Lá, por onde andaram franceses e
ingleses pelo domínio da Europa no Séc.XIX, numa localidade onde os seus
moradores insistem em trocar a acentuação tónica do seu nome, num sítio remoto,
nada convidativo e mal apetrechado, assistimos ao regresso do soldadinho de
chumbo, quiçá tornado efeméride por força do seu passado histórico. Estamos a
referir-nos ao uso e abuso do “quarto de volta” na disciplina de obediência
canina, como se tal fosse premente, insubstituível ou carregasse vantagens
nunca vistas. O movimento, tornado ali em “ordem unida”, lembra as
intermináveis filas para o recebimento do “pré”, muito embora a continência
acabe substituída pelo ajustar do cão com a mão.
Ainda que o movimento requerido tenha
como objectivo a fixação do “alto, do “junto” ou a fixação exclusiva do cão na
pessoa do seu condutor, já há muito que se descobriram modos mais eficazes e
céleres para esses propósitos, tais como o recurso ao reforço positivo e a
instalação do “meia-volta”, muitas vezes codificado como “volta” ou “roda” de
acordo com o comando alemão “zurück”. O “quarto de volta”, quando
usado sistematicamente, tende ao aumento do travamento e a contribuir para uma
autonomia condicionada pouco visível e nalguns casos piegas, ficando isso a
dever-se aos diferentes perfis psicológicos presentes nos cães. A somar a isto,
porque o ensino canino é dinâmico, exige celeridade no cumprimento das ordens,
procura a minimização do esforço humano e a maximização do esforço animal, não
dispensando por isso a velocidade funcional inerente aos diferentes serviços a
prestar pelos cães, o “quarto de volta” acaba por atentar contra tudo isto, o
que de todo não é desejável.
É evidente que cada qual dentro da sua
casa é rei e isso deve ser respeitado, no entanto e porque começámos por uma
evocação histórica, interessa-nos manter o mote e usá-lo para uma melhor
compreensão da problemática ligada à insistência no “quarto de volta”, evolução
típica dos imóveis soldadinhos de chumbo que a foram beber aos exércitos
regulares no apogeu da Revolução Francesa. Por culpa dos espanhóis que
inventaram a guerrilha (do castelhano guerrilla: pequena guerra), o modo de
guerrear alterou-se e a partir daí a derrota dos Franceses consumou-se na
Península Ibérica. Exceptuando a praxis de alguns membros da histórica e
extinta escola alsaciana, não sabemos se alguma vez o “quarto de volta” fez
parte do currículo base da obediência a ministrar a um cão, mas se isso
aconteceu algum dia, foi lá para os primórdios dos cães de utilidade e muito
antes da II Guerra Mundial, porque a partir daí tal nunca foi visto, já que as
inversões do sentido de marcha sempre aconteceram de modo mais pronto pela
“meia-volta” e resolvidos os “quartos” pelo auxílio do “junto”, nomeadamente nas
evoluções de “direita e esquerda volver”, comandos militares e por isso
mesmo distantes das práticas civis.
Assim
como o “troca” (tauschen) exige nos ensinos dinâmico e nuclear modos mais
céleres que não dispensam a rotação de tronco que possibilita a condução a duas
mãos direccionais, também o “quarto-de-volta” deverá ceder lugar a outras
formas de “junto” que garantam o mesmo propósito (o “junto instantâneo” por
pirueta ou o confirmado a partir do ladear). Assim como a prontidão dos ataques
deve ser igual à sua cessação, também qualquer imobilização deverá garantir a
partida automática para a acção. O uso abusivo das figuras de imobilização,
muitas vezes usurpando o lugar da ginástica nos 1º e 2º Ciclos Infantis (dos 4
aos 6 meses e dos 6 aos 8 meses), tem funcionado como um inibidor da velocidade
e castrado muitos cães para um conjunto de acções necessárias às restantes
disciplinas cinotécnias, inutilizando assim a sua vocação, propensão natural,
mais-valia e complementaridade. Por outro lado, o abuso da toada “alto e pára”
que o “quarto-de-volta" propicia acabará por enfraquecer os impulsos herdados
que garantem a defesa do dono e dos seus bens, particularmente na sua ausência,
graças à exagerada submissão operada que obstará a qualquer autonomia pretendida.
E como importa dar a cada um o que é seu e a César o que é de Cesar, os adeptos
do “quarto-de-volta” deveriam uniformizar os seus alunos com fardas de cotim ao
invés dos comuns fatos de treino.
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