segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

MOLHAR A SOPA E ENTORNAR O CALDO: A RENDIÇÃO DO CÃO DE GUARDA

Temos como experiência que o que é bom nunca se perde e que actualmente apenas 2% dos cães ditos para guarda o virão a ser de facto, daqueles capazes de aguentar um ataque de intensidade igual ou superior àquele que causam e ainda contra-atacar. Já depois da II Guerra Mundial, na transição do cão de guerra para o policial, mercê dos exageros e de uma maior consciência por parte dos cidadãos dos seus direitos e dos direitos dos animais, a selecção de cães sofreu profundas alterações, optando-se pela substituição do ataque deliberado pelo provocado ou instigado, substituindo-se a valentia que apenas necessitava de travamento por um maior impulso ao conhecimento nos cães ditos de utilidade policial. Com a entrada em vigor das recentes leis relativas aos cães perigosos na Europa, muitas raças acabaram desprezadas e o seu número diminuiu significativamente, acontecendo em simultâneo a eliminação de algumas variedades cromáticas mais propensas à agressividade dos estalões aos quais pertenciam até então (tal é o caso dos cães vermelhos irremediavelmente afastados da construção da maioria dos molossos e lupinos actuais). Salvou-se o Malinois, um cão que não necessita de maiores trabalhos para se lançar e usar os dentes, porque tal lhe é instintivo e por isso mesmo automático, pese embora o facto de ter uma baixa potência de mordedura e de dificilmente aguentar um contra-ataque sério, valendo pela surpresa e força de impacto, considerando o carácter imprevisto dos seus ataques e a velocidade que lhes imprime. No entanto, subsistem por cá alguns exemplares ditos desta raça de oriundos do Leste, apimentados de tudo um pouco e com diferente disposição de dentes, tipo de mordedura e díspar conformação de focinho entre si. Pondo de parte a excepção que ao Malinois pertence, a maioria dos cães aproveitados para guarda é-o por força da indução que aproveita os impulsos herdados que sustentam um desempenho mais ou menos satisfatório, desempenho esse que será melhor ou pior alcançado pelos pilares da simulação que se irão constituir em experiência directa (treino aturado e experiência feliz: o cão parte na certeza da vitória). Infelizmente temos constatado que o aforismo popular “quem tem medo compra um cão” não perdeu a sua actualidade e tende a perpetuar-se, apesar de aos medrosos, em abono dos cães, não lhes ser recomendável tal aquisição, porque invariavelmente morrem de medo dos seus próprios companheiros e acabam por esfrangalhá-los, temendo pelo dolo que eventualmente possam causar-lhes. Vezes sem conta e ao longo dos anos temos ouvido a sentença: “se o meu cão me morder, só o fará uma vez porque de imediato o matarei!” Para além dos medrosos que desde cedo carregam nos cachorros abusivamente, rebentando desse modo parcial ou totalmente os impulsos herdados inerentes à prestação que lhes é requerida, também aos coléricos e impacientes falta o tacto e a liderança necessários à sã capacitação dos cães, porque não raramente são parcos na paciência que induz ao esmero e à concentração dos seus auxiliares. Tanto uns como outros, inadvertidamente, tendem a molhar a sopa, a agredir os animais violentamente perante dificuldades de comunicação, respostas erradas ou pretensos disparates, entornando assim o caldo que sujeitará os cães à rendição, experiência que lhes será fatal diante de confrontação e frente a invasores violentos. A última coisa a que se deve induzir um guardião é à rendição, porque tal é impróprio aos cães de guarda e enterra de uma vez por todas a cumplicidade que é exigida a um binómio, já que a alma do cão provém da vontade do dono e o bicho parte na certeza do apoio do seu condutor. Como seria bom que a Lei exigisse a todos os proprietários de cães um atestado de sanidade mental. Com isso evitar-se-iam muitos disparates, práticas clandestinas, um sem número de vítimas e muitos animais seriam poupados aos maus-tratos

QUE SE EXPLODA!

