Certa vez ouvi de um professor o seguinte comentário: “ a ausência da prática do bem, só por si, já é maldade que baste, mesmo que não haja manifesta intenção de fazer mal “. O comentário transformou-se em lição de vida e sempre me tem acompanhado, obrigando-me à constante reflexão sobre os meus actos, o que não é cómodo e sempre me causa algum embaraço.
Quando sou obrigado a pesquisar, comparando os manuais cinotécnicos mais antigos com os recentes, delicio-me com a evolução dos conceitos, cativos à contribuição da etologia e mais próximos do bem-estar canino. Contudo, quando medito friamente sobre o assunto, a tristeza invade-me, porque toda a cinotecnia visa a exploração canina, ainda que o faça por meios menos coercivos ou persuasivos, porque será sempre o homem a legitimar o uso e nunca o parecer animal. Assim, o contributo da erudição é usado para a eficácia do domínio, na procura de melhores meios para o alcance do mesmo fim.
A alteração de métodos não encobre o especicismo, não procura a sua abolição e dá azo a novos usos. Se subtrairmos a sobrevivência animal do adestramento, o resultado denunciará os nossos propósitos e revelará o nosso endeusamento. E neste sentido, o fim terapêutico canino não é excepção, porque é um remédio ao alcance de qualquer um. Pergunto-me: quando deixaremos os cães em paz?
Nos homens a glória da predação é alcançada pela conquista do prémio, nos cães pela captura da presa. O condicionamento da captura estabeleceu a dependência e tudo acontece por substituição, numa política de suserania, onde a arte de ludibriar, sendo aguçada, é por demais evidente. Os cães não se agradam de medalhas e não consultam o ranking, não se emocionam com taças e não se inebriam com o relato de façanhas, concorrem apenas pelo agrado que lhes garante o sustento. Haverá honestidade nisto?
Como o homem é prisioneiro das suas vaidades, para se sentir bem, necessita da aprovação geral, e quando isso não acontece, envereda por medidas extraordinárias para vencer a frustração. Os diferentes jogos, inclusive os de sorte e azar, são alimentados pela esperança na procura desenfreada pela auto-satisfação. A privação da liberdade e o consequente isolamento têm obrigado alguns reclusos ao mais variado tipo de competições, que vão desde a luta de aranhas até à corrida de ratazanas.
É natural que indivíduos com estas características invadam e proliferem no mundo do adestramento, ainda andarão por cá mais algum tempo, porque os mais próximos dos cães são os que têm com eles maior afinidade, mercê da comunhão de instintos e da necessidade gregária, dando corpo à frase “ arbeit macht frei “, inscrita sobre o portão principal do Campo de Auschwitz.
Quando aos acossados pela competição falta perna, fôlego e arte, encontram nos cães asas, pulmão e garra para seguir adiante, coisa impossível de acontecer se competissem entre iguais. Tal qual maus generais, vivem na esperança da vitória e a derrota raramente é da sua responsabilidade. Acoitados atrás dos cães, alimentam emoções e sentimentos que diariamente são obrigados a ocultar. A felicidade dos condutores deverá ser paga pelo esforço dos animais? Será estultice estabelecer o paralelo entre exclusão social e animais de companhia? Que significado atribuiremos à frase: quanto mais conheço as pessoas, mais gosto dos animais?
Na sociedade civil, os cães não devem ser usados para o recrutamento de milícias, constituir-se em outdoor para a subversão ou contribuir para o terrorismo urbano. E porque isso vem acontecendo, a verdadeira “guerra” já estalou, fala-se em holocausto canino e julga-se o grosso de várias raças pelo comportamento de meia dúzia de indivíduos. Poderá um alienado promover a sociabilização do seu cão? No nosso entender, os cães não devem ser pomo de discórdia, mas um subsídio para a unidade e uma ocasião para a paz.
É evidente que os cães são competitivos entre si, que à semelhança dos homens, desejam ocupar o lugar mais confortável na hierarquia, espreitando ocasião e carregando sobre os mais fracos. Por outro lado, somos conhecedores da relação ambição-competição, a isso deve o mundo o seu progresso. O que condenamos é ambição desmedida, aquela que sendo cega e selvagem, nada respeita e tudo subjuga, causa infelicidade e não se importa. Como nos importamos com os cães, entendemos o adestramento como uma extensão do seu bem-estar.
A sociabilização, o robustecimento físico e psicológico, o estabelecimento da parceria, a coabitação harmoniosa no lar e na sociedade, são metas de um só objectivo: a salvaguarda canina. Apostamos na qualidade de vida e na longevidade dos cães, ensinando-lhes meios de sobrevivência e subsídios de auto-defesa. Este deve ser o contributo do racional para o irracional, nisto se baseia o nosso adestramento. Na comunicação inter-espécies quem deve ser colocado à prova é o dono, enquanto protector, líder e emissor da mensagem, porque a qualidade de um cão sempre espelhará a excelência do seu mestre. Já é tempo de libertar os cães dos trenós, de abandonar os ataques à dentada, de isentá-los das competições e de os soltar das correntes. Deixem-nos ser felizes, eles querem estar ao nosso lado.
