artificiais e provocar-lhe uma parceria autêntica e incondicional. Assim é com os cães, assim é com os homens também!
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