Gostaríamos que o episódio que vamos narrar nunca tivesse acontecido, que fosse obra de ficção ou uma simples parábola. Infelizmente a história é verdadeira, repete-se vezes sem conta e tarda em desaparecer. Ao anoitecer um jovem sai com a sua cachorrinha à rua, não se vê vivalma, a noite cai serena e a escuridão impera. Deliciados pela companhia um do outro, homem e cachorra circulam felizes, atrelados e entregues à afeição que os une, felizes pelo trajecto comum na evasão que ele oferece. Inesperadamente e vindos não se sabe donde, surgem cinco cães caçadores, quatro bracos alemães e um epagneul breton, que de imediato se lançam sobre a cachorrinha atrelada de 4 meses, atacando-a em matilha e furiosamente, como se de uma espécie cinegética se tratasse. Apesar dos esforços do dono (aflito, desarmado e surpreso), que em vão tenta afastar os predadores, os ataques sucedem-se, um atrás do outro e cada um deles pior do que o primeiro. De barriga para o ar e totalmente vulnerável, a pobre cachorra suporta todas as investidas, o seu dono temendo o pior, opta por gritar e pede socorro. O caçador quebra o silêncio e finalmente chama os cães, sem tão pouco se inteirar ou interessar pelo estado da pobre cachorra, numa atitude clara de indiferença do tipo “que se exploda!” Milagrosamente a cachorrinha sobrevive, sujeita a umas quantas costuras e à perfuração dos pulmões. Contudo o seu estado é crítico e o seu internamento torna-se urgente. Encontra-se agora em recuperação e indicia que irá recuperar, oxalá que completamente. O caçador nunca se fez presente, apesar de morar perto do proprietário da desafortunada convalescente. Exactamente por ser vizinho e querer salvaguardar uma política de boa vizinhança, o proprietário da cachorra não apresentou queixa, o que nos soa a estranho atendendo aos seus direitos, à gravidade dos ferimentos infligidos e ao bem-estar dos demais cães nas redondezas. Em situações como a ocorrida, dependendo da idade e do particular de cada animal (sexo, robustez e estado físico), desde que daí não resulte maior dano para os cães tornados vítimas, aconselha-se que se peguem os cachorros ao colo perante ataques deste género e que desatrelem os adultos para melhor se defenderem. Em qualquer dos casos, porque estamos perante a investida instintiva de uma matilha animal e em desvantagem numérica, os proprietários dos cães constituídos em presa deverão auxiliar os seus companheiros no contra ataque, respondendo às agressões com uma intensidade igual ou superior àquela de que eventualmente virão a ser vítimas, o que infelizmente não está ao alcance de qualquer um. Um condutor mais experimentado conseguirá identificar qual o cão indutor aos ataques, o despoletador das acções, escolhendo-o como alvo da sua resposta, o que naturalmente e após o dolo infligido levará à debandada do grupo. De qualquer modo e atendendo às possíveis consequências ou transtornos de vária ordem, convém que a escolha dos percursos prà excursão binomial não reserve surpresas tanto para homens como para cães. Primeiro há que reconhecer o terreno e aquilatar os riscos, tarefa melhor alcançada durante o dia. Circular em áreas bem iluminadas possibilita uma defesa mais atempada, pronta e apropriada, já que os perigos de emboscada são menores. Todo e qualquer percurso deverá permitir uma visibilidade mínima de 50 metros ao seu redor e em todas as direcções, o que só por si conseguirá dissuadir o ataque de um ou mais submissos, normalmente a trabalhar na frente do cão dominante, carenciados de camuflagem e peritos em ataques de surtida. Aqui como na vida, mais vale prevenir do que remediar.

TOMA LÁ, DÁ CÁ: O CÃO DE MÃO EM MÃO

Como o que é dado não custa a ganhar, muitos dos cães adoptados acabam nas mãos de quem não os resgatou, arcando estes com a responsabilidade dos ímpetos ou desejos doutros, seus parentes, amigos ou conhecidos. Recentemente uma jovem foi buscar a um canil de adopção um cachorro dito mestiço de Pastor Alemão com Rafeiro Alentejano. A paixão pelo animal desfez-se em dois meses e meio, porque o diabrete não parava quieto, não gostava de estar sozinho, tudo roía e os estragos começavam a avultar-se. Segundo nos fizeram saber, foi recambiado para a quinta de uns parentes lá na província, para um lugar mais amplo e por onde andará à vontade sem causar maiores transtornos. É caso para se dizer: para grandes males, grandes remédios! Queira Deus que vá para melhor e que ali permaneça feliz para sempre, o que raramente acontece e pode acabar da pior forma para os desgraçados dos animais sujeitos a este fado (abandonados mais uma vez, atropelados, envenenados, electrocutados, abatidos na caça, entregues ao bom serviço dos canis terminais municipais, etc.). Até quando trataremos os cães como trapos que não usamos? Pior do que isto só as mães que abandonam os próprios filhos! Pense bem antes de adoptar um animal, veja se tem condições para o ter e informe-se primeiro, pois ele é um investimento para uma dezena de anos (no mínimo).