Quando sou obrigado a pesquisar, comparando os manuais cinotécnicos mais antigos com os recentes, delicio-me com a evolução dos conceitos, cativos à contribuição da etologia e mais próximos do bem-estar canino. Contudo, quando medito friamente sobre o assunto, a tristeza invade-me, porque toda a cinotecnia visa a exploração canina, ainda que o faça por meios menos coercivos ou persuasivos, porque será sempre o homem a legitimar o uso e nunca o parecer animal. Assim, o contributo da erudição é usado para a eficácia do domínio, na procura de melhores meios para o alcance do mesmo fim.
A alteração de métodos não encobre o especicismo, não procura a sua abolição e dá azo a novos usos. Se subtrairmos a sobrevivência animal do adestramento, o resultado denunciará os nossos propósitos e revelará o nosso endeusamento. E neste sentido, o fim terapêutico canino não é excepção, porque é um remédio ao alcance de qualquer um. Pergunto-me: quando deixaremos os cães em paz?
Nos homens a glória da predação é alcançada pela conquista do prémio, nos cães pela captura da presa. O condicionamento da captura estabeleceu a dependência e tudo acontece por substituição, numa política de suserania, onde a arte de ludibriar, sendo aguçada, é por demais evidente. Os cães não se agradam de medalhas e não consultam o ranking, não se emocionam com taças e não se inebriam com o relato de façanhas, concorrem apenas pelo agrado que lhes garante o sustento. Haverá honestidade nisto?
Como o homem é prisioneiro das suas vaidades, para se sentir bem, necessita da aprovação geral, e quando isso não acontece, envereda por medidas extraordinárias para vencer a frustração. Os diferentes jogos, inclusive os de sorte e azar, são alimentados pela esperança na procura desenfreada pela auto-satisfação. A privação da liberdade e o consequente isolamento têm obrigado alguns reclusos ao mais variado tipo de competições, que vão desde a luta de aranhas até à corrida de ratazanas.
É natural que indivíduos com estas características invadam e proliferem no mundo do adestramento, ainda andarão por cá mais algum tempo, porque os mais próximos dos cães são os que têm com eles maior afinidade, mercê da comunhão de instintos e da necessidade gregária, dando corpo à frase “ arbeit macht frei “, inscrita sobre o portão principal do Campo de Auschwitz.
Quando aos acossados pela competição falta perna, fôlego e arte, encontram nos cães asas, pulmão e garra para seguir adiante, coisa impossível de acontecer se competissem entre iguais. Tal qual maus generais, vivem na esperança da vitória e a derrota raramente é da sua responsabilidade. Acoitados atrás dos cães, alimentam emoções e sentimentos que diariamente são obrigados a ocultar. A felicidade dos condutores deverá ser paga pelo esforço dos animais? Será estultice estabelecer o paralelo entre exclusão social e animais de companhia? Que significado atribuiremos à frase: quanto mais conheço as pessoas, mais gosto dos animais?
Na sociedade civil, os cães não devem ser usados para o recrutamento de milícias, constituir-se em outdoor para a subversão ou contribuir para o terrorismo urbano. E porque isso vem acontecendo, a verdadeira “guerra” já estalou, fala-se em holocausto canino e julga-se o grosso de várias raças pelo comportamento de meia dúzia de indivíduos. Poderá um alienado promover a sociabilização do seu cão? No nosso entender, os cães não devem ser pomo de discórdia, mas um subsídio para a unidade e uma ocasião para a paz.
É evidente que os cães são competitivos entre si, que à semelhança dos homens, desejam ocupar o lugar mais confortável na hierarquia, espreitando ocasião e carregando sobre os mais fracos. Por outro lado, somos conhecedores da relação ambição-competição, a isso deve o mundo o seu progresso. O que condenamos é ambição desmedida, aquela que sendo cega e selvagem, nada respeita e tudo subjuga, causa infelicidade e não se importa. Como nos importamos com os cães, entendemos o adestramento como uma extensão do seu bem-estar.
A sociabilização, o robustecimento físico e psicológico, o estabelecimento da parceria, a coabitação harmoniosa no lar e na sociedade, são metas de um só objectivo: a salvaguarda canina. Apostamos na qualidade de vida e na longevidade dos cães, ensinando-lhes meios de sobrevivência e subsídios de auto-defesa. Este deve ser o contributo do racional para o irracional, nisto se baseia o nosso adestramento. Na comunicação inter-espécies quem deve ser colocado à prova é o dono, enquanto protector, líder e emissor da mensagem, porque a qualidade de um cão sempre espelhará a excelência do seu mestre. Já é tempo de libertar os cães dos trenós, de abandonar os ataques à dentada, de isentá-los das competições e de os soltar das correntes. Deixem-nos ser felizes, eles querem estar ao nosso lado.
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