Os irreflectidos, pelo que são, sempre andarão com
um pedido de desculpas na boca, apesar de não “darem a mínima” ou não se
aperceberem da insanidade em que incorrem, dominados pelo hedonismo que os guia
e suportados pela paciência dos outros. Essa incapacidade que os leva a não
antever as situações e os impede de vislumbrar de imediato as repercurssões do
seu comportamento sempre os acompanhará e sempre serão surpresos, dizendo-se
vítimas do infortúnio ou das circunstâncias, relegando para o acaso o peso das
negligência que a imaturidade não esconde, porque se comportam como
adolescentes, que exigem ser tratados como adultos e procedem como crianças.
Determinado cavalheiro, proprietário de um lupino a
rondar os 40 kg, apostado em relaxar, decidiu ir fazer um piquenique para um
jardim público, tirando partido de um bonito dia ensolarado. Uma vez instalado,
prendeu o seu cão numa árvore próxima e prontificou-se a dividir o repasto com
a sua companheira, já que apetite não lhes faltava. Depois de saciados,
espreguiçaram-se na relva tal qual inglês em dia sem nevoeiro e decidiram
relaxar. Pelo canto do olho, o homem vê aproximar-se um pequeno cão em direcção
ao seu, facto que não o preocupou em demasia por o ter preso à árvore. Breves
segundos depois, a escaramuça acontece e o pequeno cão solto acaba com um
buraco no “casaco”, porque o lupino, elevando-o no ar, rapidamente o sacudiu,
quando o incauto violou o seu território e ficou ao seu alcance.
É evidente que o dono do cão pequeno tinha-o solto,
tão evidente como o lupino vir a ser considerado um cão perigoso, uma vez que
atacou outro cão e a Lei não lhe permite tal. Todos sabemos que a maioria dos
lupinos são territoriais e não vêm com bons olhos a invasão do seu território,
guardando por isso mesmo o espaço que lhe é destinado e os pertences que lhe
são confiados, o que obriga os seus donos ao cuidado redobrado quando no
exterior, perante incautos invasores e diante de toda a casta de provocadores
acidentais, que julgam todos os cães iguais, não lhes reconhecendo qualquer
diferença.
O incidente depressa foi sanado e não foi preciso
chamar a polícia, o que cada vez é mais raro, porque os cinófobos estão em alta
e os ânimos andam exaltados. Não obstante, o dono do cão ferido lá soltou:
“Tanto treino para quê?”, o que não seria nada abonatório para qualquer escola,
caso o lupino frequentasse alguma, porque colocaria em cheque o seu préstimo e
bom nome. Hoje, exactamente como fazemos na estrada, temos que contar com os
erros dos outros, sabendo que o perigo espreita e o disparate busca ocasião. O
dono do cão-pastor, ao invés de esperar para ver, deveria ter travado o seu cão
e alertado o proprietário do outro para o perigo que corria. Certamente confiou
na sorte e acabou por ter azar! Se a
irreflexão fôr azar, então os irreflectidos sempre serão tremendamente
azarentos, dignos de dó pela sua má fortuna. Advirá isso de uma menos valia
genética? Alguém deverá saber se sim ou não!
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