A SÍNDROME DO CÃO QUE EU TIVE

Mal vai o cão cujo dono pensa noutro que já teve e não vê no actual o muito que ele tem para dar, porque sempre será julgado por comparação e ver-se-á obrigado a ser aquilo que não é. É do conhecimento geral que não existem dois cães iguais e com rara propriedade o confirmarão os criadores votados à endogamia, porque por mais idênticos que sejam os animais produzidos, sempre subsistirão algumas diferenças pelo peso da individualidade. O apego declarado ao cão que já se foi tende a menosprezar o rendimento do recentemente adquirido, porque as diferenças obrigam à novidade de procedimentos e a disponibilidade operacional do dono, traído pela afeição e ávido de um clone autêntico, não será certamente a desejável, o que condenará o trabalho do cão ao sub-rendimento, a um aproveitamento parcial e à obtenção de respostas artificiais de difícil instalação. Este fenómeno é visível nos condutores que no passado tiveram em mãos um cão excepcional ou tido como excepcional, normalmente produto do trabalho alheio que não reclamou do dono grande empenho ou esforço em demasia. Graças à bitola do dono, presa ao passado, imprópria e alheia ao cão, o animal tornar-se-á evasivo, desatento e pouco interessado, factores advindos da ausência dos verdadeiros afectos que tarde ou nunca lhe chegam. A relação entre ambos dificilmente chegará à cumplicidade e o bicho enveredará justificadamente por tarefas a modo próprio, tornando-se desatento para aquelas que lhe serão solicitadas. O mundo do adestramento tem o seu esqueleto nos afectos, tanto que a mão que acaricia é ordinariamente a mesma que despoleta a ordem e é seguida. Como nenhum ânimo é válido se provir do desgosto ou desalento e o carácter dinâmico do adestramento assenta sobre o aproveitamento da novidade, importa alertar tais donos e convidá-los para a unicidade e mais-valia dos cães que conduzem, colocados à sua disposição e sedentos por apresentar trabalho. Ensinar cães é semear esperança nos condutores, despertá-los para a realidade e fomentar-lhes a parceria. E nisto que Deus nos conserve!

OUTRA VEZ NATAL

Estamos de novo às portas do Natal, num advento que nos renova a esperança e induz à fraternidade. Celebrar esta época festiva do calendário litúrgico cristão é viver na certeza que a nossa salvação já foi alcançada pelo Deus Menino cujo nascimento agora celebramos, um Deus que se fez homem, que pagou com a vida o preço das nossas iniquidades e que ao ressuscitar nos foi preparar lugar, garantindo-nos unicamente pelo seu sacrifício a vida eterna e a eterna comunhão com Deus. A celebração do nascimento do nosso Salvador, para além do uso ou proveito que cada um lhe dará, implica em reconhecer pela Fé, também ela mérito divino semeado no coração dos homens, que para além da morte à vida, que aqueles que n’Ele crêem serão consolados, que temos um Deus connosco e que sempre nos guiará até ao Pai. Celebrar o Natal é viver na certeza de que não estamos sós, que um Salvador nos nasceu e que a nossa redenção foi alcançada. Que o presente Natal acalente os corações dos nossos leitores, semeie a esperança entre os desesperados, conforte os abatidos, induza ao perdão e despolete a solidariedade entre os homens. Estamos a chegar ao final deste ano e a aproximar-nos do vindouro, altura certa para a despedida do redactor deste blog, que ao longo de 33 meses sorveu convosco o amor pelos cães, dividiu experiências e indicou soluções em prol da melhor comunicação entre os homens e o seu animal de eleição. Oxalá tenha conseguido. Feliz Natal para todos!