sexta-feira, 26 de outubro de 2018

PÔ-LA NA RUA PORQUE SÓ FAZIA DISPARATES!

Relembro aqui a primeira estrofe do poema “PEDRA FILOSOFAL” da autoria de MANUEL FREIRE que diz assim: “Eles não sabem que o sonho/ É uma constante da vida/ Tão concreta e definida/ Como outra coisa qualquer”, como introdução à ignorância dos donos que atenta contra a natureza, bem-estar e aproveitamento dos cães. Determinada senhora, amante de cães mas não da trabalheira que eles dão, depois de adquirir uma cachorra e perante os disparates que ela fazia dentro de casa, decidiu recambiá-la durante o dia para o quintal e de noite para um anexo, numa idade em que o animal não estava capacitado para o efeito, não sabia defender-se nem tinha maturidade para isso. Não sei se aforismo que ouvi na minha aldeia natal, “Ao menino e ao borracho, mete Deus a mão por baixo”, se aplica também a cães, o que é certo é que a cachorra, afortunadamente, não ficou traumatizada, tornando-se autónoma muito cedo e apenas disponível para aquilo que lhe agradava, conforme o expectável.
Havendo essa possibilidade, quando poderei transitar o meu cão de casa para o jardim? Machos e fêmeas merecem cuidados diferentes? Quem nos irá dizer quando mudar o cão de um lado para o outro é o próprio animal, quando começa a abandonar a companhia dos donos e a permanecer/dormir atrás da porta de entrada da casa, reagindo a sons inesperados e ladrando a desconhecidos. Também quando ele resiste a vir para casa e insiste em ficar no quintal. Esta decisão canina não acontece ao mesmo tempo em todos os indivíduos, porque todos têm perfis psicológicos diversos e diferentes curvas de crescimento, havendo em simultâneo valentes e medrosos, precoces e tardios, o que implica em dizer que alguns irão necessitar de mais tempo que os outros, de maior apoio e carinho da família adoptiva, para que o isolamento forçado não venha a “acabar com o resto”, tornando-os assustadiços e de pouco ou nenhum préstimo.
Gostava de chamar à atenção para três pormenores sobre esta temática: os cães que dormem junto dos donos tendem a defendê-los mais cedo, que sempre será mais fácil defender um pequeno espaço conhecido do que um grande e desconhecido e que os cães na companhia dos donos têm o dobro da força. A opção de ter uma cadela num quintal para guarda não é talvez a melhor, porque as cadelas tendem a fixar-se num lugar e são por isso pouco afoitas e menos excursionistas. Todavia, são excelentes guardiãs de lares. Quando eu tenho um casal de cães e nenhum deles apresenta entraves de carácter, pensando na segurança de pessoas e bens, a cadela deverá ficar dentro de casa e o cão no quintal. Devido ao seu género, as cadelas quando jogadas em quintas desde tenra idade ou forçadas ao isolamento, tendem a assilvestrar-se, a encontrar tocas e a parir em lugares menos visíveis e pouco prováveis.
Como deveria ter procedido e o que ganharia a senhora da nossa história se houvesse agido de modo contrário? Importa dizer em primeiro lugar que os cães mais curiosos são os que fazem mais “disparates” e que a curiosidade está ligada ao impulso ao conhecimento, pelo que os ditos disparates deverão ser entendidos como tropelias de quem se quer ambientar e conhecer o mundo que o rodeia. Ter um cão curioso é um privilégio que convém aproveitar, porque o animal aprenderá fácil e prontamente tudo aquilo que lhe vierem a ensinar, mostrando uma disponibilidade superior, o que é deveras importante para a coabitação e cumplicidade que possibilitam o seu uso consentâneo. Em face disto, a dona teria regrado com facilidade a cachorra e teria com ela uma cumplicidade única e útil. A coabitação da cachorra, para além de torná-la mais apta e solícita, pronta para agradar e satisfazer os pedidos da sua mestra, faria com que obedecesse mais prontamente ao que lhe viesse a ser ordenado, mercê da submissão obtida, possibilitando assim o seu controlo sem maiores delongas.
Os cachorros entre os 4 e os 6 meses de idade encontram-se na “idade da cópia”, período da sua vida em assimilam a hierarquia, quando desprezamos este curto e importante estágio que se estende até à maturidade sexual, para além de desaproveitarmos e desvalorizarmos os seus impulsos herdados, estamos gradualmente a afastar-nos dos cachorros e dar-lhes uma autonomia tangente à que teriam caso não tivessem dono. Convém dizer como acréscimo, que a plasticidade anatómica acompanha a intelectual e quem todos os estágios dos cães há metas e objectivos a atingir, porque doutro modo viveremos de acordo com as suas regras ou teremos que subjugá-los por meios mais persuasivos e até coercivos, o que toda a gente abomina e não deseja.

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