sexta-feira, 26 de julho de 2013

LUTO CANINO: REALIDADE OU MITO

Falar sobre cães é falar sobre indivíduos, tarefa que não é fácil atendendo às diferenças existentes dentro das mesmas raças ou grupos somáticos. O facto dos cães substituirem facilmente instintos por rotinas assimiladas também em nada ajuda, porque muitas vezes não sabemos se as suas reacções são espontâneas ou condicionadas, naturais ou fruto da coabitação com os seus donos (ambientais). E porque estamos a falar de comportamento, os diferentes grupos somáticos caninos actuam de modo diverso consoante o objecto para que foram criados, tipo de relacionamento e particular habitacional. Por isso sempre será mais fácil estudar os dingos ou qualquer outro canídeo selvagem. A ciência só agora se está a debruçar afincadamente sobre esta matéria, as respostas são vagas e os novos cientistas, na sua maioria, não privaram de perto ou não tiveram o privilégio da companhia de um cão, antes da sua formação académica (só há pouquíssimo tempo conseguiram provar e concluir que lobos domésticos também possuem emoções e sentimentos).
Se entendermos o luto como um conjunto de reacções a uma perda significativa, teremos que reconhecer, em simultâneo, que quanto maior fôr o apego ao ser desaparecido maior será o sofrimento de luto, muito embora ele possa também acontecer diante da perca de privilégios, condições e regalias, enquanto desgosto manifesto em rara infelicidade. Sobre este último caso, lembramo-nos dum Pastor Alemão que costumava dormitar debaixo dum salgueiro-chorão (salix babylonica) e adormecer na companhia dos passarinhos. Em determinada ocasião, cumprindo ordens, o jardineiro da casa podou a árvore até a deixar careca (sem folhas), para arranjar espaço para o estacionamento das viaturas familiares. Durante alguns dias o pobre cão sentava-se defronte do salgueiro, por tempo considerável, perplexo e abatido. A sua alegria acabou por voltar na Primavera seguinte. 
Os cães tornados de “trabalho” são mais ligados aos donos do que aqueles que são jogados em quintas, sofrendo em demasia quando os donos desaparecem, podendo inclusive enveredar pela letargia, não resistir ao luto e morrer poucos dias depois. Há quatro décadas atrás assistimos à morte dum cão militar num canil de abrigo que pura e simplesmente deixou de comer e beber, apesar de ter um habitáculo só para si e de tudo ser feito para o salvar (prò bem dos cães, convém que aceitem a autoridade e liderança de uma segunda pessoa, porque tal pode salvar-lhes a vida). 
Os cães de caça e os territoriais, pese embora as diferenças de prestação e comportamento, tendem a um luto prolongado, os primeiros porque perdem a liderança e os segundos porque lhes falta o amigo. Mais tarde, confusos, irão desinteressar-se do serviço que desempenharam até ali, podendo rebelelar-se como acontece com os dominantes ou simplesmente desinteressar-se como é próprio dos submissos. Os cães toys ou miniatura, mercê da necessidade constante de protecção e de múltiplos cuidados, que os reveste e investe de um estatuto quase humano, tendem a um luto bastante sofrido e pungente. E o que dizer dos poodles e dos borders, cujo luto não escapa à vista de ninguém?
Esse enorme sentimento de perca que convencionámos chamar de luto, tem sido responsável por caminhadas intermináveis na procura da casa ou dos donos, algumas bem sucedidas e outras não, havendo alguns cães que sucumbiram durante o trajecto ou pouco tempo depois de regressarem ao local de partida, acontecendo isso por cansaço, desalento ou pela combinação de ambos. E porque estamos cá para aconselhar, se tem um cão territorial e trocou recentemente de casa, evite ausentar-se por muito tempo, porque a troca de território e a ausência da liderança podem induzi-lo ao luto. Não restando outro remédio, convém manter-lhe as rotinas e rodeá-lo dos seus pertences.

O luto canino não é um mito nem resulta de um engano ou esforço antropomórfico, ele existe e acontece todos os dias um pouco por toda a parte, quando algum cão perde algo que lhe é querido, o que pode induzi-lo à apatia e até a morte, casos destes não faltam!  Ao contrário do que sempre ouvimos, à guisa de compensação, assim como existem pessoas insubstituíveis, também existem cães e eles sabem muito bem quem lhes é benquisto e a quem devotam as suas vidas. Nos cavalos reconhecemos nobreza e nos cães gratidão, a ambos muito deve o homem. Apesar disso, o luto do cavalo será menos duradouro do que o do cão, porque a parceria é diversa e o último contiunará a fazer tudo para nos agradar, desnecessitando de freio, gamarra  ou esporim, ele vai para além do “sol,campo e palmada na garupa”, pois insisite em viver ao nosso lado. Porque carga de água fomos “inventar” o cão?

Sem comentários:

Enviar um comentário