quarta-feira, 31 de outubro de 2018

FINALMENTE O ZEUS APRENDEU O “DEITA”

O dia acordou hoje cinzento, desagradável e com chuva miudinha, daquela que se diz ser “molha tolos” e que acaba por molhar todos, tolos e não tolos, da cabeça até aos pés. Apesar do aparente contratempo, a Svetlana juntou-se à Carla para mais uma sessão de treino canino, porque importava ensinar o “deita” ao Zeus, afinar o tri-comando básico à Bull Terrier Maggie e aos CPA’s Capo e Prada. Quando temos em mãos cachorros que se destinam a guardar pessoas e bens, nunca ensinamos o “deita” antes dos 6 meses de idade, temendo que a sobrecarga na disciplina da obediência acabe por neutralizar os instintos e os impulsos herdados a potenciar. Assim sucedeu também com o Doberman Zeus, agora com 8 meses de idade, que só foi convidado para o “deita” depois de aprovado nas distintas induções.
Maduro sexualmente, atleta e competitivo, o Doberman não se agradou de imediato da figura, resistindo a fazê-la por se sentir menos cómodo, demasiado travado e vulnerável. Depois de muita insistência e de igual número de tentativas, o cachorro terminou a aula a fazer o “deita” irrepreensivelmente, o que não o dispensa automaticamente da recapitulação doméstica. Para facilitar a vida à sua condutora, na obtenção deste comando de travamento, valemo-nos de uma mesa com 50cm de altura e de 1m2 de área. A Svetlana necessita de melhorar a sua técnica de condução, de se agarrar aos automatismos funcionais e aos procedimentos que os tornam possíveis, porque só assim conseguirá alcançar a sincronia entre os comandos verbais e os gestuais (convém não esquecer que o adestramento canino é também uma arte.
Dos três cães ao seu encargo para ensinar, a Carla optou por dedicar mais tempo à CPA cinzenta Prada, até há pouco tempo a convalescer dum tratamento por via de um descuido. A Prada é uma atleta de nomeada, não pára quieta nem dia nem de noite e é extremamente zelosa de tudo o que lhe pertence e não pertence, ao ponto de não deixar comer os restantes cães da casa, não hesitando em fazer guarda cerrada a comedouros e bebedouros. Convidada para o “Espelho de Solo”, executou os três comandos básicos de imobilização sem maiores dificuldades. A sua condutora tem melhorado significativamente a sua técnica, apesar de desatenta, de apresentar dificuldades entre o querer e o fazer e de manifestar uma disponibilidade física ainda insuficiente para as metas que pretende alcançar. Contudo, está a evidenciar maior aplicação e afinco, literalmente a trabalhar mais e melhor.
A Prada é descendente do famoso CPA negro Kyrios-Schwartz da Quinta do ABC e herdou dele características únicas que a tornam vigilante e por vezes demasiado sagaz. Por detrás daqueles olhos claros, típicos dos cães azuis que tendem a amedrontar os estranhos, esconde-se um animal ao mesmo tempo rústico, pouco visto e sempre atento. Na foto seguinte, com a Carla a mandá-la sentar, podemos aquilatar do magnetismo do seu olhar lupino, que nada indicia e tudo vê, que estando presente parece ausente.
Nas mãos do adestrador, que entende como chefe da matilha (macho-alfa), faz tudo depressa e bem, sem se distrair com os outros cães, sem fintar quem a conduz e sem fazer uso da manha, estratégica a que recorre para chantagear psicologicamente a sua dona, que não raramente acaba exausta e sedenta de um café e de um cigarro. Conduzir cães inteligentes que aproveitam os erros dos seus condutores para os ludibriar, jamais será uma tarefa fácil para condutores inexperientes, inconstantes e pouco aplicados.
Foi isto o que fizemos debaixo de telha, no último dia do mês de Outubro, véspera da Festum Omnium Sanctorum (Festa de Todos-os-Santos), que alguns por antecipação transformam no Dia dos Fiéis Defuntos (Dia de Finados ou Dia dos Mortos), rumando aos cemitérios e adornando-os com flores, num País de tradição católica onde o número de ateus é cada vez maior. Antigamente ainda se ia às igrejas por ocasião de baptizados, casamentos e funerais. Agora, com a baixa taxa de natalidade que temos, raros são os baptismos e os casamentos estão fora de moda. Sobram os funerais, cerimónias que não deixam saudades a ninguém e às quais se vai por obrigação. E por falar em mortos, a seguir ao “deita” vem o "morto”, figura importante para reforçar o sentido policial dos cães, que lhes permitirá descansar com um olho aberto e outro fechado, sempre prontos para passar da inacção à acção ao mais rápido possível. 

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