Temos como experiência que o que é bom nunca se perde e que actualmente apenas 2% dos cães ditos para guarda o virão a ser de facto, daqueles capazes de aguentar um ataque de intensidade igual ou superior àquele que causam e ainda contra-atacar. Já depois da II Guerra Mundial, na transição do cão de guerra para o policial, mercê dos exageros e de uma maior consciência por parte dos cidadãos dos seus direitos e dos direitos dos animais, a selecção de cães sofreu profundas alterações, optando-se pela substituição do ataque deliberado pelo provocado ou instigado, substituindo-se a valentia que apenas necessitava de travamento por um maior impulso ao conhecimento nos cães ditos de utilidade policial. Com a entrada em vigor das recentes leis relativas aos cães perigosos na Europa, muitas raças acabaram desprezadas e o seu número diminuiu significativamente, acontecendo em simultâneo a eliminação de algumas variedades cromáticas mais propensas à agressividade dos estalões aos quais pertenciam até então (tal é o caso dos cães vermelhos irremediavelmente afastados da construção da maioria dos molossos e lupinos actuais). Salvou-se o Malinois, um cão que não necessita de maiores trabalhos para se lançar e usar os dentes, porque tal lhe é instintivo e por isso mesmo automático, pese embora o facto de ter uma baixa potência de mordedura e de dificilmente aguentar um contra-ataque sério, valendo pela surpresa e força de impacto, considerando o carácter imprevisto dos seus ataques e a velocidade que lhes imprime. No entanto, subsistem por cá alguns exemplares ditos desta raça de oriundos do Leste, apimentados de tudo um pouco e com diferente disposição de dentes, tipo de mordedura e díspar conformação de focinho entre si. Pondo de parte a excepção que ao Malinois pertence, a maioria dos cães aproveitados para guarda é-o por força da indução que aproveita os impulsos herdados que sustentam um desempenho mais ou menos satisfatório, desempenho esse que será melhor ou pior alcançado pelos pilares da simulação que se irão constituir em experiência directa (treino aturado e experiência feliz: o cão parte na certeza da vitória). Infelizmente temos constatado que o aforismo popular “quem tem medo compra um cão” não perdeu a sua actualidade e tende a perpetuar-se, apesar de aos medrosos, em abono dos cães, não lhes ser recomendável tal aquisição, porque invariavelmente morrem de medo dos seus próprios companheiros e acabam por esfrangalhá-los, temendo pelo dolo que eventualmente possam causar-lhes. Vezes sem conta e ao longo dos anos temos ouvido a sentença: “se o meu cão me morder, só o fará uma vez porque de imediato o matarei!” Para além dos medrosos que desde cedo carregam nos cachorros abusivamente, rebentando desse modo parcial ou totalmente os impulsos herdados inerentes à prestação que lhes é requerida, também aos coléricos e impacientes falta o tacto e a liderança necessários à sã capacitação dos cães, porque não raramente são parcos na paciência que induz ao esmero e à concentração dos seus auxiliares. Tanto uns como outros, inadvertidamente, tendem a molhar a sopa, a agredir os animais violentamente perante dificuldades de comunicação, respostas erradas ou pretensos disparates, entornando assim o caldo que sujeitará os cães à rendição, experiência que lhes será fatal diante de confrontação e frente a invasores violentos. A última coisa a que se deve induzir um guardião é à rendição, porque tal é impróprio aos cães de guarda e enterra de uma vez por todas a cumplicidade que é exigida a um binómio, já que a alma do cão provém da vontade do dono e o bicho parte na certeza do apoio do seu condutor. Como seria bom que a Lei exigisse a todos os proprietários de cães um atestado de sanidade mental. Com isso evitar-se-iam muitos disparates, práticas clandestinas, um sem número de vítimas e muitos animais seriam poupados aos maus-tratos
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